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Podcast - Projeto de Extensão

Podcast - Projeto de Extensão

Vinicius Ramos

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Projeto de extensão da matéria de Fundamentos Antropológicos e Sociológicos da faculdade Estácio. Tema: Crianças e Adolescentes vítimas de violência sexual.

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Welcome to our podcast, produced as part of the outreach work for the anthropological and sociological foundations course in the Law program at Estácio. We will be addressing a sensitive and urgent topic: children and adolescents who are victims of sexual violence. We will offer a comprehensive view of this issue through recordings with experts in the field. We will start with an interview with Diego Lopes, a child and adolescent protection officer, who will provide professional insights and important data on police intervention in these cases. We will also have a conversation with members of our group, Janaína and Jéssica, who will share their personal experiences as victims of sexual violence. Their stories are essential to understanding the reality faced by many children and adolescents in our country. We will conclude the podcast with excerpts from a lecture on Child and Adolescent Sexual Abuse and Exploitation, conducted by the Lombérins Hospital, a leading institution in providin Bem-vindos ao nosso podcast, produzido como parte do trabalho de extensão para a matéria de fundamentos antropológicos e sociológicos do curso de Direito da Estácio. Nele abordaremos um tema extremamente sensível e urgente, crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Para oferecer uma visão abrangente e profunda sobre essa questão, utilizamos colagens de gravações feitas anteriormente com especialistas no assunto. Começaremos com uma entrevista esclarecedora com o Diego Lopes, delegado de proteção a crianças e adolescentes, que trará sua perspectiva profissional e dados importantes sobre a atuação policial nesses casos. Em seguida, teremos uma roda de conversa com os integrantes do nosso grupo, onde Janaína e Jéssica compartilharão suas vivências pessoais, sendo elas mesmas vítimas de violência sexual. Suas histórias, embora dolorosas, são fundamentais para entendermos a realidade de muitas crianças e adolescentes em nosso país. Finalizaremos nosso podcast com trechos de gravações feitas durante a palestra O Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, realizada pelo Hospital de Lombérins, uma instituição referente no acolhimento às vítimas de violência e exploração sexual. Nessas gravações, ouviremos as contribuições valiosas de doutoras Sasha Souza e Júlia Gonçalves, que compartilharão suas experiências e conhecimentos sobre o atendimento e suporte às vítimas. Bom dia, tudo bem? Meu nome é Janaína, nós somos do grupo da STARS, e a gente está fazendo um trabalho especialista a respeito de violência sexual. E eu queria saber do senhor, qual que é o seu nome? Meu nome é Diego Obst, delegado de proteção à criança e adolescente. Muito prazer, bom dia. Nós queríamos saber do senhor algumas perguntas relacionadas à área. Separamos algumas que a gente acha mais importantes, né? Uma delas é, quais são os sinais de alerta que os pais cuidadores devem se atentar em relação à violência sexual? A violência sexual contra a criança e adolescente é um evento extremamente complexo, mas que, em algumas oportunidades, os pais atentos, eles conseguem observar, principalmente, questões ligadas a alterações de comportamento. Essas alterações de comportamento não são delimitadas. Então, eventualmente, uma criança introspectiva, ela passa a ser excessivamente bagunceira. Aquela que já era mais bagunceira, ela passa a ser uma pessoa introspectiva. A gente tem situações de automutilação. Nós temos comportamento excessivamente erotizado para crianças de menor idade. São situações que, se estão presentes na vida de uma criança, não quer dizer necessariamente que elas foram violentadas, mas há indicativos de algo de errado possa existir. Então, dentro desse ambiente, é necessário fazer uma avaliação melhor, às vezes, um acompanhamento com psicólogos, com médicos da área e, eventualmente, até mesmo um acionamento da polícia civil se existir algum fato jurídico concreto a se apurar. E quais são as políticas que o Estado, em si, tem tomado para poder evitar essa situação? O avanço dessa situação? Dentro da polícia civil, como um órgão do Estado de Minas Gerais, são realizadas inúmeras ações de cunho repressivo. Nós somos, por essência, aplicadores da norma e trabalhamos na repressão à violência sexual. E a DEP, que é a Delegacia Especializada de Proteção à Infraestrutura Adolescente, ao longo de todo o ano, ela realiza inúmeras prisões, investigações de violações contra criança e adolescente. Paralelo a isso, a nossa instituição, a gente também se envolve por entender que a única forma de prevenir o abuso é o compartilhamento de informação, conhecimento. Nós desenvolvemos inúmeras atividades de cunho preventivo, como hoje participando em palestras, simposas, rodas de conversa. Também fazemos inúmeras campanhas utilizando o alcance da polícia civil nas nossas mídias sociais. Como ano passado nós fizemos campanhas junto com os clubes de futebol aqui de Belo Horizonte, em que a gente fez inserções no estádio falando sobre questões de aspectos da violência contra criança e adolescente. Jogadores de futebol participaram de vídeos e de campanhas conosco. Também conseguimos atuação já lá no mês de outubro com influencers que trabalham e que tem como público criança e adolescente para que eles também pudessem levar algumas frases, alguns conhecimentos sobre o abuso infantil. Então a polícia civil, a gente trabalha tanto na reflexão quanto na prevenção dessas formas. E tem algum padrão para esse tipo de exploração hoje em dia? Qual tipo de gênero sofre mais? Qual idade passa mais por esse tipo de situação? Infelizmente a violência sexual contra criança e adolescente é a maior dificuldade em investigar e levar um inquérito bem elucidado ao ministério público para eventual processo penal. É justamente a ausência de um padrão de agressor. O agressor de criança e adolescente, o abusador, ele vai das pessoas com condições sociais extremamente vulneráveis a pessoas que possuem bastante dinheiro. Nós temos pessoas que não praticam religiões, além deles ser religiosos. A gente, infelizmente, nós temos uma completa diversidade do agressor. O que dificulta, por sobremaneira, a atuação dos órgãos de segurança pública. A única coisa que eles têm em comum, o único ponto ou a pedra de toque deles é que 87% desses crimes eles são praticados em ambiente de confiança, no ambiente familiar. Ou seja, serão pessoas do próprio núcleo familiar ou pessoas que têm acesso àquele núcleo familiar. Pessoas que estão, o que a gente tem em comum é o abuso de confiança. É um indivíduo que possui a confiança da família ou da criança e aí ele vai agir de forma abusiva e molestar essa criança. Seja também no mundo visual, seja no mundo concreto. E qual que é a mensagem que o senhor pode deixar para aquelas pessoas também conscientizar o próximo a estar atentos a essa situação para que possa ser evitado esse aumento de nível de violência sexual infantil? O mais importante é o compartilhamento e busca pelo conhecimento. Saber como e entender como esses indivíduos agem para que a gente possa mitigar e proteger as crianças e adolescentes paralelo ao conhecimento e em situações que infelizmente elas já tenham ocorrido que seja estimulado que as pessoas, os familiares, as pessoas que têm ciência elas reportem aos órgãos oficiais para que sejam adotadas medidas, seja iniciada competente investigação judicial e eventual aplicação da lei penal se o poder judiciário assim entender. Lembrando que pela lei Arriborel de 2022, aquele indivíduo que tem ciência de prática de abuso sexual contra criança e adolescente e não comunica às autoridades, ele incorre em um crime específico naquela lei, não sendo necessário que seja pai ou responsável. Então a lei é uma imposição a todos da sociedade. É uma missão de socorro, né? É isso, ele tem o tipo próprio, o dever de agir, mas ele tem a obrigação de agir em função da lei Arriborel. Você quer perguntar alguma coisa? Eu acho que a pergunta que eu queria fazer já respondeu bem, que era sobre os maiores obstáculos enfrentados pelo Ministério Público para conseguir elucidar esses crimes. O maior obstáculo que a gente pega na investigação e que acaba combinando também com a atuação do Ministério Público é efetivamente, no primeiro momento, a subnoticação dos casos. Então a gente não consegue atuar. E também existem as declaridades dos casos em si, que via de regra estão cometidos em ambientes privados, secretos, de confiança. Então a gente trabalha com pouquíssimas ou nenhuma testemunha e que a gente tem que engarear as provas daquela situação de uma forma um pouco mais difícil que uma investigação tradicional. Muito obrigada pela participação, senhor. De nada. Bom dia. Obrigada. Deus abençoe. Bom dia, boa tarde, boa noite. Nós somos alunos do curso de Direito da Estácio e estamos reunidos aqui no âmbito de um trabalho de extensão na matéria de Fundamentos Antropológicos e Sociológicos administrado pelo professor Henrique. Nessa roda de conversa vamos tratar do tema de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Um índice que tem aumentado muito atualmente e ele já vem crescendo bastante atualmente. A gente teve uma palestra lá no Hospital de Londres onde eles implementaram esse tema, né? Falando sobre a importância que a gente tem que ter em relação às crianças principalmente, né? Que elas não sabem se defender sozinhas e como que deve ser tratado esse tema. A gente colocou em aborde que o Jair e eu estamos aqui presentes dando empolgamento pessoal a respeito do assunto porque a gente, como os mais novos, sofremos também como vítimas desse tipo de exploração sexual. E vai mudar mais em torno, né, Jéssica? Dá a gente contar a nossa experiência e os meninos, caso tiverem alguma dúvida também, podem perguntar. Não tem problema. Quando você começar a abrir, eu vou começar a contar o meu e depois a Jéssica, se você quiser perguntar alguma coisa, pode perguntar. Quando eu tinha uns 10, 12 anos mais ou menos de idade, né? Eu sofri abuso, não só pelo meu tio, mas pelo meu avô também. Eles moravam em Santa Luzia, né? A gente morava em Janticatu, que é um pouco a coisa de distância. Minha tia morava em Santa Luzia e a gente ia muito pra lá. No final de semana ela mexia com festas, essas coisas. E o mais importante aqui, né, que a gente recebe aqui é o quanto que é difícil pra criança, criança expôs a essa situação porque, na maioria das vezes, a família não conhece. Acontece dentro do âmbito familiar. E como é um ciclo, assim, de confiança, é muito difícil pra criança, né, a credibilidade daquilo que ela tá falando uma vez que os responsáveis já confiam naquelas pessoas que estão envolvidas ali, né? E eu era bem novinha, tava de noite, né? A gente foi deitar, antigamente era naquelas casas escuras, né? E a gente foi deitar, apagou as luzes e antigamente aquelas casas, antigamente você não enxergava nada, né? Era tudo escuro e eu ia dormir de noite, meu tio, e me aliciava. Infelizmente, esse episódio eu não contei pra minha mãe porque, como eu te disse, é uma pessoa que tem desconfiança da família até porque eu fiquei com vergonha também, né? Quando a gente é nova, a gente tem vergonha de contar essas coisas, assustado, bastão. E depois eu ia recorrer de novo, né, com o meu avô. A gente ia muito pra casa dele, minha mãe trabalhava, né, por conta própria porque, digamos, falava muito pouco pra poder sustentar a família. E ela deixava a gente com o meu avô pra poder ir trabalhar. E o meu avô sustinuava, né, deixava as patas aparecendo. Quando a gente ia dormir de noite, colocava até o filho dele, que era mais novo ainda, pra poder aliciar a gente. E era uma situação, assim, bem fechatória, né? Tanto é que quando a gente ia pra lá, não só eu e meus irmãos também, quando a gente ia pra lá, a gente colocava duas, três calças, jeans bem apertados pra ver se conseguia ir pescar. Eu lembro de várias vezes que minha mãe me deixava lá e aí ela ia descendo, era um morro, assim, né, num lugar bem isolado. Era uma casa bem simples, bem humilde. E eu lembro que muitas vezes ela me deixava lá, eu queria ficar porque as meninas também estavam, pra poder brincar. Ela era criança, assim, ela não tinha maldade nenhuma. E eu lembrava da situação, ia descendo o morro, correndo atrás dela. Mãe, mãe, espera, eu quero ir com você. E eu ia. E eu ficava muito cansada porque o trabalho dela, ela vendia biscoitinho de bumbum de casa em casa e ela andava bastante, eu ficava muito cansada. Mas mesmo passando por essa situação, eu achava que pra mim era muito mais confortante estar ali perto da minha mãe porque eu perdi uma pessoa que me deixava constrangida. Por isso que ele não perguntou uma coisa. Você chegou a contar pro seu pai, pra mãe? Então, esse caso do meu avô, a gente nunca chegou a contar. Como eu te falei, na família é uma sensação de confiança entre eles mesmos e não tem como a gente contar alguma coisa dessa porque, infelizmente, eles não acreditam. Até terem prova. E uma coisa que atrapalhou muito também a gente poder abrir em relação a respeitar isso foi que meu avô, ele não soliciou a gente como também a enteada dele. E a mãe dessa menina processou. Processou ele por assédio de violação sexual. Estupro, né? Sim. E eu lembro que nessa época minha mãe foi chamada pra fazer depoimento e ela não acreditou na situação. Não acreditou na esposa do meu avô nessa época. Isso você tinha quantos anos? Ah, eu acho que tinha uns 12 anos. Você estudava na época? Estudava. E isso não mudou o seu comportamento na escola? Porque a gente vê que os professores, geralmente, eles percebem mesmo uma mudança, né? Que são os da educação que podem estar ajudando nessa área. E a gente vê que isso acontece muito na escola. E o próprio professor se denunciar. É porque antigamente não existia muito psicologia nas escolas, né? Agora que eles estão reforçando essa sala mais cuidadosa e infantil. Mas antigamente não existia muito esse apoio. Não me afetava em relação de convívio com outras pessoas. O meu medo mesmo era dentro do convívio familiar, dentro de casa. Eu queria ser presa dentro da minha casa, não gostava de sair pra casa de familiares porque eu não confiava. E quando íamos lá na minha casa pra poder passear, eu ficava mais quietinha no meu quarto. Eu preferia não enturmar muito. A importância de Frisba também é esse lado. Eu tenho 29 anos, então basicamente há 30 anos atrás não tinha esse apoio que a gente vê hoje na família. Porque hoje isso é trabalhado na escola, na família. Tudo que você assiste hoje, enfatiza muito que os pais sejam amigos dos filhos. Antigamente não tinha isso. A mãe não explicava nem o que era menstruação. Imagina a série sexual. A comunicação sobre a sexualidade era uma coisa bem recente. Já havia uma timidez também da família até abordar esses assuntos com as crianças. Os pais eram até falta de respeito, ficavam com vergonha. Que não deveria ser. Na minha família principalmente, que eram quatro moças, meu pai só chegou a falar em relação a essas coisas quando eu estava mais velha. As demais nunca me assinalou. Então a gente nunca teve essa orientação. De água aberta. A gente nunca teve liberdade, privacidade. Meu pai sexual é uma pessoa muito rígida também. E a gente nunca teve essa liberdade pra poder chegar e contar olha, aconteceu isso, o que eu tenho que fazer. Querendo ou não, a gente se sentia um pouquinho reprimido, com medo. E além de contar e passar uma situação vergonhosa, a gente também sofreu uma situação pra criança. Eu acho interessante como que isso amarra no que a gente ouviu na palestra do Dilon. O que eles sempre ressaltam é isso. Que é importante você criar um ambiente que a criança consegue comunicar essas coisas. Que ela está equipada pra entender o que acontece. E é triste ver como que isso não é a regra. Até nós que somos mais novos, não crescemos com isso. A minha experiência dolorosa com essa situação é que eu sofri aborreço aos meus 5 anos até os 50 anos de idade. Por familiares, irmãos, por parte de mãe, vizinhos, tios, primos. E começou com 5 anos de idade. São as imagens mais marcantes que eu tenho nas minhas lembranças dos primeiros acontecimentos. Ele tinha a idade do meu pai, que era um senhor já pra mim naquela idade. Eu tinha 5 anos. E era muito difícil lidar com a situação, porque o meu casamento foi muito doloroso. Esse mesmo cara, ele tinha casa... Minha família era muito desestruturada. Porque, como eu falei há 20 anos atrás, nem um filho era preparado pra família. A minha mãe foi entregue pra casamento com 13 anos. A minha avó praticamente obrigou ela a casar. Não foi com o meu pai, foi com o outro primeiro marido dela. Teve o primeiro filho com 13 anos. O filho morreu com 15 dias de nascido por causa de violência doméstica. A minha mãe, infelizmente, nunca soube me proteger, porque ela nada mais é do que uma outra vítima. Uma vítima mais torturada e mais dolorosa do que a mim mesma. Porque a minha situação não foi nada fácil. Eu lembro que eu via o meu pai traindo a minha mãe, eu via a minha mãe traindo o meu pai. E aquilo virou rotineiro na minha memória. E quando eu tinha 5 anos, que foi quando começou a acontecer, a gente tinha o hábito de esquentar fogo todos os dias. A gente morava numa fazenda, meu pai era caseiro nessa fazenda. E aí tinha os vaqueiros. Esse homem que avisou de mim a primeira vez, ele era um dos vaqueiros. E ele passava por arredondo do meu pai. E tinha casa com a minha mãe. Meu pai tinha o homem dele. Eu acho que o meu pai nunca teve certeza do que acontecia. Imagina o meu pavor, se o meu pai já tinha esse homem do cara. O cara tinha casa com a minha mãe. Se eu encontrasse um negócio desse, meu pai era extremamente rigoroso, violento. Quantas vezes eu vi meu pai bater em outras pessoas. Tipo aquelas brigas de interior mesmo. De meu pai ter um facão pra matar outras pessoas. Então, eu tinha muito pavor. E a primeira vez que aconteceu, foi na minha casa. Eu e os meus dois irmãos homens, esquentando fogo. E é uma imagem que não sai da memória. A gente sentava, lembra até dos banquinhos, como que era. Era um tamburete. E o assento era feito de couro, com as quatro perninhas. E a gente sentava, né? Ficava esquentando fogo. E aí, eu e meus irmãos, a gente brincava de queimar litro. Desgastava, porque era bonito. Só do barulho, pra queimar. E a gente tinha aquela coisa ali entre nós três. Eu era a única menina. A minha mãe tinha um cuidado comigo. Eu só usava vestido, mas eu não usava calcinha. Ela fazia shortinho. Pra eu usar por baixo do vestido. E aí, começou exatamente assim. Ele chegou. A gente esquentando fogo. E ele chegou com o bolso cheio de balinha. E já chegou falando assim. Oi, Jasquinha. Vem aqui. Senta aqui no meu colo. Deixa eu te mostrar o que eu trouxe. Aí, eu sentei no colo dele. Naquela época, todo mundo era tio. Tio, tia. Tia, tia. Sentei no colo dele. Ele pegou as balinhas e me mostrou. Aí, começou a falar no meu ouvido. Pra eu ficar quietinha. Que ele ia trazer balão todos os dias. Eu tinha cinco anos. Aí, eles não sabiam o que estava acontecendo. Exatamente. Ele iniciava a mão por parte do meu vestido. E passava o dedo em alguns espaços íntimos. E aí, um belo dia, a gente estava na fazenda. Minha mãe fazendo biscoito. E a gente brincando de biscoito com outras crianças ali. E eu, por um biscoito, fui esconder. Escondi dentro do quarto de um dos vaqueiros. Que era o quarto dele. E ele me viu entrando. E era um quartinho com muita chamela aqui. Que só cabia a cama. E as telas, as rédeas, os cavalos, os estilos. Era pendurado. E ficava então bem escura. Como se as paredes fossem pretas. Porque era bem pequenininho. E tinha muita coisa empolhada ali dentro. E ele entrou. E eu estava embaixo da cama. Quando ele entrou, eu fiquei apavorada. E fiquei quietinha. Eu me lembro que eu chegava e me trasei. Assim, debaixo da cama. Só que ele me viu entrando. Então, ele me puxou. E falou que tinha um presente pra mim. E colocou em cima da cama. Ó, fechou a porta. Levantou o meu vestido e tirou o short. E fechei o farolinho. Você não pensou em nenhum momento em gritar? Em pedir socorro? A gente fica sem reação, né? Você não está esperando. Você não está esperando que elas passam ali. Você sente medo. Você sente vergonha. Você se sente violado. Que é exatamente isso que a gente estudou muito. E traumatizado também, para a situação. Você fica paralisado. Você está em choque. É. Literalmente, eu não acredito. E a coisa mais terrível. Que talvez as pessoas nem consigam entender. Mas é isso que acontece com a maioria das crianças. Porque a maioria das meninas lá no interior. Engravida com 12 anos. Quando acontece esse tipo de coisa. O seu... O seu lado sexual. A sua... Festividade. Ela é aflorada. E eu lembro que quando aconteceu isso. Eu senti prazer. E eu não sabia o que era prazer. Eu senti uma sensação estranha naquela época. Hoje eu sei o que era prazer. Porque eu já sou adulta, né? Mas na época foi uma sensação estranha. Que eu não conseguia entender o que eu estava sentindo. Identificar. E eu quis contar. Só que eu tinha muito medo. Exatamente porque meu pai era muito violento. E eu sabia que minha mãe não ia acreditar. Mas mesmo depois de muito tempo. Você chegou a contar uma, né? Contei depois que a minha... As minhas filhas... Eu já tinha minhas filhas. E eu tinha um trabalho de me separar do pai delas. E você tinha quantos anos? Quando aconteceu isso? Que eu contei? Que eu contei para os meus pais? Eu estava com 22 anos. No meu caso eu nunca contei. Sim, contou para eu e meu cunhado. A minha irmã, que é casada. Contou para o meu cunhado. O meu cunhado contou para a minha mãe. Mas a minha mãe não acreditou até hoje, não. Tanto é que hoje meu tio e meus avôs já foram falecidos. Já faleceram de uma forma bem trágica. A gente faz o que a gente paga, né? Mas é uma coisa de querer ou não. A gente não sabe se todo mundo tem como pagar. Quando eu contei a primeira vez... Porque meu casamento acabou exatamente por causa de umas... De alguns traumas que eram ocultos na minha vida. Que eu não sabia que existiam aqueles traumas dentro de mim. Por exemplo, quando eu... Eu tinha dois anos de casada, mais ou menos. E eu comecei a rejeitar a minha esposa. E eu não entendi o porquê. Alguns homens não gostam de fazer o sexo oral. Mas gostam de receber. E era o caso do meu esposo. E aí, quando eu fazia o sexo oral com ele, eu comecei a sentir... Era como se eu estivesse morrendo. E eu não entendi o porquê. E era exatamente isso. Por que eu comecei a rejeitar ele? Porque eu senti como se eu estivesse sendo violentada de novo. Como era só eu que praticava e ele não me trazia o mesmo prazer. Depois de adulto, eu comecei a rejeitar ele. Eu fiquei dois meses rejeitando ele e não consegui entender. Quando a gente separou, que eu procurei tratamento psicológico... Acompanhamento... E aí, não o tratamento, ali na psicoterapia... Nos tratamentos que vão fazendo... Que eu fui entendendo que era... Foi uma reação como se eu estivesse revivendo o que tinha acontecido comigo. E... Quando eu contei para os meus pais... A minha mãe falou para mim, que não acreditava em mim, que eu... Que eu tinha um beijo ruim mesmo. Desse jeito. Igual quando a gente foi na palestra, nós também estávamos conversando bastante, né? E o interessante é que lá tinha muita gente... Sabe, né? A gente foi ser a médica, o delegado, a promotora... E eles estavam falando mesmo que... A maioria dos acontecimentos que vem acontecendo dentro da família... É realizado por pais, irmãos, tios, né? Principalmente tios. Geralmente tios, alunos, mas geralmente quem está mais próximo. E alguns vizinhos também. Deixa uma conscientização também para as pessoas aí. Procurar, buscar esses sinais. E eu ouvi dizer, assim, que começa a partir da brincadeira. Tipo assim, ah, os peitinhos de fulanca bonitinhos, né? Então começar a ficar mais atento a essas brincadeiras, esses insinuosos, né? Até que ponto aquela pessoa quer chegar com isso. É engraçado como a gente procura apoio dentro da família. E no caso de vocês eu vejo como que a família, a base sua já estava fragilizada. E acho que por isso vocês não tiveram esse apoio. Eu digo isso porque eu sou muito, muito, muito próxima, muito ligada à minha mãe. Então, eu não consigo imaginar nada, eu não tenho nada que eu faça. Sei que, até isso mesmo, que eu não conto pra minha mãe. Que eu não comente com ela, que eu não pergunto pra ela. Primeira vez que eu fui a ginecologista, eu lembro direitinho de tudo que a minha mãe... Minha mãe falando de tudo que aconteceu, o passo a passo da primeira vez. E quando eu fiquei sabendo a história de vocês a primeira vez, a Jéssica já havia contado na sala. E quando a Gina ainda me contou, eu fiquei chocada. Porque até então eu nunca tinha tão perto visto ou ouvido um caso assim. E eu fiquei realmente... Fiquei triste, porque se você for imaginar, isso não é tão incomum mais. Isso hoje é uma coisa muito... E eu fico pensando, talvez, eu penso que vocês não tiveram apoio da família, a família foi fragilizada. Fico pensando, por que não uma aproximação da menina, por exemplo, com a mãe? Por que que isso não aconteceu? No seu caso, sua mãe tinha um caso com o próprio abogado, né? Mas, pra lembrar também que ele não foi o único, né? Então, só que o fato que você não consegue falar é exatamente porque é o próprio pai que não dá essa abertura. Naquele dia não existia isso. Só que se você falasse um palavrão, você não faria nada. Como que você ia declarar disso por uma situação dessas? Era muito violento, né? A criação paterna, antigamente. A gente vivia reprimido disso. Não é de contar as coisas, você é punido, isso é uma função que você está falando hoje. Sem as pessoas, mesmo que tenha acontecido, eles não acreditarem. E te punindo é aquilo que você está falando. Porque tudo que você fala, querendo ou não, você tem que provar. E como que você provar uma coisa dessas? Eu não entendi. O que a Lourda, ela falou, hoje a criança é um sujeito direito. Antigamente não tinha. Os mais velhos que falavam, a criança nunca podia abrir a boca pra nada. E as mães que falavam, lembram que a maior proteção que tem é da criança. A criança é a única que tem proteção 100% da lei. É a que mais tem. Depois de um certo tempo, pra cá. Mas naquela época não tinha. Não era um sujeito, né? Hoje sim. A gente podia falar, a gente podia falar. A gente não podia conversar. Hoje era daquela família que quem fala primeiro são os homens. Depois das mulheres adultas e crianças. Só se eles falarem. Se não, a gente não conversa. Minha família é muito grande, gente. Quando você fala que foi violentada pelo seu avô, eu fico tão... Eu fico sem entender porque o meu avô, ele era tão bom, buscava a gente. Eu lembro, a gente descia do colégio, ele ficava na porta da igreja esperando a gente descer do colégio pra terminar o caminho até em casa. E o avô... Segundo o pai, né? Mas sabe o que acontece? Acreditar que isso... É parte do caráter da pessoa, né? Não é questão... Eu acho que isso vem de caráter. Tanto é que o delegado confirma, né? Que isso aí é do caráter da pessoa. Não tem como você tirar uma conclusão. Ah, fulano vai fazer isso. Você vê que a pessoa tem um caráter destinado a isso. Com certeza, a probabilidade é bem maior de isso acontecer. Então, é um recado também que as pessoas ficam atentas, né? Estão vendo que a pessoa não é uma pessoa confiável, então ficam mais atentas. Eu penso muito que a base é a comunicação. É o que nossos pais, muitas vezes, não estavam equipados pra ter, né? Porque isso vai muito da criação deles, que foi numa época mais anterior ainda. Você imagina que eles foram criados anos 40, 50, 60, seja... Quando que as pessoas não tinham um diálogo aberto com as coisas que aconteciam na vida, né? Muitas vezes a vida sexual pros homens era forçada no início, tipo assim, era levado num prostíbulo, coisa do tipo. O homem tinha que ser incentivado desde cedo e já desenvolver, e a mulher já ficava mais desamparada, mais frágil. Pois é, aí acaba que você cria uma cultura que as pessoas ficam invisibilizadas dentro da casa, porque não tem o que fazer, né? É... Aconteceu depois, em seguida, é... Depois que eu contei pros meus pais, eu sempre tive muito pavor com as minhas filhas, eu não confiava em ninguém, e as minhas filhas sempre passavam mais por parte feminina. Exatamente. E as minhas filhas sempre passavam férias com os meus pais. Todas as vezes que elas iam, eu falava, não deixe minhas filhas com ninguém, não deixe minhas filhas sentar no colo de ninguém. Eu só confio na senhora, minha mãe, e nos meus dois irmãos de dentro de casa. Exatamente, hoje em dia não é só um mocinho que sofre, não. Tem muito menino, homem também, e criança, que só a violação sexual tá certa, que a maioria delas é mulher, né? Mas tem muito menino, homem também que sofre. Já escutei casos no meu trabalho, de um menino que era líder lá, que ele, eu não vou citar o nome, lógico, mas ele citou que ele era hétero, e ele soceu abuso pelo padrasto dele, e acabou virando homossexual. Então, tá tendo também a relação, né? Tem acesso também no sexo masculino também. E o que aconteceu com as minhas filhas, foi que mesmo eu tendo todo esse cuidado, sempre pedindo pra que não deixasse, porque comigo começou, estou aí sentando no colo de um vizinho, né, de um amigo dos meus pais, e enquanto estava com meu pai, os meus irmãos e a minha mãe, nunca aconteceu nada, só que aí, foi em 2022, o meu pai sofreu um acidente, eu fiquei com o meu pai nos dias, depois o meu irmão veio, então minha mãe ficou sozinha lá no interior, e eu peguei e deixei a minha filha mais velha pra passar esses momentos de férias com a minha mãe, pra minha mãe não ficar solta, porque a minha mãe tem alguns problemas de saúde também, tipo, com uma hipertensão, alguma coisa, e ela não pode ficar sozinha, então eu peguei e deixei a minha filha ficar com ela. E aí foi grande se repetir que uma das coisas que acontece muito na violação sexual das crianças é essa repetição dentro da própria família. E por mais que você tenta, porque eu fiz de tudo pra proteger as minhas filhas, mas infelizmente aconteceu com a minha filha mais alta. Você também não é 100% que está presente, você tem que ter saúde social. E a minha filha também foi, vou relatar como aconteceu, ela ficou com a minha mãe e aí era um primo do pai dela, o meu pai é internado, e ele chegou lá e ofereceu pra ir cuidar das vacas do meu pai, ele chamou a minha filha pra ir com ele. E ele de mão, minha filha, eu converso muito com as minhas filhas, desde que nós começamos a falar, eu sempre ensinei, ninguém pega, ninguém toca o seu corpo, as suas regras, e quando ela foi crescendo, eu fui conversando mais, e quando aconteceu com ela, ela já tinha 7 anos, e ela já sabia o que tinha acontecido comigo. Então, quando ele chamou ela pra ir olhar as vacas, ela falou, ela disse que falou com a minha mãe, assim, com ele, assim, eu só posso ir se minha vó deixar. Mas, a minha mãe pegou e falou, pode ir, né, seu tio. Não sei o que minha mãe pensou. Eu, às vezes, penso que a minha mãe não colocou maldade naquilo ali, achou, talvez ela achou que não é porque aconteceu comigo que vai acontecer com ela. E confiou, né, e o cara sempre chegou, foi uma pessoa que sempre se mostrou, o bom samaritano da região, que ajuda as pessoas, faz isso e faz aquilo, e era uma pessoa que já tinha assediado algumas vezes, mesmo estando casada com o primo dele. Nessa época, eu já estava separada do pai das meninas, e aí, como minha mãe deu essa resposta pra ela, ela foi. Ela ficou sem jeito de dizer não, porque é uma das coisas que mais acontece. A criança se constrange com algumas coisas. Por exemplo, se a minha mãe disse que ela pode ir, que ele é o tio dela, como que ela vai dizer não pro tio dela? Confiando? Exatamente. E é como se a vó tivesse certeza que não ia acontecer nada. Então, ela foi. E aí, ela conta que quando chegou lá, ele viu as vacas de longe, parou a moto e ficou passando a mão na perna dela e chegou até a parte última dela e ela ficou travada na garupa da moto e quando ele viu que ela estava bem travada mesmo, ele falou assim, vamos voltar porque está tudo bem rasado. Aí a gente perguntou. E assim, ela contou ela não ia contar. A primeira questão da minha filha foi por isso que você tem que conhecer muito seus filhos. Por eu ter partado por isso, eu ficava muito em cima de detalhes. E eu liguei pra ela, e ela sempre falando que estava com saudade. E nesse dia, eu liguei pra ela e falei assim, filha, o papai está aí na casa da tia Lívia, eu vou pedir pra ele te buscar. Aí ela, não mamãe, eu quero ficar aqui com a minha vó. Eu nem estou com saudade do meu pai, eu preciso ficar com a minha vó. Acho que eu quero até morar com a minha vó. Pronto, pra mim foi a outra dada. Eu falei, tem algo errado. Eu não acho que a minha filha vai dizer que não está com saudade do pai. O pai que ela gostava de fazer trilha, que ela gostava de rodar com ele. Do dia pra noite, ela não tem mais saudade do pai, não quer voltar pra casa, não está com saudade da mãe, está com saudade da irmãzinha mais nova. Que era o xaudó dela, a irmãzinha. Só que eu liguei pra ela que foi um gatilho. E aí, quando... Aí eu enlouqueci pra trazer ela lá. Eu pedi pra prima dele trazer ela. E aí, quando ela chegou, aí eu ficava perguntando o que tinha acontecido, e ela nunca falava. E eu sempre vendo ela com aquele olhar de medo, assustada. Aí eu chamei o pai dela, e a gente foi conversar juntos. E aí ela pegou e falou, papai, tem uma coisa que eu não contei, mas que eu tenho muito medo de contar pra vocês, porque um dia o senhor me bateu por causa daquelas rolinhas, e eu tomei medo do senhor. Aí o pai dela pediu perdão, a gente conversou, pediu perdão pra ela, e falou que ninguém ia maltratar ela, fazer nada com ela, por ela contar algo que aconteceu. Aí ela pegou e contou. Eu fiquei muito feliz, e o pai relatou a mesma coisa que eu acabei de mencionar. E aí foi um desespero, gente, porque meu mundo desabou. Eu me vi numa situação, revivendo o que eu vivi tudo, e que eu mais temia, que eu mais esforcei pra proteger as minhas filhas. E aí você entra em choque de novo, de novo. Você fica sem reação, sem sabedoria, de novo. E eu fazia tudo pra proteger, inclusive, levei pro hospital, foi pro conselho que tem lá, fez IME, delito, fez tudo, e no conselho que tem lá, a fala dela foi eu não ia contar pra ninguém. Porque eu não queria ver meu pai e minha mãe sofrerem. Quando eu tivesse 15 anos, eu ia denunciar ele. Minhas filhas tinham 7 anos. Mas ainda bem que ela já tinha pelo menos esse pensamento, ela já sabia que era errado, que o que ela fez foi uma violência contra ela, e que era ilegal, e que ela tinha que denunciar. Ela tinha medo, tinha medo da reação do pai, e também queria ver a gente sofrer. E é o que muitas crianças fazem, gente, ou mentir pra não machucar o outro, ou pra não ser punida. Diferente no comportamento dela depois disso? Muito. Na escola, em casa, muito. Porque o que dizem é que a criança fica mais agredida. A criança fica mais agressada. Ela foi muito calada. Então, o que ela fez foi se retrair mais. Ela perdeu a autoestima. Pra ela se sentir bem, ela tinha que vestir, ela queria vestir umas roupinhas mais curtas. Tipo, era como se aquela vez amadurecia também. E foi o que a psicóloga explicou. Ela fez um acompanhamento, e a psicóloga explicou que aquilo ali é como se ela tivesse pulado dos 7 para os 12 anos. E aí, que eu precisava tentar resgatar a infância dela de novo, porque ela perdeu parte da infância. E o que é muito difícil, né? Depois que quebra, não tem como mais. Mas eu acredito que eu consegui. Quando aconteceu isso, a gente mudou pro apartamento novo. Tinha piscina, parquinho, e muitos crianças. Então, eu levava muito ela pra brincar, pra piscina, e pra brincar de brincadeirinhas, de infância mesmo. Por exemplo, queimar dessas coisas. E aí, ela foi voltando. Tanto que hoje ela ama vestir camisetão, bermudas, shorts. Então, graças a Deus, essa parte eu sinto que eu consegui. E o mais importante é a consciência que agora ela voltou até em vocês. O importante ponto aí de hoje em dia é trazer a criança pro seu lado, evitar bater, ter mais comunicação, porque eu acho que a comunicação também às vezes dói mais do que você dando tapa, né? Hoje em dia, acho que as crianças estão um pouquinho mais amadurecidas. Ainda mais que hoje em dia, tecnologia, né, tá mais em contato com as crianças, também fica mais vulnerável a... E isso hoje? Hoje, no sua vida, no seu amadurecimento com a tujanaína, com você, o que que vocês levam disso? O que que aproveitam que vocês tiraram nisso? O que que melhorou a vida de vocês? Ou ainda, reflete ainda alguma coisa ainda do passado? Aproveitam que eu quero dizer... Não, aproveitam que eu quero dizer Hoje, o aproveitam que eu quero dizer de você tá mais atenta à situação foi um mal que hoje você cuida melhor até, desconfia menos, é igual o André falou, até confiou na avó, deixou a criança lá, não foi? A sua mãe, mas infelizmente, você viu que o fato se repetiu? Se fosse você fazer isso hoje, você faria? Não, inclusive... Exatamente. Também as crianças não vão mais pra casa de ninguém, o único lugar que elas ainda vão é na casa dos pais que são os avós até, e do pai, eu não confio em deixar em outro lugar de forma nenhuma e... a conversa, a conversa, ela tem que existir, mesmo que seja doloroso, igual aconteceu com a minha filha, é triste ter que lembrar o tempo todo que ela precisa falar que aconteceu algo. Toda vez que você fala assim, filha, nunca deixe contar nada pra mamãe, ela sempre vai lembrar, não posso deixar de contar. Mas eu penso que você fez o que você pôde, é ver que ela contou pra vocês, você equipou ela com o entendimento da situação, dela conseguir entender que alguma coisa aconteceu, que ela foi violentada ali, e você passou a confiança de que ela poderia confiar em você e se abrir pra conseguir remediar isso, né? Sim. É um tratamento, gente, dentro da família pra que o ciclo se quebre, porque se você tivesse agido do mesmo jeito que a minha mãe, com medo, porque eu sei que a minha mãe não fez nada quando aconteceu com ela por medo, quando aconteceu comigo por medo, por muito tempo eu preocupei minha mãe e meu pai, mas hoje eu consigo ver que a estrutura que eles foram criados eram outras. Sim. E eu já tive outras oportunidades, professores que sempre conversou, algumas filhas eu já tive a oportunidade de estudar muito sobre, eu sempre fico pesquisando sobre comportamentos e tudo, então eu consegui fazer algo diferente, não consegui evitar que acontecesse com elas, infelizmente, mas... Exatamente. Consegui pelo menos que ela me falasse, confiasse em mim e hoje eu tenho certeza que se acontecer algo semelhante de novo com ela ou com a irmã, ambas vão falar sem medo. Esse é o caso aí que eu posso cuidar bastante também, como que a confiança ela acaba gerando também essa instação, né? Porque na época lá você não tinha como contar para os seus pais, eles julgavam, eles, tipo, não sabem, mas hoje, para você ter passado pela situação você confiou na sua mãe, sua mãe confiou em ti, meus meninos, então a confiança, por isso que a gente não está atento ali dentro da casa da gente, porque a confiança às vezes, né, faz coisas que não está no nosso alcance de realizar, vai além disso. E assim, a justiça ela é falha ainda, ainda que a criança hoje no YouTube a gente vê que a criança ela é um bem do Estado, quando aconteceu com minha filha eu denunciei, abri o processo e tudo, mas infelizmente não tinha provas, não sei de fato o que realmente aconteceu nesse processo, mas foi algo muito doloroso e você vê que a justiça ela falha muito nessas questões, porque a pessoa simplesmente não é que é uma justiça lá do interior, onde todo mundo se conhece, então aí todo mundo vai lá e testemunha a favor do cara, não, não sempre foi bom, no caso do avô, né, a mãe defendeu ele e ele foi derrubado, então em muitos casos esses violentadores ainda são protegidos pela sociedade que acredita que todo mundo é parente, que todo mundo é família, que é sangue e sangue tem que defender o sangue, mas olha a situação no meu caso foi eu e a minha filha tanto o tio quanto o irmão aconteceu isso, quando eu cheguei a falar, ah, mas isso não pode fazer nada com o seu tio poxa, mas eu sou sua filha e eu sou sua sobrinha ou seja, pensa no abusador como família, mas não pensa na vítima como família no meu caso o meu é filho homem, mas mesmo assim eu também ainda fico, a gente querendo ou não, ainda mais com a evolução que está havendo hoje em dia, né, a partir que o mundo passa, as coisas vai evoluindo cada vez mais, eu ainda fico um pouquinho atenta em relação a isso, e querendo ou não vamos também não deixar sofrer esse tipo de abuso e a gente tem que estar sempre atenta a essa situação a família talvez é, por saber da gravidade do caso pode estar tentando também abafar o caso não deixar referir pra não machar a família e a gente vê aí os estudos, mas os estudos comprovam que por dia, estão registrados parte de 37 casos por dia de abuso sexual de infantil e de adolescente tem noção do que é isso? Quantos abusos por ano registrados, imagina quantos outros não registrou o mal-conhecido entendi então é uma realidade assustadora, acho que o país já trabalhou muito bem na melhora disso, mas que ainda é um trabalho grandioso pela frente, pra que o gênero surja pra melhorar o resultado eu acho que envolve todos nós como membros da sociedade nos conscientizarmos sobre isso de como foi o processo de fazer esse trabalho de ter contato com com o pessoal, os palestrantes que trabalham o tempo todo de ouvir os relatos que vocês compartilharam pra ter isso em mente, pra saber que essas coisas acontecem a gente tem que estar ensinando pras pessoas em volta de nós as crianças, principalmente meio de lidar com isso meio de evitar isso, principalmente tem que ficar atento nos sinais que a criança pode dar, lidando no comportamento delástico também tem até problemas de saúde envolvidos sim hoje, nós vimos lá na palestra de Londres, qualquer sinal geralmente as mães levam as crianças pro hospital os hospitais, igual no de Londres mesmo lá tem uma equipe de assistentes sociais que interrogam procura ver a situação realmente a causa daquilo ali e comunica as autoridades então hoje tem mais órgãos hoje tem uma rede de apoio gente, só interrompendo eu tenho uma audiência aqui agradecendo eu não sou liberada a audiência não pode chegar atrasada é isso muito obrigado e vale ressaltar aqui também que o hospital de Londres é referente em atendimento a vítimas de violência sexual não só adolescente mas como adulto também então se alguém tiver alguma dúvida pode estar procurando no hospital pra poder lançar as dúvidas porque tem muita gente que não tem reação as vezes as pessoas sofrem por isso e não tem reação e agora o que a gente faz? a pergunta pelo que eles disseram lá na palestra é toda quinta-feira de manhã não precisa nem enfrentar a filha só ir direto lá na sala deles lá que eles estão prontos pra atender lá no ambulatório tem acompanhamento psicólogo ginecologista não deixar de procurar não porque isso não é brincadeira não é brincadeira é coisa séria então a gente tem que ficar atento a essa situação e indicar também a família que está próximo que talvez também possa estar passando por situação e repassar também em relação a isso eu acho que agradeço aos participantes o Gilson, o Vinícius agradeço especialmente vocês que compartilharam as histórias e é isso, acho que foi bem proveitoso deu pra tratar bastante do assunto ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

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