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The speaker recounts various stories they have told to different people throughout the years, including their children and friends. They mention one particular story titled "O Caso da Nagartixa" where the protagonist imagines a dragon attacking their mother during a cocktail party. They also mention another story titled "Manga no Balai" where they try to eat mangoes from a tree but end up falling. The speaker reflects on their childhood in Granjas and Bocaúba and expresses gratitude for the memories and experiences they had. They also mention a large sawmill in Granjas and the carpenter, Seu Dudu, who was in charge. Essas histórias já contei para algumas gerações, para o André, para a Adriana, para o César, para o Ronaldo, para a Mônica, para o Vander, para a Maria Clara, para a Lala, para o Maurinho, para a Téia, para o Beto, para a Bel, para o Marquinho, para o Paulinho, para o André, para a Silvinha, já contei para a Ré, para a Ró, e espero contar as palavras para outras gerações, do Leandro, do Luquinha, do Miguelinho, do Felipe e companhia. Já relembrei muitas delas com o Zé, com a Helena, com o Guido, contei para a Diná, para a Tia Neuza, para a Armando, para a Tia Téia, e revivi muitas delas com o papai, e que ao ouvi-las, ele apenas confirmava, assim, com o pé, o sorriso, e batendo com as mãos, ele dizia assim, justamente. Já contei para gente grande e gente pequena, quem gostou, pediu bis. Essa primeira história, eu escrevi, e agora estou lendo, assim, na entonação que eu escrevi. Então, o título da história é O Caso da Nagartixa. Então, eu vou ler, assim, eu escrevi, e agora estou lendo do jeito que eu escrevi, mas na entonação que eu queria que fosse. É mais ou menos assim. Granjas estava em festa. O casal Conde e Condessa Matarazzo, iriam chegar logo mais na estação da estrada de ferro central do Brasil. Viam de São Paulo, via Belo Horizonte, granjas de trem. Visitaram seus domínios. Eram mais de 20 mil alqueiras de terra, segundo os entendidos, uma área maior que a Holanda. Granjas era o centro de tudo isso, e mais ainda. Era o centro comercial e intelectual do município de Bocaiova. Bem, esse negócio de Granjas ser o centro comercial e intelectual do município de Bocaiova é um assunto que eu vou tratar em outra ocasião. O caso, essa história, ela tem o título de O Caso da Nagartixa. O papai e a mamãe foram escolhidos pela população de Granjas para fazer as honras da casa aos visitantes. Cumpriram à risca o protocolo das boas maneiras. A recepção na estação, acompanhamento até a casa de hóspedes, almoço, conversa sobre a região e sobre os habitantes. Agradaram tanto o casal que foram convidados a participarem à noite de um coquetel que seria servido na casa de hóspedes. E mais, o convite era extensivo a seus filhos, Zé e eu. A mamãe tanto falava com a condensa sobre seus adorados vinhos que essa estava louca para conhecê-los. O Zé foi dormir cedo e não compareceu à festa. E lá foram para o bendito coquetel papai, mamãe e eu. Eu estava todo arrumadinho, como de costume. Banho tomado, calças curtas, camisa bem passadinha, um pé calçado e outro descalço, cabelo cortado a príncipe Danilo, topetinho englostorado, partido de lado, roupa de amissa. Antes de sair, mamãe, conhecendo bem o seu pimpolho, me encheu de recomendações e bons conselhos, desse tipo. Meu filhinho, você é um bom menino, seja educado, não faça pintações. Nós vamos conhecer hoje um conte e uma condensa, iguais àqueles das histórias do Monteiro Lobato. Não me faça passar vergonha, agradeça quando te oferecer algum doce. Mostra que você recebeu uma boa educação de seus pais, representa bem os meninos de ganjas. Bem, conselhos dados, bons propósitos na minha cuca, e lá fomos nós. Seja o que Deus quiser, suspirou mamãe. A porta da casa, a condensa já esperava pelos convidados. Papai foi logo levado à sala onde se encontrava o conte. E mamãe, convidada pela condensa a passar para outra sala, foi acomodada em uma poltrona que ficava debaixo de uma grande janela de vidros, emoldurada por uma linda trepadeira florida. Eu fiquei de pé a seu lado e observava com decepção a figura da tal condensa. A conversa corria monótona para mim. De vez em quando, a condensa falava para mamãe, que menino bonzinho e educado, mas não saía disso. Doce mesmo que é bom? Nada. Isso não era condensa porcaria nenhuma, pensava eu. E começava a botar em minha cabeça uma ideia para animar aquela festa. Que festa? Que festa bista. Não tinha pé de moleque, não tinha doce, não tinha menino, não tinha porra nenhuma. Seja educado, seja bonzinho, martelava na minha cabeça. Seja educado, seja bonzinho, martelava na minha cabeça os conselhos de mamãe. E até agora, os bons propósitos predominavam. Tudo corria como a mamãe desejava. Mas era demais. Alguma coisa tinha que acontecer para animar aquela festa. Aí olhei através da janela de vidros e vi que a lua, aquela lua cheia, bonita, tremulava no céu. Aí comecei a pensar. Lá no céu mora São Jorge. E São Jorge tem um dragão. Um dragão. Puxa vida, um dragão. Tem um ali na janela e vai atacar a mamãe. A lagartixinha topou a brincadeira comigo. Transformou-se num dragão. Esconde entre as folhagens, aparece, ameaça atacar. Uma arma, pensei. Uma arma, tenho que defender a mamãe. A condessa não, ela que se dane. Não é condessa bosta nenhuma. E eu fiquei olhando em volta para ver se achava alguma coisa que se visse de arma. Mas não tem nada que pudesse vir de arma. O dragão continua ameaçando a mamãe. A mamãe não pressente o perigo, está parada conversando com a condessa. Por um instante, abandonei o local da luta. Mas logo em seguida estava de volta, trazendo em uma das mãos a arma que eu precisava. Uma pedra que apanhei na rua. A condessa enogia mais uma vez a minha educação. Mamãe sorri. Mas o dragão está lá, não foi embora. Continua ameaçando, vai atacar. Agora mamãe está salva. Se o dragão atacar mesmo, faz sentir minha força e pontaria, pensava eu. E o dragão atacou. De repente, houve um grande estouro na sala da condessa. A bela janela de vidros virou um montoeiro de carros. Mamãe estava branco feito cera e a condessa não tinha voz. Papai e o conde apareceram apavorados na sala. E o único que sorria satisfeito era eu. Com um tiro certeiro, arrebentei a cabeça do dragão. Bem, outra história que deu muito em volta, não é pra mim nem nada, se intitula Manga no Balai. Essa história aconteceu quando morávamos em granjas reunidas. Aliás, todas as histórias, o cenário é granjas ou boca-úrvula, com exceção da história do coral na dreja. Bem, no fundo do quintal de nossa casa em granjas reunidas, tinha um pé de manga espada que era uma beleza. A mamãe tinha um cuidado especial com aquela mangueira. Quando as frutas estavam amadurecendo, ela não deixava ninguém apanhar. Ela queria, ela mesma, apanhar aquelas frutas e depois distribuir para a meninada. Igual a madrinha tinha a falsa fada com as frutas do quintal, do horizonte. Bem, mas pra mim era uma tentação aquelas mangas espadas. Eu olhava aquelas mangas já cheirando, aquele cheirinho gostoso, aquelas mangas já maduras, e era demais. Eu fico pensando assim, que só eu e o Dom João Ratão sabemos o que é isso, o que é essa tentação. Aí eu resolvi, eu fiz um plano. A mamãe não estava muito atenta comigo nesse dia. Eu peguei um cesto de vinho que tinha lá em casa e que servia para guardar roupas sujas. Aliás, esse cesto de vinho, ele serviu para, antes de roupa suja, ele serviu para linar menino. Acho que ele foi o cesto que o Zé dormiu nele há muito tempo. Depois ele foi rebaixado para roupa suja. Bom, eu peguei aquele cesto, subi com ele a mangueira, encaixei o diabo do cesto num galho da mangueira e comecei a encher de mangas escolhidas. Escolhi aquelas mangas mais bonitas, aquelas que estavam mais gostosas mesmo, e enchi o cesto até pela metade mais ou menos. Depois eu entrei no cesto para completar o meu plano. Eu queria se comer das mangas deitado no cesto sem ser incomodado nem visto por ninguém. Mas não deu outra. O galho quebrou e lá foi chão por chão, abaixo eu, cesto, manga e tudo. Eu não me lembro de ter machucado, mas com certeza a mamãe deve ter me passado um sabão e me passado uma lição de moral daquelas bem boas. E também eu ganhei com isso o apelido, para que a meninada não perdoe. Apelido de manga no balaio. Aliás, esse apelido não doou muito tempo não, porque eu não estava nem aí com o apelido. Pelo contrário, eu sempre tive vontade de ter um apelido e não pegava. Eu não estava aí mesmo com o negócio de apelido, então não colou muito não. Bem, a minha infância lá em Granjas Unidas e Bocaúba não teve defeito. Eu me lembro assim com muito carinho, com muita ternura daqueles tempos e com muita saudade. Mas é uma saudade gostosa, uma saudade gostosa das coisas boas que passaram naquele tempo gostoso. Eu saí de Granjas, saí de Bocaúba, saí de minha infância. Mas Granjas, Bocaúba e minha infância não saíram de mim. Não é saudosismo não. Não saiu de mim a figura carinhosa, bondosa, meiga e enérgica da mamãe Clara. Não saiu de mim a figura da honestidade, da bondade, da amizade, do amor à natureza do meu pai Abelá. Não saiu de mim os tempos gostosos e felizes que eu passei junto da Helena, do Guido e do Zé. Não saiu de mim a figura da madrinha, da tia Falsa, do tio Guinha, do frio Orlando, do tio Jová, do tio Giba e de tanta coisa boa que nós tivemos naquela infância. Então não é saudosismo não. É para lembrar mesmo e para agradecer a Deus tudo isso que eu tive. Eu só tenho que agradecer a Deus e pedir tudo de bom para todas as pessoas que estão me ouvindo. Porque é isso aí. Tenho que agradecer a Deus isso mesmo e é isso que eu estou fazendo. Bem, vamos clarar para as histórias. Lá em Granja tinha uma serraria imensa que era famosa ali na região. Era uma serraria onde se desdobravam as toras que eram tiradas daquelas matas. Eu tive a felicidade de conhecer mata virgem ainda, de tirar a tora lá com o papai no meio do mato. Aquelas toras imensas de jatobá. José vai me lembrar disso. Aquelas toras que três homens de braços dados aí não conseguiam abraçar. Para cortar-las, levadas lá para a serraria. E aí na serraria eram desdobradas. Para quem não sabe o que é desdobrar, então vou dar uma explicação. Desdobrar é transformar essa tora em tábuas, em sarrafos, em peças de madeira. Depois disso, essas peças, essas tábuas eram enviadas lá para a serraria. E lá na serraria eram transformadas essas peças, essas tábuas, eram transformadas em móveis, em carroção de boi e outras coisas. E chefiava isso tudo o seu Dudu. Era o que chefiava lá essa carpintaria e a serraria. E lá na carpintaria tinham figuras interessantes. Tinha lá os dois irmãos, o Tibúrcio e o Vicente. Eram dois crioulos que eu nunca vi crioulo tão preto assim. Aqueles crioulos preto, preto, preto mesmo. Dos beiços vermelhos. Era impressionante a pintura dos caras. Eram os ferreiros lá da carpintaria. Fazia ferradura, ferrava as rodas do carroção de boi. E tinha também uma figura interessantíssima, que era o Zé Clemente. Esse Zé Clemente era o próprio Corcunda de Nobre Dame. Magrinho, baixinho, corcunda, aleijado, mancava de uma perna. Era uma figura horrível, coitado. Mas uma alma boníssima. Mas pela figura dele os meninos morriam de medo do Zé Clemente. Bom, e eu quando eu passava ali na carpintaria, eu ficava doido pra trabalhar ali. Porque eu via os outros meninos que trabalhavam lá, né, sentados. Na hora do almoço, eles saiam ali, sentavam na gastora, e abria suas marmitinhas e comia, saborava aquela comidinha, que devia estar uma gostosura. Eu passava ali e olhava aquela coisa, eu ficava doido pra trabalhar naquele troço também. Aí eu resolvi, um dia, arrumar um emprego lá pro Sr. Dudu, né. E o papai e a mamãe não sabiam dessa minha intenção, não. Então eu fui lá pro Sr. Dudu e pedi emprego lá pro Sr. Dudu. Fale, Sr. Dudu, vim cá pedir emprego pro senhor aqui na carpintaria. O Sr. Dudu quase caiu de costas quando eu cheguei lá e pedi o emprego. Aí ele ficou pedindo dar uma resposta no dia seguinte. Fale, menino, eu vou pensar no assunto e amanhã você volta aqui. Mas depois, mais tarde, eu fui saber que ele, de noite, esteve lá em casa e foi lá falar com o papai e a mamãe sobre o meu pedido, né. E o papai virou pra ele e falou, Sr. Dudu, se o Marcelo for lá te pedir emprego, se você pode arrumar um emprego pra isso? Bom, aí no dia seguinte eu voltei lá no Sr. Dudu e ele, então, me arrumou um emprego, né. Foi a glória pra mim, eu tinha que começar a trabalhar. Eu trabalhava só o expediente que eu estudava de manhã na escola e 11 horas, mais ou menos, eu tinha que me apresentar lá na carpintaria, né. Tinha que ensinar o ponto, era a glória pra mim ensinar aquele ponto lá. O salário era 200 reais por dia, um troço insignificante. Mas eu não estava interessado em salário, nada, eu estava interessado mais na marmita de comer. Chegar na hora do almoço e comer a minha marmitinha, igual os outros meninos, né. Bom, mas, então, eu fui admitido na carpintaria e quando eu cheguei lá no primeiro dia pra trabalhar, eu já cheguei lá pro Sr. Dudu e falei, olha aí, Sr. Dudu, eu queria ser ajudante do Zé Clemente. Pô, mas foi o homem quase que caiu de costas outra vez. O Zé Clemente não era tão, a figura dele era tão pavorosa pros meninos que não arrumava ajudante, ele vivia isolado. Aí, quando eu falei isso, o Sr. Dudu quase caiu de costas outra vez, né. Vai, então vai lá, fala pro Zé Clemente que você vai ajudar ele. Aí, então, eu fui lá falar com o Zé Clemente. Cheguei perto do Zé Clemente e falei, ô, Sr. Zé Clemente, eu vou ajudar o Sr. aqui, o Sr. ajudante aqui na carpintaria. Bom, o homem quase caiu de costas outra vez. Eu acho que ele sentiu mais satisfação de eu estar falando com ele aqui do que a minha satisfação de estar trabalhando ali. E foi agora pro Zé Clemente. O Zé Clemente me adotou. Ele me protegia. E, ai, coitado daquele que tentasse fazer alguma coisa contra mim, o Zé Clemente aparecia lá pra me defender. E a proteção dele não era só na carpintaria, não, era em qualquer lugar que tivesse engranjos, qualquer coisa que acontecesse comigo lá, o Zé Clemente estava lá por perto e me socorreu. E ele ficou tão satisfeito com esse negócio, né, de estar ajudando ele, que ele me virou pra mim e falou assim, ô, Marcelo, eu vou te transformar no maior carpinteiro do mundo. Você vai ser o maior carpinteiro do mundo, sabe? E enquanto os outros meninos ficavam lá varrendo a serraria, tirando as serrais e tal, o Zé Clemente ficava me ensinando a mexer com a serra circular, mexendo com a serra de fita, me ensinando a fazer os brinquedos ali na serra de fita. Bom, pra mim era a glória. Eu aprendi a mexer com a serra de fita, desenhava nas tábuas os brinquedos que eu queria fazer, depois serrava direitinho, fazia aqueles revólveres espetaculares, fazia carrinho de brinquedo. Bom, mas foi um negócio sensacional, tá? Bom, aí comecei a trabalhar lá e, no primeiro dia, eu estou lá esperando a hora chegar, a hora do almoço, né? Meu negócio era comer a marmitinha, né? Bom, chegou a hora do almoço e eu estou lá na expectativa, né? Os outros meninos já estavam acocorados lá em cima da estoura comendo as suas marmitinhas e eu estou lá esperando a minha, né? Aí, de repente, eu estou vendo chegar lá na carpintaria a Maria Batista, nossa empregada, com uma bandeja de prata na mão, um... a Helena deve lembrar dessa bandeja, ela era uma bandeja de prata, que tinha um bule também de prata, e tinha o prato lá, né, tudo bonitinho, minha mamãe deve ter feito esse negócio, assim, com muito carinho pra mim, né? Achando que, coitadinha, que eu estava trabalhando lá, então mandou a Maria Batista levar aquele tosse lá pra mim, né? Ainda vinha um guardanapo por cima, pra mim bonito, por cima, sabe? Mas na hora que eu vi aquilo, eu fiquei, foi puto da vida, sabe? Bati em cima da Maria Batista e, você, volta com essa merda pra trás, aí que eu não quero saber disso, não fala com a mamãe, vamos mandar a marmita pra lá. A menina saiu correndo com aquele troço pra lá. Daí, a pouco, ela estava de volta. Aí, assim, do jeito que eu queria. A marmitinha, embrulhada no guardanapo, aí peguei aquele troço, subi lá em cima da tora. Olha, eu vou falar pra vocês, viu? Eu tenho a impressão que foi o melhor banquete da minha vida, foi aquele almoço ali em cima da tora, comi a marmitinha, né? E daí pra frente, a mamãe mandou todo dia, mandava a Maria levar a marmitinha embrulhada lá no guardanapo. Outro lance que eu me lembro dessa vida de ajudante carpinteiro foi quando eu e o Zé Clemente pegamos de empreitada a reforma lá da sala de projeções, o cinema lá de Grães. Era um salão de madeira, né? Um antigo clube onde se realizavam os bailes de carnaval. O local já estava abandonado há muito tempo, o chão era cheio de buracos, as paredes cheias de gretas, e nosso trabalho era trocar as tábuas podres e tapar os buracos. E fizemos um negócio com toda a maestria, o Zé Clemente lá me ensinando a pregar, e o negócio ficou muito bom. E esse trabalho nos valeu o passe grátis, por seis meses, para assistirmos às sessões de cinema. Nessa sala de cinema não tinha cadeira, não. Quem quisesse assistir os filmes lá sentado tinha que levar a cadeira de casa. Ou então sentava no chão meu, né? E os meninos gostavam mais de ficarem sentados no chão. Os filmes eram aqueles velhos para o oeste, ou então aquelas comédias do Gordo e o Mago. E acontecia de 15 em 15 dias. Antes de começar o filme, sempre tinha o seriado, né? E eu lembro de dois seriados que passavam lá, que eu assisti todos. Um chamava Valentes da Guarda, e o outro era A Volta de El Zorro. A participação lá do povo durante a sessão de cinema total, o pessoal vaiava lá o bandido, aplaudia o mocinho, dava palpite, conversava, gritava, era uma festa, troço, sabe? E eu, de dez em dez minutos, tinha que parar lá, acendeu as luzes, parava a projeção para esfriar a máquina lá, senão pegava fogo no celular, pegava fogo na fita lá. Então tinha que parar, estava dez minutos parado, e nesse dez minutos o povo discutia, uns imaginavam o que ia acontecer para frente, saía briga, era uma confusão total, era uma delícia, era uma zona total. Aí quando começava o seriado do Zorro, começava sempre com uma musguinha, tinha um estribilho, que era mais ou menos assim... E eu peguei e pus uma letra em cima dessa música, a letra era assim... Somos guerreiros do Zorro, andamos sempre a cavalo, somos guerreiros afamados... Não sei mais como é que resta a letra, mas cantado a coisa ficou dessa maneira... Somos guerreiros do Zorro, andamos sempre a cavalo... E as sessões do Zorro começavam com a meninada toda cantando música da Metro e letra do Marcelo. Minha vida, lembrando, não era só carpintaria e viver correndo pelos matos, não. Tinha também a escola, mas era outra curtição. A escola, principalmente por causa do mingau, que era servido lá na hora do recreio, era uma gostosura aquele mingau. Quem fazia esse mingau lá era uma cumada da mamãe. E tinha o filho dela, o João, que estudava lá, que era meu colega. Então, depois que ela servia lá os pratos de mingau para cada um, a mãe do João despistadamente chamava eu e o João lá para a cozinha, e punha a gente lá em volta do tacho, dava uma colher para cada um, e nós dois rapávamos o resto do tacho. Era uma gostosura aquele mingau. Mas, além do mingau, lá na escola também tinha a Aparecidinha. A Aparecidinha era a menina mais bonita de granja. Era uma gracinha, era uma boneca Aparecidinha. O cabelo era baixotinha, gordinha, tinha os olhos azuis e uma cabeleira loura, que era uma beleza. Ela usava umas tranças, mas umas tranças grossas, bonitas. Quase arrastava no chão as tranças da menina, mas era uma gracinha Aparecidinha. Tinha os olhos azuis, e eu, hoje em dia, Aparecidinha é minha namorada. Lógico. E eu tomava todo cuidado para ninguém saber que a Aparecidinha era minha namorada. Mas um dia que eu tive que pegar uns cavalos lá na Manga da Serra, então eu saí cedo para pegar esses diabos, esses cavalos, e esses cavalos veiados toda vida, eu já estava cansado, não conseguia pegar os cavalos. Aí eu resolvi dar uma parada lá na gruta que tinha lá na Serra, e resolvi dar uma de explorador. Eu pensava, vou entrar nessa gruta aqui. A entrada da gruta era um buraco estreito, e uma pessoa grosa até não passava lá por esse buraco, não. A gente tinha que entrar rastejando, andava-se uns três metros, e depois a gente entrava dentro de um salão grande, e as paredes dessa gruta eram toda rabiscada, toda escrita lá, tinha esse coração desenhado que o pessoal, quando ia fazer piquenique lá, escrevia. E eu fiquei olhando naqueles negócios ali, e resolvi também deixar minha marca lá. Peguei um toá, desenhei um coração na parede da gruta, pus uma seta assim no coração, fiz uns desenhos assim como se fossem uns pingos de sangue caindo lá do coração, e escrevi lá embaixo, né, Marcelo e Aparecidinha, dois corações que se amam. Bom, eu pensei que ninguém fosse descobrir lá esse desenho meu, né, mas o fato é que uma semana depois, ah, todo mundo sabia da inscrição, e daí pra frente todo mundo sabia do meu amor pela Aparecidinha. Eu fiquei muitos anos sem ver a Aparecidinha, e um belo dia, já em Belo Horizonte, eu encontrei que eu vi a Aparecidinha. Ela continuava gordinha, baixinha, com os olhos azuis, mas fizeram uma sacanagem com a menina, cortaram as tranças dela. Na escola, sempre fui um bom aluno. Tanto lá em Bocaiúva, onde estudei no Grupo Escolar Coronel Fulgêncio, até o terceiro ano, quanto lá em Grãsas, onde terminei o quarto ano primário. É por ser um pouco mais retirado que eu sou. O melhor, com mais cara de pau, foi a Aparecidinha. A Aparecidinha foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi a primeira coisa que eu fiz na minha vida, e foi minha salvação. Foi no dia da festa, né, no dia que era, no dia da festa, né, Foi no dia da festa, né, no dia que era, no dia da festa, né, a mãe teve que sair cedo de casa, e me chamando ao quarto da tarde, falou, ó, eu vou sair, e você toma um banho bom, falou, ó, eu vou sair, e você toma um banho bom, falou, ó, eu vou sair, e você toma um banho bom, arruma bem arrumadinho, arruma bem arrumadinho, que eu sei pro grupo bem bonitinho. E saiu, né. E saiu, né. Uns quinze minutos antes de iniciar a tal festa, eu cheguei lá em casa, tudo suado e todo sujo, porque eu tava acabando de sair de um jogo de futebol, né, e enchi uma bacia d'água, lavei o rosto rapidinho, enfiei o pé assim dentro da água, os dois pés, passei um pé no outro, lavei essa canela, mas só lavei esse na frente, né, atrás nada. E o banho tava tomado. Passei a mão na toalha, a hora que eu enxuguei na toalha, rapaz, eu tive, aí até eu assustei, a toalha tava suja, igual tivesse embrulhado nela lá uns tijolos, né, essa toalha eu tive que esconder de perto, porque eu fiquei com medo da mamãe me dar uma broca. Bom, mas vesti lá meu uniforme, calcei um pé de sapato, mas só um pé, um pé de sapato, eu sempre usava um pé calçado e descalço, achava uma beleza isso, achava que era estático calçar um pé de sapato. Bom, mas ainda tava faltando, achava que tava faltando alguma coisa ainda pra ficar bonitinho, aí fui lá no escuro do papai e achei um vidro de brilhantina, que era brilhantina, chamava Royal Briar, enfiei três dedos lá dentro do vidro, peguei uma pelota bem grande de brilhantina, sapequei no topetinho, o resto espalhei assim na cabeça, peguei um pente, dei uma penteada assim de lado, passei a mão lá no discurso e me mandei lá pra escola, né. Mas o sol esse dia tava de rachar, mas um sol violento mesmo, né. Eu já cheguei lá na escola, os meninos já estavam lá no pátio, já estavam perfilados lá no pátio, né, e a professora já tava meio paciente, tava me esperando, aí quando ela me viu, ela foi logo perguntando, trouxe o discurso e eu levantei o discurso na mão, taquei a professora, então vamos começar a festa. Aí começou a falar lá alguma coisa sobre o dia do soldado e eu fiquei lá no meio dos meninos, num lugar naquele solão, e a professora começou a falar e eu comecei a sentir que um negócio começou a descer sempre na minha nuca, um friozinho assim na nuca, eu passei a mão atrás da nuca e a mão saiu aqui, por o olho, né, e a coisa começou a descer pelo olho, abaixo, pela testa, e eu passava a mão na testa e segurava o papel, e a brilhantina começou a entrar no olho, meu olho começou a arder e eu já não via era nada, nada, nada mesmo, em poucos instantes o papel parecia mais que tinha saído de uma lata de óleo e a professora então me chama lá pra frente pra fazer o discurso, eu pra caminhar até lá na frente eu fui piscando e não enxergava nada, mas também não fraquejei não, cheguei lá na frente, abri aquela folha de papel, o papel que era puro óleo e não tinha as letras, já tinha derretido as letras todas, não dava pra ver era nada, né, mas eu abri aquele jeito a minha folha lá e falei o discurso todo olhando pro papel, mas sem ver nada, não sabia de qual negócio, falei o negócio todo de qual o discurso e terminei a festa pedindo um viva lá pro Duque de Caxias, e a meninada saiu gritando viva Duque de Caxias, me carregando e a festa terminou, conseguiu montar na costa do João os meninos gritando viva Marcelo, viva professora, viva Duque de Caxias. São Bento, água benta, Jesus Cristo no altar, ré da cobra, ré da bicho, deixa o fim de Deus passar. Todos nós rezávamos essa oração quando a gente ia passar pelos matos e era com tanta fé e com tanto fervor que rezávamos que a proteção vinha mesmo. E embora vivêssemos numa região infestada por corpos, escorpiões, aranhas caranguejeiras, lacraias e outros bichos, jamais tivemos um acidente grave, nem eu, nem Helena, nem Guido, nem José e os outros amiguinhos. Mas eu exagerei um pouco na minha fé. Certa vez eu fiquei sabendo que rezando o São Bento e passando a mão debaixo do subaco três vezes podia pegar uma caixa de marimbondo com as mãos e que nada aconteceria, pois os bichinhos ficariam totalmente inofensivos. Só faltava essa pra mim. E um belo dia, lá estava a oportunidade para eu provar a fé. Num galho de uma goiabeira, na pontinha do galho, bem na pontinha mesmo, tinha uma caixa de marimbondos daqueles pretinhos que cada ferroada dói pra burro. A caixa tinha o tamanho, mais ou menos, de uma bola de futebol. Eu olhei, olhei lá pra caixa, pensei um bocado, tirei a camisa, rezei o São Bento, passei a mão debaixo do subaco e lá fui eu. Subi na goiabeira, deitei no galho onde estava pendurada a caixa de marimbondos, levei a mão até alcançar a pontinha do galho e... Mas o galho que eu estava deitado, também. Eu bati no chão com a barriga em cima dos marimbondos. Dessa vez os marimbondos não respeitaram o São Bento, não. Me atacaram de todo lado. Olho, nariz, orelha, lábios. Foi ferroada pra todo lado mesmo. Eu fiquei uns três dias dessa camada, sem fazer nenhuma pentação, só recebendo os carinhos e os cuidados da mãe e mãe e isso valeu todas as ferroadas dos marimbondos. Bem, outra oração que eu me lembro era a oração pra curar e enguar. O negócio era o seguinte, a gente tinha que descobrir uma porta feita com três tábuas e depois a gente ficava em frente da porta e batia com a ponta do pé em cada tábua e ia fazendo a seguinte oração, como eu falava, que era a oração sagrada. Essa porta tem três tábuas e eu tenho uma íngua. Uma, duas, três. Íngua nenhuma. Eu tinha que repetir essa oração três vezes. E depois era só deitar que a íngua sumia, mas sumia mesmo. Isso eu posso comprovar e dou meu testemunho porque eu já fiz isso muitas vezes e curei. A oração pra tirar cisco no olho era o seguinte, a gente fechava o olho e com a ponta do dedo polegar a gente ia esfregando o olho e falando a seguinte oração pra Santa Luzia. Corre, corre cavaleiro, vai na rua de São Pedro, vai pedir Santa Luzia pra curar meus olhos. Repetia também três vezes e era tiro e queda. Três vezes repetindo a oração eram dois olhos límpidos e brilhantes. Santa Luzia atendia mesmo. Bom, meu olho era curado com benzeção, mas pra benzer precisava ter um certo poder, não era qualquer um que podia benzer não. Lá em Bocaiova tinha a vozeta e eu, que eram os benzedores. E a cena era a seguinte, o doente e o benzedor ficavam sentados um de frente do outro. Aí o benzedor pegava, com a unha do lado, uma bacia d'água e pegava um raminho de arruda e fazia o seguinte diálogo com o doente. Aí o benzedor falava, benzedor, que tens, Pedro, doente? Cobrei o Senhor, o que é que cura? Benzedor, a água do rio Fonfon, da cor de limão de Nossa Senhora da Conceição. E molhando o raminho na água, fazia o sinal da cruz sobre o cobreiro, repetia também três vezes, e essa oração era tão forte que era que acabava de fazer a benzeção, o cobreiro sarava no ato. Outra oração que a mamãe sempre fazia quando a gente ia tomar algum remédio, era a seguinte, Jesus, Maria, José, vós querendo, água e remédio. E era mesmo, senhor. Certa vez a dona Conceição, a dona lá do hotel Senhor do Bonfim, estava passando mal, estava com a pressão altíssima, um problema cardíaco, e o médico que atendia ela lá receitou um remédio, remédio em gotas, né, e que deveria ser tomado rigorosamente de meia em meia hora. E a mamãe foi passar a noite lá com a dona Conceição para administrar o medicamento. E passou a noite toda ao lado da dona Conceição e de meia em meia hora ela pingava num copo d'água as gotinhas do remédio e levava lá para a dona Conceição tomar. E pedia a dona Conceição, Jesus Maria José, vós querendo, água e remédio. E passou a noite toda ela dando o remédio para a dona Conceição e rezando. No dia seguinte, o médico apareceu lá para ver a paciente, né, e ficou espantado. A dona Conceição estava totalmente boa. A pressão estava normalíssima, o rosto todo corado, estava joia, joia, joia, né. E o médico não cansava de elogiar a atuação da mamãe na administração do remédio. Ele estava espantado com a recuperação da dona Conceição. Mas, de repente, ele ficou mais espantado ainda. Ele olhou assim em cima de uma mesinha que tinha ao lado lá e viu o vidro do remédio que ele mandou da dona Conceição, intacto, ainda lacrado, né. E do outro lado, assim, perto do copo d'água, ele viu lá um vidro de Coliro Moura Brasil vazio. A dona Conceição tomou a noite toda Coliro Moura Brasil administrado pela mamãe e Jesus Maria José quiseram. E a água para os olhos foi remédio para o coração. Santo Antônio Pequenino, mansador de burro bravo, amansa esses meninos ou com Deus ou com os diabos. Isso é para amansar os meninos. Chuva vai, chuva vem, chuva miúda não mata ninguém. Você cantava e se podia sair da chuva, você não resfriava. Virei tico-tico, virei sabiá, virei boca-úva de pernas pro ar. Passar debaixo do arco-íris te mudava de sexo. Homem vira mulher e mulher vira homem. Apontar as estrelas com o dedo indicador faz nascer verruga. E as moças de boca-úva não têm educação. Bate-se ciriri capeta na mesa da comunhão. Se você falasse a expressão vija-brijo, aparecia o capeta em forma de um cachorrão preto. Muita gente viu. Sexta-feira da paixão, de noite, era a vez da mula sem cabeça. E lá em boca-úva ela aparecia lá no córrego, que ficava lá perto do grupo escolar. As crianças podem acreditar que eu vi. O seu neco Ted Boy tinha um saci preso na garrafa. Era o único cara na região que tinha conseguido esse feito. E eu tinha uma inveja do neco por causa disso, que o negócio era complicado prender esse raio desse saci. Lá em boca-úva o pessoal falava o seguinte, quando dava o rindimunho, você jogava uma peneira em cima do rindimunho, mas essa peneira tinha que ter uma cruz de madeira no fundo. Você jogava a peneira em cima do rindimunho e caía junto com a peneira. E você tinha que já levar uma garrafa na mão e enfiava a garrafa debaixo da peneira. O saci entrava dentro da garrafa e você depressa tapava a boca da garrafa. E o saci ficava preso ali. E isso te dava poderes imensos. Esse tal de saci dentro da garrafa, você fazia miséria com isso. E eu era doido para pegar o raio do saci. Eu vivia atrás do rindimunho fazendo as minhas peneiras com as cruzes, mas não conseguia pegar nenhum. E o único da região que realmente pegou esse saci foi o seu neco. E ele tinha mesmo esse saci na garrafa. A igreja Talapa foi feita de pedra e luz Bendizemos o altado Senhor do bom Jesus Nessa oração nós cantávamos em procissão. Quando estava na época da seca, daquela seca brava mesmo que não chovia, aí o povo saia em procissão fazendo penitense. Cada um levava uma pedra na cabeça e uma latinha d'água na mão. E a gente ia lá em cima do cruzeiro para molhar o cruzeiro e pedir a Deus para mandar chuva. E essa procissão era feita com muita fé. E a hora que a gente saia lá e molhava o cruzeiro que já ia descendo, normalmente a gente voltava debaixo de uma chuva tremenda. A canoa virou lá no fundo do mar A canoa virou lá no fundo do mar Virou, virou, a canoa virou lá no fundo do mar Com essa canção estava iniciada a festa dos catupés. Era uma variação do candomblé baiano. Quem patrocinava essa festa da Embucaíuba era o tal de Vicentão do Beco. Os blocos saiam pelas ruas cantando, batendo tambores, bandeiros e dançando. Os figurantes vestiam todos de branco, tinham uma calça e uma camisa branca. Na cabeça eles levavam um turbante também branco. Esse turbante era todo enfeitado com uns espelhinhos redondos. E desse turbante caíam também umas fitas, umas fitas coloridas, amarelas, vermelhas, cor de rosa, roxa, era todo enfeitado. Essa festa era em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. É uma festa tipicamente popular. A Igreja Católica, embora reconhecesse a devoção, ela não apoiava muitas festanças. Por isso o patrocínio da festa vinha sempre de um leigo mais devoto, mais devoto que tinha lá na região. E no nosso caso era o Vicentão do Beco. O Vicentão era uma figura típica lá de nossa terra. Ele tinha quase dois metros de altura e faltava um pedaço na orelha esquerda dele. Parece que era defeito de nascença. Tinha uma perna mais curta que a outra, ou uma perna mais comprida que a outra, como vocês queiram. Por isso, para compensar a diferença, ele usava na perna curta um sapato, uma botina que tinha um solado de uns 20 centímetros de altura, mais ou menos. E usava também para andar uma bengala. Isso dava para ele um ar todo enigmático, todo diferentão. O Vicentão morava num beco que ligava ali à Praça da Matriz com a rua lá de cima, que eu não lembro o nome dessa rua. E daí o seu apelido, pelo tamanho dele, por morar no beco, chamava-se Vicentão do Beco. Eu e a molecada de Bocaiova não perdíamos o primeiro dia de festa, pois era nesse dia que o Vicentão caprichava no patrocínio. Para os homens era muita cachaça da boa, muito torresmo e frango assado. E para a meninada era moreninha, pé de moleque e biscoito de polvilho. Bem, a moreninha era uma limonada que era adoçada com rapadura e na qual o Vicentão adicionava uma dose bem grande de bicarbonato. Essa limonada era feita numa lata de uns 15 litros. Era uma lata, nós chamávamos de lata de querosene, porque era uma embalagem para esse querosene líquido. E o bicarbonato era misturado para ferver. E para ferver aquela limonada, fermentava aquilo e ficava com gosto de refrigerante gasoso. Refrigerante bosta nenhuma, porque a bebida era servida do jeito natural. Não tinha geladeira lá em Bocaiova, não tinha gelo, então era servida de qualquer jeito mesmo, do jeito que estava na lata era servida. A meninada entrava na moreninha e os catorpês entrava na pinga. O Vicentão só ficava de oi, mas ele adorava aquela bagunça. Em poucos instantes os homens estavam todos no fogo, estavam caindo ali mesmo na sala do Vicentão, alguns saiam lá no beco, mas o beco era calçado com as pedras redondas, e que era difícil até quando você não estava bêbado para atravessar aquela rua. Então os bêbados não davam dois passos e caíam ali mesmo no beco, e ficavam escornados por ali. A moreninha também começava a fazer efeito. A dor de barriga atacava a molecada, os peitos saíam igual fogo de São João. Daí a pouco estava todo mundo na rua gritando e dando viva para Nossa Senhora do Rosário, e viva o Vicentão do Beco, e a festa durava sete dias sem parar. Bocaúva é Bocaúva, cidade que nos cedous. De dia falta água e de noite falta luz. Bocaúva não tinha luz elétrica, não tinha água encanada, aliás, não tinha nem relógio. As horas recorriam devagar. O único que sabia das horas mesmo em Bocaúva era um jumento. Ele zoava infalivelmente ao meio-dia e às seis horas da tarde. E aí anunciava para o povo a hora do almoço e a hora de jantar. E nessa ocasião, o prefeito de Bocaúva era um tal de Sr. Camilo, que tinha uma corcunda, um cucuruto nas costas, uma corcunda mesmo, ele vivia inclinado e tinha essa corcunda nas costas. E o povo não perdoava, nem mesmo o nosso povinho de Bocaúva. E aí um poeta, Bocaiuvense, fez o seguinte versinho. Bocaúva, Bocaúva, pra você não tem mais jeito. Jumento é seu relógio e Camilo é seu prefeito. É tempo de murecir, cada um cuidar de si. Manda com leite farmal, mas cuidado com melancia quente, com cagaita quente, arete, cumpanã, cabeça de negro, nem pensar mais. Genipapo amassado com leite, não faz mal não. É uma gostosura. Jatobá tem cheiro de chulé, mas se você pegar a semente com força do cimento numa pedra, em pouco segundo ela está tão quente que se você encostasse na pele, queima mesmo a pessoa, queima a gente. Murecir, cagaita, marmelada de cachorro, mamãozinho do mato, cajuzinho do mato, gabiroba, o que mais gente? Zé, lembra aí, Lena, lembra aí das frutas lá de Bocaiuva? Mangaba, coquinho, e eu estava esquecendo da principal fruta, que é o piqui. Um piqui cozinhado no arroz, não tem coisa melhor. Essas frutas a gente encontrava lá na feira, encontrava nos matos ali em volta de Bocaiuva, era uma delícia. Você comia fruta o ano inteiro, você tinha fruta pra comer. Sunrise in the east, darlin' And I declare it's such a windy way Yes, it's so hard, so hard to tell I declare which one I will treat you the best While the sun goes down So goodbye, oh, sweethearts and pals Yes, I'm goin' away I may be back to see you again Till good summer rainy day Yes, in the evening, in the evening I declare when the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down I declare when the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down I declare when the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down I declare when the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down When the sun goes down