The transcription is a mix of personal anecdotes, information about the protagonist, Fiodor Akinfeyev, and a discussion about war. Fiodor is a young man from Irkutsk, Russia, who has dreams of becoming a famous scientist and a rockstar. He forms a band called Kiss Kiss Kids and falls in love with a girl named Irina. However, his life takes a turn when he is arrested and forced to join the Russian military in Ukraine. His current whereabouts and fate remain unknown. The transcription also touches upon the topic of war and the suffering it causes.
Ah, Rússia. O que eu adoro um bom Pelínca. Oh, oh, oh. Não se estejam a rir. Com este Pelínca eu sei que não terei problemas alturais com o magando do algoritmo do YouTube. Enfim. Ora viva! Sejam muito bem-vindos a mais uma aména cavaqueira. Já foram comprar os bilhetes para o concerto que o José Pinhal Postmortem Experience irão dar no festival Team Ilha que decorrerá entre 21 a 23 de julho no Parque Merendas da Ilha, no município de Pombal.
Não, devem estar à espera que esbote. Bom, hoje irei contar-vos a história de Fiodor Akinfeyev. Uma história de amor, de ciência e de rock and roll. Fiodor é um jovem de 21 anos que nasceu na cidade de Irkutsk, um dos principais centros urbanos da fria Sibéria. A sua cidade natal é famosa por, para além de registar das temperaturas mais baixas do planeta, ter sido o berço de um dos maiores bailarinos do mundo, Rudolf Nureyev. Mas vamos lá falar do nosso mundo.
Fiodor desde sempre mostrou-se ser um rapaz inteligente e curioso com o mundo que lhe rodeava. Em criança gostava de brincar na neve com os amigos e andar de trenó e de esquiar. Ainda mal caminhava e já acompanhava o pai nas pescarias no lago Baikal. Pescavam sobretudo salmão branco, muxum e esturjão. Sim, esse mesmo, o do caviar. Peixes que são a base para a stroganina que ele tanto adora. À medida que ia crescendo, para além das atividades ao ar livre, o adolescente Fiodor também foi jogador federado de hóquei no gelo, sendo um promissor guarda-redes do locomotivo Irkut.
Também gostava de dar asas ao seu conhecimento, devorando livros sobre ciência e fazendo experiências com o seu pai, que era professor de Química na escola secundária onde frequentou. Por sua vez, a mãe Natália era enfermeira num hospital estatal da cidade e cuidava muito bem de toda a família, sobretudo cozinhava a famosa stroganina que ele tanto adorava. Epá, vão mas é ao Google e vejam o que é aquele prato, pois eu não tenho palavras para descrever coisa tão estranha.
Enfim, o seu sonho era ser um cientista famoso e descobrir os segredos do universo, tal como o grande lutador Andrei Sakharov. Mas ele também tinha outro sonho, ser uma rockstar. E quem não quer ser, não é verdade? Ele adorava música, especialmente os Kiss Kiss, uma banda russa de punk rock que usava maquilhagem, roupas extravagantes e uma mensagem bem forte e direta, como o verdadeiro punk-pad. Ele tinha todos os discos, pósteres e revistas da banda. Aos 15 anos, por ter terminado o ensino básico numa média de ISS, a nota máxima atribuída na Rússia, os pais decidiram lhe oferecer uma guitarra elétrica.
Era uma Fender Jaguar, igualzinha a do Bate. Sim, porque o nosso jovem também era canhoto. Nela, passava horas a tocar e a cantar as músicas dos seus ídolos. Ele queria ser como eles, rebelde, ousado, divertido, radical e livre. Com mais quatro amigos, partilhava o mesmo gosto pela música, Igor, o baterista, Leonid, o baixista, Kátia, a teclista e Anastácia, a vocalista, formaram os Kiss Kiss Kids, em tributo à sua banda predileta. Os Kiss Kiss Kids, ensaiavam na garagem onde o pai do Fiodor costumava fazer experiências mecânicas com o seu velhinho lá da Laika, chegando a realizar pequenos concertos na escola e em bares alternativos da cidade.
Eles usavam maquilhagem e roupas inspiradas nos seus ídolos e imitavam os seus gestos e atitudes, fazendo sucesso na comunidade. Contudo, havia um problema. Fiodor era apaixonado pela Kátia, mas ela não correspondia ao seu amor. Ela só o via como um amigo e um colega de banda, estando apaixonada por outro rapaz, Sergei, o capitão da equipa de futebol da escola. Sergei era alto, forte e atlético. Ele jogava bem e tinha um ar de engatatão que correspondia à verdadeira figura de um raço putino, mas com muito melhor aspecto.
Com o desgosto, o nosso jovem desistiu do seu anseio de estudar na Universidade Mikhailo Lomonosov, só porque a Kátia e o Sergei se candidataram ao curso de Psicologia naquela instituição, evitando, segundo o próprio, possíveis encontros com aquele casal apaixonado pelas ruas da capital russa. Por isso, quando terminou o liceu com distinção, ele decidiu candidatar-se à Universidade Estatal de São Petersburgo, que também é uma das melhores instituições de ensino superior da Rússia. Sendo alma mater de gente tão ilustre como Lenin, Kerensky ou Aleksandr Stepanovich Popov, o inventor da antena e um dos pioneiros das transmissões via rádio, ele queria estudar Física e seguir os passos dos grandes cientistas russos, sendo ficado muito eufórico quando recebeu a carta de aceitação.
O nosso futuro cientista nunca tinha saído da sua cidade natal, por isso tudo era novo e excitante para ele. Estava muito ansioso por conhecer a antiga Leningrado, os seus palácios, as suas igrejas ortodoxas, os seus museus e os seus canais. Ele também estava curioso por conhecer os colegas e professores e por aprender coisas novas. No entanto, nem tudo foi um mar de rosas. Ele teve que se adaptar a uma cultura diferente, a um ritmo de vida mais acelerado e a um clima mais úmido.
Mas também viveu momentos divertidos e memoráveis. Fez muitos amigos na universidade com quem partilhou ideias, projetos e aventuras. Ele visitou muitos lugares interessantes em São Petersburgo, como o Hermitage, a Catedral de Santo Isaac, o Teatro Marinsky e o Palácio Niverno. Ele também assistiu a espetáculos de balé, ópera e circo. E o mais importante, nasceu a Irina, uma estudante de Biologia que arrebatou o seu coração, fazendo-o esquecer rapidamente a experiência sofrida com a Kátia. Irina era inteligente, simpática e divertida.
Ela gostava das mesmas coisas que ele, de ciência, de música e também de cinema, incutindo-lhe as idas frequentes ao Velikan Park, para assistirem às melhores sessões da sétima arte que a São Petersburgo podia proporcionar. Eles começaram a namorar no segundo ano da universidade e desde então nunca mais se largaram. Eles eram muito felizes juntos e tinham muitos planos para o futuro. Terminar os seus cursos, fazer doutoramento, trabalhar em investigação científica, casar e ter filhos. Mas a história de Fyodor Akifeyev ainda não acabou.
Em Petersburgo, realizou-se um concerto de música punk-russa, o Skif Skif, que é um lago dos grandes, e onde se juntaram, num pavilhão, milhares de fãs. E cá está. E se pudessem ter um bocadinho de som... Sabes o que é que eles vão a dizer? A guerra é que se vai para o caralho. Pois é, o Skif Skif. Enfim, evitando os possíveis comentários a esta perla do audiovisual português, é inevitável relatar que o nosso paladino estava lá a assistir, ao vivo e na primeira oportunidade que tinha tido na vida, à sua banda predileta, à qual tantas horas existia dedicada ao longo da sua adolescência.
Fyodor Akifeyev, juntamente com muitos dos milhares de jovens com quem partilhava a plateia, foi agredido e preso pela Unidade Móvel de Propósitos Especiais, tendo sido enviado para os calabouços do Centro de Isolamento Nº 1 de Kresti, que quer dizer crucifixos em português. Sem ter direito a quaisquer visitas dos pais e da sua namorada Irina, bem como um julgamento em qualquer base a tribunal, os meses foram passando, e coagulizando pelo lugar da Operação Militar Especial na Ucrânia, as forças armadas russas passaram a recrutar, forçadamente, muitos prisioneiros homens para as suas frentes de batalha.
Fyodor Akifeyev foi um deles. Não teve direito a despedida em qualquer chamada telefónica ou carta. Os pais, na Lugínco e a respécie da Sibéria, tal como muitos outros entes queridos e muitos outros fiadores, só souberam que o seu querido filho tivera engrossado as fileiras do exército russo na Ucrânia, através de um edital colocado num impessoal e frio mostrador à porta da Duma da cidade. Ainda hoje, pouco ou nada se sabe sobre ele. Não sabemos se está ferido, se, como o José Pinhal, ficou estropiado, ou, pior ainda, se foi morto no campo de batalha.
Pois, se o prussiano Klaus Witt disse que a guerra é a continuação da política por outros meios, já o alemão ocidental Ernst Hartmann lembra que a guerra é um lugar onde os jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam entre si por decisão de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam. Neste país dos comentadores, há ano e meio que somos bombardeados pela excitação militar, nem como pelo pânico inflacionado numa putativa terceira guerra mundial.
Para muitos, o que interessa é fazer durar as agendas e aumentar as audiências ou as reações nas redes sociais, tem que, para isso, continuar a ignorar olimpicamente que, em cada facção, em cada lado da barricada, milhares de fiadores sofrem e sucumbem pelas mãos madrastas da barbárie. Foi-lhes vetado o direito de serem os tais por essa facção. Por fim, digo-vos que o que não damos a isto conta com o alto patrocínio do Jornal Postal do Algarve e do Centro Europe Direct da Algarve a que agradecemos.
Se querem ouvir perspectivas diferentes, podem e devem seguir-nos nas redes sociais, bem como subscrever o nosso canal no YouTube e ativar o sininho das notificações. Não se esqueçam disso. Como sugestão musical, platicino que hoje são todos os registros da banda Gato Morto, em homenagem ao teclista Elísio Donas que, na semana passada, partiu deste plano de terreno em direcção ao grande arquiteto do universo. Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã, mas certamente que o Elísio ainda tinha planos para depois.
Bom, gostaram desta história? Desejam ordentemente que sim. Ela faz parte da história recente da nossa civilização e só não é real porque fui eu quem a inventei. Pois é, é caso para dizer a todos os senhores da guerra, diretos ou escondidos no armário, vão-mas é... Peço desculpa, Clara. Obrigado, não digamos que temos de fazer um pia-em-fronte, não é? Mas é o que eles estão a dizer, eu só estou a traduzir. Literalmente? Literalmente é o que eles estão a dizer.