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Onde estarias se não fosse o 25 de Abril - Sessão 1

Onde estarias se não fosse o 25 de Abril - Sessão 1

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Podcast25 de AbrilFundacao Jose Saramago
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This is a speech about celebrating the 50th anniversary of the Portuguese Revolution (25th of April). The speaker mentions the importance of celebrating this event and introduces a series of conversations and guests who will discuss the significance of the revolution. The speaker also mentions the book "O Independente" by Carlos Bastos, which became a classic in Portuguese war literature. The speaker then asks the question, "Where would we be if it weren't for the 25th of April?" and discusses the different experiences and perspectives of the guests, including their involvement in the war. The speaker concludes by thanking everyone for their presence and highlighting the importance of the 25th of April. para celebrar os 50 anos do 25 de Abril. Há pouco lá em baixo dizíamos, eu e o Ricardo meio a brincar, pronto, devemos ser os únicos a celebrar os 50 anos do 25 de Abril. Felizmente, há muita coisa a acontecer para celebrar Abril e é fundamental, na nossa opinião, que todos nós o celebremos cada vez com mais força. E, portanto, nós, Fundação José Sarabato, como não poderia deixar de ser, e fazemos isso com todo o gosto e com todo o prazer e com toda a força, cá estamos a celebrar também os 50 anos do 25 de Abril. Para este ciclo, convidámos, foi uma espécie de convite, mas foi também uma proposta da Ana Margarida de Carvalho, e então chegámos aqui a este formato de ciclo, que tem como título, como mote, onde estaria se não fosse o 25 de Abril. Lembrando também, a irmã de Batista Bastos, e aquela célebre pergunta, a pergunta que se tornou célebre, este ano, em Fevereiro, neste mês de Fevereiro, cumprem 90 anos de nascimento também de Batista Bastos, e é uma forma também de homenageá-lo. E, portanto, cá estamos nesta primeira sessão, e a ideia é trazer-lhes convidados, sugeridos, escolhidos pela Ana, que coordena o ciclo, para conversas em torno desta questão, onde estaríamos todos, se não fosse este dia levantado e principal do 25 de Abril, que todos celebramos. Portanto, muito obrigado Ana, muito obrigado ao José Fanha, muito obrigado ao Carlos Matos Gomes, por estarem aqui connosco, e voltem sempre, e viva o 25 de Abril. Olá, bem-vindos a todos, muito obrigada pela vossa presença, muito obrigada à Fundação Termar, por acolher esta celebração, que se vai estender ao longo dos próximos meses, mas será anunciado pela Fundação, e vou também agradecer ao Sérgio, ao Ricardo, à Pilar, obviamente, e à Itália, por nos terem acolhido tão bem. O Sérgio já explicou a ideia, a ideia não é, as frases que ficam ainda mais chaves, depois do ano desde o final dos anos 90, teve feita aquela paródia com o Batista Bastos, onde ele dizia, ouve lá, onde é que tu estás? No 25 de Abril. Chegava a perguntar a Deus, onde é que tu estás no 25 de Abril? E depois dizia que dizia-lhe com toda a profissionalidade. E a ideia era o contrário, o reverso dessa frase, onde é que estaria se não fosse o 25 de Abril? Então, enfim, passo aqui a fazer umas apresentações, não são mensagens, não são apresentações, só para arrumar aqui uma pessoa que, antes do 25 de Abril acontecer, sabia exatamente que aliás não foi naquele preciso dia e naquela hora, o Carlos Bastos foi preso no 25 de Abril, foi coronel, historiador da guerra, foi romântico, mas estamos a dizer mais tarde, teve na guerra desde os 20 anos até aos 27, ainda foram quase metade da duração da guerra colonial, teve nos 26 anos, nos 27 anos, teve na imprensa até Moçambique, Angola, Júnior e Guiné, e foi supor uma operação muito complexa, uma operação chamada, o famintinho, quase que um albórdem, como se pode se chamar lá, como se chama, como o Alexandre Magno fez, mas depois escreveu, escreveu, entrou este livro, que é, e é que o caso de Valter Vaz nasceu, que é o que o dono do leitor escreveu este livro, baseado nessa operação. E este livro tornou-se um clássico da literatura de guerra em Portugal, e é um livro em que tudo é muito real, e tudo é muito true, e tudo é muito, eu queria falar logo das primeiras páginas, mas eu já queria falar do livro. Antes disso, vamos então àquela pergunta, eu vou mandar ao Carlos Bastos. Bom, porque estava, nesta altura, na Guiné, onde é que ele estaria hoje, são muitos anos anteriores, se não me engano foi durante o período inicial da vida existente. Esta é que é a pergunta estimulante e desafiante. Eu perguntei quando foi, quando sentámos aqui a responder à pergunta, a coloquei de convite no Facebook, se houve um amigo meu, não sei se ele era amigo, se era amigo da onça, se calhar estavas debaixo de terra na Guiné, estavas numa tumba na Guiné. É? Isso é? Essa era efetivamente uma das possibilidades. Por quê? Porque a guerra era a questão central de toda a vida de todos os jovens e dos menos jovens, dos homens e das mulheres, em 1974. Portanto, em 1974, onde é que tu estavas se não fosse o 25 de Abril? Exatamente no sítio onde acontecia a estar, no 25 de Abril. E se não houvesse o 25 de Abril, onde é que eu estaria? Estaria no dia 27 ou no dia 28, numa região pantanosa, para quem conhece a Guiné, que chama-se o Tarrafo, a fazer uma operação contra o PAGC na fronteira sul na fronteira sul com a Guiné-Conacri. Isto quer dizer o quê? Isto quer dizer, já agora em termos de promenor, que na Guiné há um 26 de Abril, que é logo o início da rotura que o movimento dos capitães faz com a perspectiva que existia para um 25 de Abril do Sepino. A primeira rotura passa-se aí, porque na Guiné faz-se tudo ao contrário daquilo que a Junta da Salvação Nacional tinham a dar a fazer. Certamente, se começam logo. Fizemos, logo no dia 26, prendemos o governador, o que não era previsto. Depois, fechámos a pinça, o que também não estava previsto, e prendemos os agentes. Libertámos imediatamente os presos políticos. Temos um cessar-fogo imediato, porque o PNJ foi unilateral e entrámos em confusão. Mas o interessante deste processo é que um dos militares, que era o meu comandante direto, e que tinha ido comigo prender o comandante-chefe, no dia 27 de Abril, foi-me bater à porta para nós e me fazer esta tal operação que estava prevista. E eu disse-lhe, olha Raul, nós fizemos aquilo que estivemos ontem a fazer, exatamente para amanhã não estarmos a combater. E de maneira que ele entendia que se fazia ao 25 de Abril, as coisas ficavam resolvidas e continuava a guerra como se fosse uma mudança de gestos. De maneira que eu podia estar logo no dia a seguir, outra vez com o camuflado, com a espingarda, e metido no lodo até ao pescoço. Esta é para ver a ideia, ou para termos uma ideia, das contradições que estão associadas dentro das próprias Forças Armadas e dentro do movimento das Forças Armadas, que passam por esta situação, mas passam também pela incompreensão completa e absoluta de Sifinula, daquilo que se tinha passado. Na medida em que nós fizemos toda esta transformação, então nomeámos um encarregado do governo, do nosso, o motorista Silva, que já faleceu infelizmente, nomeámos um comandante-chefe da nossa confiança, que era um oficial da Armada, e fizemos tudo aquilo que entendíamos que podíamos fazer, embarcámos o governador, o comandante-chefe e aqueles que quiseram vir, e estabeleceu-se imediatamente esse contacto com o PRGC e as coisas assim. Só uma questão, rapidamente, para passar para o José Sanho. Portanto, se tivesse falhado tudo aqui em Lisboa, se não falhou, há também aquelas pessoas, não é só estar no sítio certo à hora, estar no sítio errado à hora é errado também, tem que estar no sítio certo às vezes na hora certa, se tivesse estado tudo errado, não havia um plano B? Havia, o plano B, que era este, entrar na Guiné e criar uma situação de impasse para o regime, isto é, a partir do momento em que uma das colónias os seus quadros declaravam um cessar-fogo e uma tomada do poder, levantava-se um problema seríssimo aqui para o regime. E era uma tomada de poder definitiva, porque quem salvou o poder na Guiné e quem prende o governador e exmite o comandante-chefe, que era uma mesma pessoa, o jornal Temco Rodrigues, são os comandantes das duas forças mais importantes, das três forças mais importantes da Guiné, que era o comandante dos comandos, eu era o segundo comandante, e que era o comandante da arteria. Isto é, se este tipo de unidades, que eram o coração da força que combatia, prendiam o comandante-chefe, não havia nada a fazer, porque inclusivamente estava connosco o piloto do helicóptero que em caso de emergência estava escalado para levar o governador para um local seguro. Nestes processos há sempre um plano de emergência e estão sempre previstas estas situações, que era, bom, se houver aqui uma situação catastrófica, como é que nós retiramos e para onde é que levamos o comandante-chefe e o governador. Ora bem, o piloto do helicóptero que levaria o governador estava connosco, penso que era do curso do António rodado da luz que está ali, que era o Afonso, um piloto que era ali de Lamega, e portanto estava connosco, e não ia para lado nenhum, e para o outro lado estava connosco também o oficial de comunicações e das cifras da Guiné, o que nos permitia saber o que é que o governador estava a transmitir aqui por uso ou por rádio, e os plutonemas que ele estava a fazer no interior da Guiné perante este processo. Ele no dia 25 de Abril tinha previsto uma cerimónia na necessidade portuguesa e nós ouvimos-o a perguntar aos seus ajudantes... Eu gostava de falar sobre isso, como é que a tropa via PIDE, porque também é muito interessante, mas vou aqui passar ao José Fenha, um bom escritor, poeta, arquiteto, que encontrou a arquitetura da poesia ou poesia na arquitetura, não sabe bem, gostava de ser palhaço, que acabou de me dizer há pouco, e também é um grande declamador desde os tempos de José Capão, desde os tempos antigos, é uma coisa muito antiga e um programador cultural sempre muito presente e tem muita, tem esta vocação, diria eu, para a amizade, eu acho que toda a gente é amigo, e assim muito intergeracional. Mas o que é interessante, eles estão aqui os dois convidados, porque também são amigos, e o que é interessante é que tiveram um percurso de diferença, ou seja, o José Fenha tem um passado familiar desde o seu tétrado militar, mas não foi à guerra por causa do 25 de Abril, para te contar esta história que também é bonita, mas é que o Carlos Marcos Fomes entrou para a academia do Meitapro, saiu do Colégio de Tomar para a academia militar, e teve uma semana, um mês de férias, desde os 10 anos até hoje. E foi em Tomar que conheceu o Salgueiro Moraes. Foi em Tomar que conheci o Salgueiro Moraes, mas conheci um bocado do Comitê Central do PAGC também em Tomar, Júlio Semedo, o filho da Amada Cabral, e vinham-se os meus companheiros, e também o Maia, mas o Maia não mente-se tempo. Aliás, é curioso que o Colégio de Tomar, onde eu andei 7 anos, e o Colégio de Tomar tem história... Não dá para irmos para lá, nem tínhamos... Pois, mas tem coisas em comum, e tem memórias em comum. Eu andei no Colégio de Tomar, 7 aninhos, conhecia muito bem a guerra, porque ouvia os militares, aliás, há aqui uma coisa muito curiosa, e eu gostaria de provar, que é a questão da homicidade portuguesa. Quando eu entrei para o Colégio, havia a homicidade portuguesa nas escolas, e eu fiquei um bocadinho admirado pela atitude dos militares que estavam no Colégio em relação à PIDE. Em relação à homicidade portuguesa. E tratavam a homicidade portuguesa com um desenho tremendo. Eu penso que isso era comum a todo o Exército, e que usavam o nome... Ah, esse é a Rufa, pá! E a gente sentiu que os militares pensavam de uma maneira um bocadinho diferente. Eu senti logo isso aos 10 anos. Depois entrei no ano em que também foi o desvio de Santa Maria, foi o começo da guerra em Angola, foi o avião de Marrocos para cá, e a Índia. Foi uma coisa que me tocou muito, e a nós, miúdos, porque vários pais ficaram presos na Índia. Depois de o Salazar ter dito que era para resistirem até à morte, e os militares disserem que vai morrer, e foram presos com o exército indiano, e ficaram em campos de prisioneiros durante meses. E nós tínhamos notícia disso, e era um bocadinho assustador. E depois da guerra, as fotografias dos massacres de um lado e do outro, e coisas terríveis que a gente ia percebendo que era a guerra. E a pouco e pouco fui percebendo que aquela guerra não a queria. Não queria fazer aquela guerra. Se calhar nem queria fazer guerra nenhuma, não sei. Mas o meu pai, que era militar, e com quem eu nunca dizia praticamente, mas quando voltou da África foi para o posto do Coés do Militar, de nunca o ver, passei a ver-o todos os dias. Numa altura que já era tarde, passei para ver-o. E disse-lhe para a academia um dia, então, meu filho, vai para a academia militar. E eu fiquei a moer, pá. Nas portas do Coés do Militar, a andar ali à volta. E depois pensei, a guerra destrói. E pensei que havia uma coisa que era gira, que era a arquitetura, porque a arquitetura constrói. E disse-lhe, opá, eu quero ir para a arquitetura. Ele ficou muito cego e disse-me, ah, coitado. Mas não fez mais nada. Agora, no 25 de abril, eu estava no quinto ano de arquitetura. Faltava um ano e sete anos, de arquitetura. Havia uns cursos importantes, arquitetura e medicina, tinham seis anos. Eu estava no fim do quinto ano, e quando acabasse o curso, ia para a tropa. Mas como me portava um bocado mal, esquivo um pouco, várias vezes, antes de ir para a tropa. E como tinha estado no Coés do Militar, portanto, quando me chamassem, era uma semana depois, já lá estava. E eu tinha pensado, não queria, não queria, não queria. E estava a começar a preparar o meu plano de fuga. Como é que eu ia fugir? Para a França, ou para a Holanda, ou para outro sítio qualquer? Porque aquilo não queria. Conhecia bem demais e não queria. E pronto, eu estaria a inventar um plano de fuga, para dar às vilas de ouro. Quando acabasse o sexto ano, queria ver se fugia já que o curso acabasse. Mas, desculpem-me, eu não disse uma coisa que foi muito importante. Eu tenho uma admiração absolutamente bavada pelo Carlos Martins Lobos. Ele é extraordinário, quer pelo que ele fez no desenvolvimento do 25 de Abril, quer como escritor, é um grande romancista, é um grande ser humano. É um homem a quem todos devemos muito. E eu fico aqui. Eu só devia ficar aqui muito caladinho. E a Margarida. Também a Ana Margarida, que é uma escritora. Tem romances fantásticos. É filha de outro grande escritor, que é o Mário de Carvalho. Quem não souber... E pronto, eu tenho muito orgulho em estar aqui com ela. Obrigada. Faltando também naquilo que o Zé estava a falar da Universidade Portuguesa e da PIDE, o que eu não percebo é que o único lugar onde se podia falar tranquilamente e ter uma batida era na tropa. Essa é a verdade. As salas dos Deputados foram sempre locais de liberdade. Há uma ideia da complicidade das Forças Armadas com o Estado Novo. É uma ideia que merece ser aprofundada. A relação entre as Forças Armadas, o 28 de Maio de 1926, com o regime que depois, só de dar a estaura em 1933 com a nova Constituição, é uma relação sempre de grande tensão. De tal forma que há 27 confrontações militares com mais violência, menos, com saída de tropas, pronunciamento, etc. durante o período do Estado Novo. E há uma desconfiança permanente do Salazar relativamente às Forças Armadas. E há uma tensão e há sempre também uma desconfiança muito séria dos militares relativamente ao Salazar. O Salazar reunia uma série de condições que os militares não apreciam. Ele ficaria logo livre da tropa porque tinha os pés chapos. Era uma condição para ficar livre do serviço militar. Depois ele era aquilo que os militares chamam empadreca. Tinha andado a frequentar o seminário e a tropa também teve sempre uma má relação com os padres. O capelão militar era sempre aquele que era encarregado da cantina, era encarregado de fazer umas tarefas que nós não gostávamos, que era dar más notícias. E, portanto, era alguém que estava sempre, que os soldados também não levavam muito a sério, embora eles por ali andassem. E qual era a relação que a tropa tinha com o Salazar? Digamos que ele era o contabilista. Nós na tropa, a tropa nós sempre muito articulada. Naquela parte tudo havia o registro geral onde foi o nome dos militares, se comeram, se receberam o dinheiro, depois fazer a contabilidade dos depósitos, fazer o pagamento, tudo aquilo. Era o lugar do primeiro sargento, era o lugar dos tipos de administração e, portanto, o Salazar funcionava um pouco como os militares do quadro do serviço geral na organização. Daí que até, por exemplo, o Fernando Santos Costa, que muita gente entende que era um homem muito subordinado ao Salazar, ele tem sempre um poder efetivo, autónomo e fez sempre aquilo que entendeu. O serventuário mais mesquinho dele ele já só vai escolher no final da cadeira que é o Américo Tomás. Porque, de resto, o Craveiro Lopes era um homem que se impôs tanto que se impôs, que ele não permitiu que se apresentasse de novo a um novo mandato. O Humberto Algarve tinha uma relação muito difícil, tão difícil que ele o mandou matar e, portanto, houve sempre esta tensão. A PIDE havia quantos anos? Em 1963, 74, havia várias PIDEs. A PIDE não era um corpo uniforme. Havia uma PIDE do Marcel Caetano. Havia uma PIDE do Jornal de Pênalo, onde estava o Inspector Cardoso Alas, etc. Havia uma PIDE do Jornal do Costa Gomes, onde estava o São José Lopes. Havia uma PIDE próxima do Engenheiro Jardim. Havia uma PIDE, depois, próxima dos Serviços de Informações Americanos, havia uma PIDE pró-francesa. Havia uma PIDE pró-americana, mas é é a primeira, porque é aquela que faz a transição na PIDE entre a PIDE da Polícia Internacional do tempo da Segunda Guerra e profundamente anticomunista, para um Serviço de Informações Americanos. É por isso que é substituído aquele velho capitão que mandou a PIDE durante muitos anos, é substituído por um militar, que é o Cornelio Omer de Matos, que coloca o Jornal Militar, que nem tinha muitas ligações, eram pró-navi, mas não eram pró-salvagem. Depois, o último diretor é um homem que vem até da Engenharia, o Silva Paes, e, portanto, que funciona, funcionava já por poucos. E qual é o pensamento deles? E porquê que eles não atuam durante, ou atuam de uma forma relativamente reservada, atuam no 16 de Março, para render-me a dúzias oficiais, que estavam aliás ao Supino, eles não atuam porque eles consideravam que eram indispensáveis em qualquer situação, mas qualquer situação, qualquer regime, necessita de ter outras informações. E de maneira que eles o que estavam preocupados era saber quem é que tinha maiores probabilidades de vencer. Porque era, quem tivesse maior probabilidade era aquele por onde eles se encostariam e iriam por aí. E eu recordo, já estamos aqui assim, já em 1974, ou no início, eu estava na Guiné, eu era o segundo comandante dos comandos africanos. E então há um general que vai daqui, que é o general Corzel Mestre, o general da logística, fazer uma dita de inspeção e como era habitual, depois fazia-se um jantar em que eram convidados os comandantes das grandes unidades, eram convidados as entidades para fazer ali assim um convite. E também eram convidados as mulheres, eu tinha casado há pouco tempo e a minha mulher tinha estado, era estudante, era aluna aqui da Faculdade de Letras e portanto apanhou toda aquela fase das invasões da Polícia de Choque, do Capitão Maltese, daquela coisa toda, do David Morão Ferreira andar a ser agredido, do Lindley Sintra também, portanto ela estava nesse, tinha essa imagem da PIDE, daqueles guardas que estavam na, os gorilas, isto era o ambiente onde ela saiu para a Guiné. Eu fiquei numa mesa, fiquei eu, ficou o Alessandro Zazapit, que era um dos coordenadores da Polícia Militar e era um dos membros da Comissão Coordenadora dos Capitães na Guiné, a mulher dele, a minha, e ficou o PIDE, o chefe da PIDE da Guiné, ficou porque ele nunca levava as mulheres para essas coisas e tal, ficou. E nós estávamos os quatro e falávamos abertamente das reuniões que estávamos a ter, do que pensávamos da guerra, mas contou-se a liberdade. E eu comecei a ver a mulher, que era uma jovem na altura, tinha 21, a ficar branca quando nós saímos dali e disse-lhe, vocês amanhã vão todos presos. Porquê disse-lhe isto? Porque vão vocês, vão todos presos e eu fico aqui, estão todos presos. Então vocês dizem tudo, as maiores barbaridades. Está aí o chefe da PIDE, ele amanhã, disse-lhe, não, não vão presos. Não vão porquê? Não porque ele não vai comandar de certeza nenhuma companhia semanal. Ou seja, essa era a sensação da impunidade em que nós vivíamos. E, desculpa só, e portanto, a PIDE estava nas colónias, tinha esse papel da informação e tinha um papel, nesse aspecto relevante, que era ter as relações com os informadores que estavam nos estrangeiros, nos países estrangeiros, embora, por exemplo, na Zâmbia ou no Congo ou em Moçambique, na Norvégia, no Malauí e na Tanzânia e na Guiné, no Senegal e na Guiné-Conácria. E, portanto, eram eles que tinham essas redes de informação no estrangeiro e nessa medida eram importantes para nós. No 25 de Abril, deixaram-nos ir porque nós passámos a ter relações diretas com eles. O que aconteceu é que, de facto, a PIDE não era um objetivo estratégico imediato no 25 de Abril. Era o tal desprezo. Eles não eram porque eles não iam combater contra nós. Quando o Salve Maia traz a Espanhar, que tem uma peça de 75 milímetros com um tiro rápido, que sempre parado ali no lado do carmo onde estava o Luz, ainda hoje andávamos à procura dos cacos aqui no Rio, é evidente que a PIDE, que tinha armas ligeiras, não era um inimigo. E depois nós conhecíamos-nos, isto é. Sabíamos que eles não eram gente para ir combater. Aliás, a maior parte deles tinham saído da tropa e tinham arranjado um emprego. E esse emprego não os levava a correr riscos de vida porque, portanto, eles estavam empregados. Quem sai para fazer uma revolução não sai para ir para um emprego. Eles é que tinham ido para um emprego de manhã, no dia 25 e no dia 26. O Maia não veio cumprir nenhum horário de trabalho aqui assim, abaixo. E, portanto, isto quer dizer que nem a PIDE e os legionários eram uma coisa para nós. Como os gigantones, isto é. Eram qualquer coisa que estava entre o carnavalesco e a sáscara. E os outros bebiam os copos, podiam jogar as cartas até à toleca, apenas que não iam mais do que isso. E, portanto, não eram objetivos que estes fizessem. Mas, de qualquer maneira, tal como a mulher do Carlos aqui em Portugal, a PIDE era bastante comida? Era comida. Eu tive uma experiência. Eu andei uma vez fugido a esconder-me em várias casas porque supunha que tinha sido preso um camarada meu, camarada de colégio militar, que tinha sido torturado, foi torturado e sofreu muito. E, portanto, eu andei, curtei o cabelo, tirei o bigode e porque tinha sido denunciado por um funcionário, também tinha sido denunciado por um contínuo da Escola de Belas Artes, que era o PIDE Fernandes, que o tinha denunciado e tal, mas naquela coisa não estava muito bem. E, entretanto, também... Estavam numa reunião geral de estudantes a organizar uma greve, em nosso tempo, em Belas Artes. É muito curiosa esta história da PIDE e dos informadores da PIDE. A Escola de Belas Artes é quase ao lado da PIDE, é duas ruas abaixo. E os PIDES, normalmente, estavam na Brasileira. Eu lembro-me de vários escritores. Havia sempre um PIDE ao canto, o Júlio Pomar, uma série de escritores que passavam por ali para tomar café. De manhã, em Brasileira, uma pessoa olhava para aquela gente e ficava encantada de ver aqueles senhores que eram escritores, que eram poetas, que eram pintores, e havia sempre um ou dois que ali estavam. Havia uma leitaria, que era a Leitaria Garrê, onde a malta de Belas Artes ia tomar o café. E havia um empregado, a Leitaria Garrê, que era o Sr. António, que era um bocado mais novo que os outros. E que era muito simpático. O Sr. António era mesmo muito simpático. E sabia muito o que se passava em Lisboa. Sabia quais eram os filmes que iam. Então, você já viu o filme, não sei o que, e tal. E metia conversa connosco, que às vezes eram conversas até interessantes. No dia 25 de Abril, desapareceu e nunca mais ninguém soube dele. É fantástico. Como isto estava dentro da nossa vida, não é? Depois de tudo o que tinha acontecido. Era um informador e desapareceu, não sei para onde. Agora, no dia 25 de Abril, mês, mês, mês, eu e a minha mãe vivemos em 22 casas diferentes, até o casar. A minha mãe tinha uma relação com as habitações estranho. 22 casas diferentes é um bocado chato. Aí o colégio militar era bom, porque no colégio militar nunca variava. Agora, quando eu saía ao fim de semana, volta e meia, tinha que usar de casa. E estava, no dia 25 de Abril, estava a viver com a minha mãe numa pensão. E ela vai-me acordar às sete da manhã. Filho, filho, há uma revolução. E eu acordei e a primeira coisa que pensei. Estamos rechados. É o caúsa. Porque se falava que o caúsa andava a maquinar-se um golpe de Estado ainda mais à direita. E fui ligar o rádio. E quando comecei a ouvir as canções no rádio... Não, espera aí. Estes não são do caúsa. Estes são da minha família. E depois vem o comunicado do MSA que diz que pede para as pessoas não saírem de casa para não haver banhos de sangue. E é claro, a primeira coisa que eu fiz foi vestir-me a correr e ir para a rua. E muita gente para Lisboa. E isso foi uma coisa tão importante. E depois a generosidade das pessoas que iam comprar massas de tabaco. A alegria das pessoas para dar os cigarros aos soldados. Iam comprar cervejas para dar às cervejas aos soldados. Os abraços que se davam a pessoas que eu não conhecia de parte nenhuma. É, pá, viva a liberdade. E depois eu sabia lá quem era. Mas era da malta, pá. A alegria daqueles dias. A gentileza daqueles dias. Era fantástica. Eu hoje penso que uma das coisas que faz muita falta neste país é a gentileza. Eu de manhã quando saio da minha casa cumprimento-lhe. Quando cruzo com os vizinhos, bom dia, como está? A um ou outro respondo. Falta-nos amabilidade. Dia 25 de Abril. Era amabilidade por todos os pornos. Dá-se cá um abraço. A gente estava a falar com pessoas, mas não sabíamos quem eram. Mas não interessava. Eram pessoas que estavam muito felizes. E eu, embora não tivesse nenhuma relação com os Moitais de Abril, eu estava muito feliz porque eu de alguma forma também pertencia à família. E tinha alguns deuses que eu conheci hoje pessoalmente. O pesar-a-correia, por exemplo. Que no Colégio de Moitais, tinha sido oficial do Colégio de Moitais. E tinha nos ditadores, ou teve assim mais escritos esta guerra não vai a parte nenhuma. Tinha eu 16 anos. E depois eu comecei a fazer uns disparatos. Nós fazíamos sempre uma recita no Colégio de Moitais. E um dia foi lá o General Spínola. Porque o Colégio de Moitais era suposto fornecer gente para a academia. E no meu curso foi um tipo para a academia, que era o mais burro, graças a Deus. E nessa altura houve uma cerimónia chatíssima. Que era um antigo aluno que tinha deixado a espada, tinha morrido. E tinha deixado a espada para o Colégio de Moitais. Houve uma formação fantástica. E vieram oferecer a espada. E nós tínhamos uma recita. E eu é que escrevi a recita. Foi a primeira vez que foi proibido. Porque um sequer que eu fiz, mesmo na altura do Espírito, foi um ex-aluno que era pobrezinho e que deixou o corta-linhas ao coelho. Foi proibido, claro. Mas eu lembro, desculpa, do General Spínola, que era um homem que estava. Eu lembro-me de eu estar a falar para nós, a convencê-los que a tropa era uma coisa maravilhosa. E dizia, nestas velhas paredes, onde eu andei, fui também ensinado ao Colégio de Moitais, era um monólogo de teatro de um mau Shakespeare. Mas pronto, havia isso. Agora, essa coisa daquele dia, é difícil de explicar a quem não viveu aquele dia. Eu hoje em dia passo os dias a ir às escolas contar o 25 de Fevereiro aos pequeninos. É uma tarefa que adoro. Esta semana já fui a cinco turmas do primeiro ciclo. E explicar-lhes o que era a festa, o que foi a festa daquele dia, o que foi o desabaste, o que foi o espanto, é muito difícil. Mas, quer dizer, o Carlos, só sentiu nada de festa, só tensão? Não, eu... Eu, como a maior parte dos ministérios que estavam envolvidos, nós tínhamos a consciência do que tínhamos feito. E tínhamos a consciência de que tínhamos dado um pontapé num pespeiro e que iria ser muito difícil, muito exigente, dar a resposta, isto é. A questão para nós não era a questão da alegria e da celebração, era a questão da responsabilidade e do que vamos fazer. Essa é a primeira grande questão. E aquele que se confronta, em primeiro lugar, com a alegria, mas também com o risco, é o Salgueiro Maia no carno. E aquele que abre a porta ao povo para vir para a Revolução é o hotel, que é quando o Maia lhe pergunta que o povo está a entrar aqui no carno e ele está na situação mais delicada que o militar pode estar, que é praticamente dentro de um alguidar com as suas armas, com os seus soldados e rodeado de gente, de pessoas, de jovens, de meninas e de jovens, onde passaria alguém a deixar cair uma lata ou a deixar acender uma carteira de fósforos para se percadear a um processo caótico e incontrolável. E, portanto, são estas duas personalidades que têm esta primeira embate com aquilo que vai ser o povo. E é o hotel que tem a intuição de dizer logo ao Maia que nós estamos a fazer uma revolução para o povo, o povo pode entrar. É a questão. Nos outros locais, em Angola, em Moçambique e no caso da Guiné, nós sabíamos que íamos tomar o poder numa situação de guerra, onde nós éramos responsáveis pelos nossos soldados e pelas pessoas que lá estavam, pelos colonos, éramos responsáveis pelas populações que tinham estado sob a nossa soberania e éramos também responsáveis por estabelecer relações com aqueles que tinham sido até aí os nossos inimigos. E éramos também responsáveis pelas relações que nós iríamos ter, que as colónias iriam ter e que o exército em cada uma das operações iria ter com a metrópole. Portanto, é toda a articulação de poder que vai ser feita. Há logo um que é nomeado encarregado-governo, é outro que é nomeado comandante-chefe, é outro que são nomeados comandantes de unidades e há depois militares que não estavam nem de um lado nem do outro, estavam dentro da hierarquia. Eu obedeço a quem for hierarquicamente competente, depois havia uns que obedeciam ao Espínola, outros obedeciam a esse, depois há outros que obedecem a quem cá está e somos nós que mandamos. Há depois momentos muito complicados com as chamadas tropas africanas que são sempre o elemento mais frágil que está nestes processos, na medida em que eles passam a ser considerados traidores pelos que vão receber. Há esta primeira fase, que é uma fase de golpe de Estado, claramente, com uma tomada de poderes num grupo que tinha já em si mesmo fracturas sérias sobre o exercício do poder, a forma como ele iria ser exercido aqui. E tinha-se fracturas sérias relativamente ao problema fulcral, que é o problema colonial. E, portanto, é esta a primeira questão. A segunda questão é que, em muito pouco tempo, aquilo que é previsto ser um golpe de Estado, vamos transformar isto e termos aqui um plano, passa a ser uma revolução. E este é o outro processo tremendamente complexo. Eu lembro-me que, em Outubro de 1973, além lá dos arqueiros, também tinha recebido o Prémio Governador da Guiné. O que dava direito a eu ter uma viagem, a TAP oferecia-me uma viagem para vir aqui à Metrópole. Eu vim com o José Manoel Arrozco, o jornalista. E o José Manoel Arrozco, que tinha estado ligado ao Partido Comunista, às eleições da oposição, tinha organizado um tour pela oposição aqui em Portugal. De modo a nós expormos a situação que estava a desenvolver-se na Guiné, que era uma situação de pré-catástrofe, de pré-falência, de derrota. E, portanto, as elites aqui assim, metropolitanas, deviam estar preparadas para qualquer coisa que viesse a ser. E realizou-se uma dessas conversas foi no escritório do Dr. Borges Coutinho, não o presidente do Benfica, mas o irmão do Marquês da Praia, que tinha um escritório num sítio agradável que era ali na Praça da Alegria, que era um sítio bem perfeito, e uma pensão com águas correntes em cima das quadras. E aquilo ainda funcionava. E ainda funcionava. Até-se uma reunião onde estava o Mário Mosquita, o Aronso Carvalho, estava o Borges Coutinho, estava o Jorge Sampaio, e eu levava um pequeno mapa, os militares funcionam bem com mapa, a explicar a situação e tal. E eles iam discutindo, era curioso, porque a oposição mais ou menos institucionalizada andava a discutir se os comunistas entravam ou saíam, qual era o papel deles, etc. E o regime andava a traçar, tanto quanto eu sei e me lembro, do plantio da Vinha, era o plantio da Vinha, e aquilo que me espantou foi, eu venho daqui em que o PSD anda a tomar guardições, tem a tomar duvidas, privilégios e tal, e andava esta mata daqui a discutir a lei do plantio da Vinha e o emparcelamento da propriedade rústica. Porque eu perguntava aqui, mas a mata está a andar aqui a discutir o quê? E então, para dizer que eu acreditei a situação, as pessoas olharam e tal, e continuaram basicamente a oposição. Até que eu lhes disse, os que são a elite aqui da oposição, preparem-se porque vai haver qualquer coisa de muito sério, e vocês são quem vai tomar conta, porque nós, os militares, vamos agora fazer as contas, é que não, é por isso que chamávamos o Bacalhau Salazar. E o Jorge Sampaio, eu penso que, eu sei que vai ser, os militares, então que façam isto, tomem o poder, porque depois vão ter o melhor da inteligência que há aqui em Portugal para governar. E foi o quê? Uma primeira assassination? Foi em outubro de 73. Ao 25 de outubro, nós sabíamos que aquilo tinha que acontecer, porque na Guiné aquilo caía, quer dizer, não havia força. A Guiné estava ocupada, já tinha ocupado uma guarnição portuguesa, que tinha caído, já tinha cercado duas guarnições, e estava, a Margarida nunca jogou damas, mas o problema é que eu tenho duas damas, e como uma, sempre vou comer, isto é, o Pérez sempre ia atacar duas guarnições e comia uma. E ia repetindo esta operação, ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, e ia repetindo esta operação, Em termos formais, as Forças Armadas Portuguesas e os Militares Portugueses eram considerados uma potência ocupante. O que é que quer dizer? Quer dizer que os nossos militares, se fossem presos ou feitos prisioneiros, ficavam numa situação legal muito complicada. ficavam numa situação legal muito complicada. em Portugal. Portugal e as Forças Armadas na Guiné tinham um passado de intervenção no estrangeiro tinham um passado de intervenção no estrangeiro que não era recomendável. Isto é, tinha havido um ataque a Conacri, tinha havido um ataque a Guilhages, feito no Senegal, nós ocupámos a Gré-Route do Casa Mansa, que era a outra estrada do Casa Mansa, tinha havido militares nossos que tinham feito uma razia pela fronteira toda norte, que eram flupos, que eram caçadores de cabeças, e com esta situação ainda teríamos pior. e com esta situação ainda teríamos pior. Portanto, por outro lado, nós sabíamos, e isto está agora a ser explorado, sabíamos que o espínola tinha entrado em ruptura com o Marcelo Caetano, isto é. Nós, os militares que estavam na Guiné, sabíamos que o governador e o comandante-chefe, que tinha entrado até ao momento, tinha-lhe proibido de ter contato com o Amilcar Cabral, que entretanto foi assassinado, através do Luipo Senghor, na Guiné, quando o espínola faz uma lei orgânica para a Guiné, ao arrepio da lei orgânica do Ultramar, que tinha sido aprovada aqui, o Marcelo Caetano envia uma carta e o espínola fala ao grupo, ao mais próximo, de uma ruptura clara, de que havia perdido a confiança no Marcelo Caetano e o Marcelo Caetano tinha perdido uma confiança nele. E a desconfiança era de tal maneira, que em Agosto de 73, o espínola tem uma situação militar e política interessantíssima, que é, ele sai da Guiné sem se despedir, vai passar férias, como ele passava no saco, à água, e no final das férias era suposto, como qualquer militar, embarcar e regressar à sua situação. E ele o que faz é apresentar-se no gabinete do primeiro-ministro e diz vem dizer que já não vou e que regressei para ficar. Isto é, ele não é demitido, não é, não lhe é dada por fim da comissão, é ele que decide ficar aqui em prisão. A ideia que dá é que da parte do Marcelo Caetano havia um grande desnorteamento, porque ele estava lá da Guiné e dos terrenos, não sei o quê. Estavam a fazer em um zóio. Essa era a impressão que existia. Isto foi. Nós vivíamos aqui em Portugal, aparentemente uma situação que foi relatada pelo pai do nosso querido presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi governador em Moçambique. E essa é a situação que vivia aqui e pode ser reproduzida pela frase ou pela expressão que ele deu sobre as relações de poder em Moçambique. Dizia ele assim, isto de Moçambique tem um poder muito estranho, que é, quem devia mandar mais, não manda nada, que é o governador. Quem devia comandar a tropa, quem devia comandar a tropa, não manda na tropa. Quem não devia mandar é nada, manda nos civis e manda na tropa, que hoje nem é jardim. Ora bem, aqui em Portugal vivia-se um pouco esta situação, isto é, aparentemente o primeiro-ministro já não governava, porque já tinha sido demitido duas ou três vezes na República, também não mandava. O chefe de Estado-Maior, General, que era o Costa Gomes, mandava, mas mandava nele. Já não obedecia nem ao ministro da Defesa, um meia-anal, como é que ele se chamava? Xavier Narvel. E não obedecia, obedecia mais ou menos ao primeiro-ministro. Agora, o que nós sabemos hoje, e isto serveu de base de trabalho com o Aniceto Afonso para os trabalhos da história, é que o Marcelo Caetano, nós pensámos sempre... Bom, o Marcelo Caetano obviamente não é estúpido. Não tem vocação suicida. Portanto, é um jurista relativamente religioso e, portanto, não está para se suicidar nem fisicamente nem politicamente. Portanto, ele tem que estar à procura de qualquer coisa. E aquilo que nós viemos a saber é que ele, pelas suas vias, andava a conspirar e a trair todos os outros, isto é. Ele tinha proibido o Spínola de estabelecer contactos com o PAGC através do Senegal. Mas, entretanto, promoveu uma reunião em Londres e mandou um diplomata da sua confiança, que estava em Geneve, ir falar com o PAGC, com dois quadros do PAGC, a Londres. Ele não aceitou ou não aceitava uma independência ou uma relação ou não aceitou uma possibilidade de saída na Guiné... em Angola, com a Operação Madeira. Portanto, com a atração do Estado de Imbi para um lugar e para se integrar numa... num Estado, mais ou menos, plurirracial. Mas nós soubemos depois que ele estava a entrar em contato com o MPLA através do asilo de imprensa na Embaixada de Roma sem conhecimento do próprio embaixador. E, por outro lado, e sem conhecimento, curiosamente, do Rui Patrício, que morreu agora há dias. E, por outro lado, estava a estabelecer relações com a Fé-Limo através do Guiné-Jardim e do Kennedy-Caounda em que fizeram dois acordos em que estabeleceram dois acordos, foram chamados os acordos de Lusaka I e Lusaka II. Ao contrário do que as pessoas pensam que no Estado Novo estava tudo muito bem e consolidado e era atividade afinal, era uma grande rebaldaria? Não, não era uma rebaldaria. Eu penso que era uma sociedade muito normal. Isto é, era uma sociedade só não era democrática, mas de resto era plural. Porque havia pluralidade e mais ou menos. Digamos... Não era bem uma orquestra em que tivesse naipes, organizados, partidos mas era uma orquestra em que cada músico tocava a sua. O que não dava depois para fazer aquilo que era uma sinfonia. Isto não é uma sinfonia. Mas tinha todas essas contradições no seu seio. E o 25 de Abril a resultante do 25 de Abril são duas fações vencedoras que é a fação do movimento dos Capitães e é a fação do Sepulcro porque havia várias outras. E são estas fações que fazem uma união funcional e de interesse. Era uma geração de Capitães muito no Rio de Janeiro. É a geração que nós temos que designar que é a geração dos dilemas. Porque é a geração que vai para a academia militar e que já não tem ligação nenhuma nem nenhuma lealdade ao Estado Novo. Porque é tudo uma geração do pós, dos baby boomers. E portanto nós, quando jurámos bandeira, não jurámos a bandeira que os outros tinham jurado, nem ao salazarismo, nem ao Estado Novo e nunca entendemos que o salazar fosse o contestável e menos ainda considerámos que o marxloquetano fosse o contestável ou que as cortes estivessem reunidas em São Bento. A primeira vez que eu entrei em São Bento, e se calhar tu foi quando houve as eleições para a Assembleia Constitucional. Era um sítio onde estava um petusco que era escolhido assim pelas freguesias e havia assim os tipos que pensavam. Mas essa é a questão, isto é, o que sai... Portugal em 74 era já uma sociedade muito, muito complexa. Aliás, aquilo que faz com que o Spínola não seja capaz de se manter no poder porque ele vem de tal sociedade de fazer tais discursos que o José Penha estava a falar conheço-os a todos e tal e estou aqui para vos dar, nem que seja um poço e tal, e eu tinha a política da palhota e do pau-de-cibo e tal. Ora bem, aqui havia bairro da Lata mas a malta não queria mais bairro da Lata. Quer dizer, aquilo já não era essa a questão. Portanto, o que há é um processo complexo de jovens e jovens que queriam ser europeus. O que nós, eu, o Maia queríamos era passar férias no estrangeiro ouvirmos as músicas dos Beatles, namorá-los de jovens raros. Há uma frase que faz parte da minha vida e que faz parte da tua também com certeza que era, lá fora lá fora é que conhecia tudo. Lá fora havia música. Havia jeans. Havia camisas com flores. Lá fora havia droga. Lá fora havia make love not war. Lá fora havia... Eu gostava de contar aqui porque há muita gente que não sabe esta história. Estas histórias era proibido dar um beijo na boca em público nos anos 60. Eu conheço o capitão de Abril e a sua futura esposa que estavam a namorar eu ia ser capitão de Abril mais tarde e ia se casar com ela com a namorada. Estavam a dar um beijinho na boca na rua, dentro do carro. Veio um policia prendê-los que estavam a insultar os bons costumes foram para a esquadra até que o senhor tenente, na altura tirou a identificação e se fizeram a continência, desculpe o tenente. Mas lá embora que não cantava mais nada Mas há aqui uma coisa que eu acho que é muito curiosa que o Maitre Gomes o Maitre Gomes me explicou uma vez e eu fiquei muito eu estava convencido um pouco que os estudantes tinham ido para a guerra e que tinham começado a levar umas ideias novas aos militares. Tinha um bocadinho essa ideia e essa ideia espalhou-se muito e um dia num debate também o Maitre Gomes irita-se todo e diz os homens da guerra a partir da altura em que começa a guerra têm a certeza que aquela guerra não tem futuro nós só não sabíamos é como é que acabávamos com ela. Mas isso é o que eu supino já agora. É isso que é interessante ver até agora saiu mais um livro sobre o Renato Pino feito pelo João Céu e Silvio. A grande questão que se coloca para o Renato Pino é como é que ele faz aquele percurso até chegar ao 28 de setembro e chegar ao L. Porque o Pino lê toda a literatura que qualifica aquela guerra como uma guerra subversiva e que só tem uma solução política isto está completamente interiorizado nele e ele durante os 5 anos em que está na Guiné ele faz sempre esse discurso e eu ouvi-o fazer várias vezes esse discurso e o discurso que ele fazia aos comandantes dos batalhões e das unidades que chegavam a Bissau era tão arrepiante quanto isto vocês, a tropa acabada de chegar não despeçam que ganhem a guerra ele tem a noção clara de que uma solução política necessita de tempo ele tem essa noção e essa era a noção que nós tínhamos isto ano agora, ao limite do tempo e ao limite das circunstâncias a partir do momento em que nunca há sobrações as tropas convencionais, as tropas ocupantes estão em falem-se, portanto, estão em inferioridade tecnológica e tática, isto é as armas portuguesas eram piores do que as armas dos guerrilheiros os guerrilheiros tinham melhor treino do que os nossos soldados tinham melhor motivação e tinham melhores comandantes e o único diferencial era a superioridade aérea se tivéssemos muito mal vinham uns fietes bombardeados mas a partir de 1973, abril até isso desaparece quando o PSG introduz os mísseis antiaéreos do Estrela na Guiné, que era uma coisa que hoje se sabe que nós devíamos saber, mas que o tipo que recebeu o manual do Estrela, meteu dentro de uma gaveta e nunca... o que levou é que quando aquilo aparece e começam a cair aviões e morre uma neta esquadra, um comandante-coronel se faz uma reunião na base aérea em que nós nos comandos andávamos no helicóptero, apercebemos muito os aviões os pilotos também, para criar uma relação próxima e ninguém sabia o que era aquilo isto é, não se sabia o envelope de voo dos mísseis, essa coisa toda e andava tudo, os pilotos não sabiam andava agora uma mão no manche do avião e outra mão na argola da carreira de injeção era assim que era o jornal e portanto, começa toda a gente a fazer perguntas, agora como é que fazemos vai um avião em cima, vai outro em baixo mas ninguém sabia, e então há uma resposta há uma decisão do comandante da zona aérea o Lemos Ferreira, que depois foi o jornal de quatro estrelas que acabou a reunião, portanto já não andava disso eu não sei, mas passo a explicar e então definiram-se ali as regras, e essa frase ficou para todos nós, nós quando estávamos sem saber eu não sei, mas explico era este o processo e foi assim que se fez e se derrolou a parte final da guerra nós sabíamos que aquele era um processo político, e sabíamos e portanto não precisávamos que viesse a mapa da faculdade para dizer para nos dizer o que é que estava por trás, porque nós tínhamos lido os livros todos que eles não tinham lido o manual da guerra sucessiva das forças armadas portuguesas como a guerra do americano, o inglês e o francês devia as doutrinas do Jato devia as doutrinas do Mao Tse Tung os franceses tinham devido as doutrinas que não tinham sido aplicadas na Angélica e nos chinos, e os ingleses também e nós conhecíamos também a questão da guerra do Vietnã e portanto sabíamos exatamente o que estávamos a fazer mas voltando agora um bocadinho à ficção inspirada na realidade aqui há várias personagem que têm uma expressão que estão a perder os piores anos da vida deles na guerra, na talidade dos Vincitais na talidade do dilema sentiram isso? essa é a questão do serviço militar obrigatório o que é que acontece os jovens oficiais eu na primeira comissão tinha 20 anos os soldados eram mais velhos que eu o sargento era mais velho mesmo na unidade de comando onde eu estava e tinha militares que tinham vindo de experiências muito diversificadas umas do interior rural mais profundo e outras de tipos até que vieram dos transéticos tinham vindo da África do Sul fazer o serviço militar tinham vindo de França que já eram emigrados tinham visto toda a realidade de militares que uns eram casados e divorciados que tinham tido problemas familiares mortos, traições e nos comandos havia ainda uma fauna mais complexa quer dizer que essas experiências deles passaram para nós, nós sabíamos de onde eles vinham e qual era a realidade do país e em segundo lugar nós também tínhamos uma perspectiva do futuro porque nós perguntávamos quando acabas a comissão o que é que tu vais fazer e aqui o que era a resposta mais comum agora vou-me baldar, vou emigrar vou para a França, vou para a Alemanha a noção que nós temos é mas que raio aqui estes jovens, até alguns deles estrangeiros fazem a guerra, morrem, ficam sem perna não são suicídos, andamos aqui com o mochila às portas a apanhar o cacimbo e agora eles regressam e não têm sequer um local de acolhimento isto é, vão ficar uns no desemprego porque o que eles recusavam era voltar às antigas atividades, isto é, aqueles que estavam no campo não iam outra vez apachentar cabras e os que tinham andado na guerra e que não tinham visto os filhos crescer havia todas estas linhas tudo isso existia e não ver os filhos crescer era uma coisa agora ver a mulher engravidada quando eles cá estavam, lá estava ela e era outra e portanto havia todas essas situações de famílias que morriam os amigos porque depois eles trocavam irmãos portanto, aquilo que nós os jovens militares conhecíamos conhecíamos muito bem a sociedade e foi a minha primeira intenção ao escrever o nosso ego foi o sentido de ver isto eu pensei eu vivi coisas tão esquisitas e conheci tantas coisas que eu tenho o dever cívico também de transmitir essa experiência e também de prestar homenagem a estes tipos que andaram atrás de mim porque já agora, comandar é representar não tem dúvidas, não tem medo e daí, a homenagem que eu fazia com os meus soldados é que quando nós vês no filme, vai tudo em fila indiana todos atrás dos outros, e às tantas os trilhos paravam e havia um trilho que ia para a direita e outro que ia para a esquerda e o número um parava, agachava-se por aquilo então, o comandante à frente e eu fazia tanta ideia de onde estava quanto eu direita chegávamos à frente, prendíamos-nos numa base como é que o senhor sabia que era aqui? por isso é que eu sou o comandante e portanto estes tipos que tinham acreditado mereciam que eu os colocasse para a história, e essas figuras estão na história qual é que é o inconveniente que houve aqui? é que eu tentei encontrar estereótipos juntando várias para construir personagem o que depois levou a falta o que depois levou a quê? a que houvesse militares que se tenham identificado com estas personagens o que também não é agradável, um dia estava em casa e recebo um telefonema de uma voz grossa que eu sabia mais ou menos quem é daqui é o Anjo o sargento tem-se? mas quer falar contigo eu estava na altura na ajuda e combinarmos então encontrar-nos naquele café que está ao pé do comandante e vejo um tipo vestido de fato, casaco, gravata barba feita, com ar e eu e ele então o que é que se passa? eu digo-me assim, o meu capitão e agora peço desculpa julga que eu sou paneleiro mas porquê? porque há uma personagem lá no seu livro que diz que aquele sargento era disciplinado e disciplinadora e eu digo exatamente a mesma palavra porque os louvores têm uma norma, uma fórmula e então ele identificou-se com aquela personagem até eu o convencer outro foi um tipo que teve um papel importante no 25 de abril que foi o Lino que era um alférez que estava e depois teve um papel aqui no 25 de abril que foi ele aliás que está na fotografia a esperar o cunhal e então há uma personagem que se chama o Lino e que tinha sido seminarista e que era onanista mais ou menos o que é que acontece? há uma personagem aqui que tinha passado por completo a ideia do nome o Lino é um nome curto, é bom para ver nos romances não fazia ideia nenhuma que o homem tinha sido seminarista mas tinha o que é que acontece? os destruendos cadetes que estavam na altura em Lamega que era dos romances veio o Lino e espalha por esta tropa que aquele Lino que jogava em chão e os mandava atirar para o chão e as cabalhotas e aquelas coisas todas era o Lino que estava no Lino foi excelente porque compraram quase tudo do Lino mas o Lino ficou com a moral completa mandou um outro oficial vir a minha casa falar comigo eu tive que ir a Lamega quase como o Lino a criação das personagens e a tentativa de elas serem o mais real possível e corresponderem a um tipo também tem as conveniências de depois ter alguma visão já agora que entraste em Carlos Vaz eu ia ler uma citação que diz só a ficção me permite experimentar o que julgo saber sobre os homens que querem ser heróis e sobre os status que utilizam esses homens para ser respostos a tudo para os seus fins é terrível mas já agora eu tive uma experiência com o Carlos tive várias experiências e tenho uma admiração profunda pelo Carlos e uma gratidão por ele e por todos os militares que fizeram mas um dia eu fui apresentar um romance dele em Coimbra e a certa altura o público começou a falar e começamos a perceber que estavam vários antigos combatentes daquela associação dos antigos combatentes que não são propriamente pessoas que acham muito simpática o 25 de Abril e começaram a fazer uns voluntários um bocado manhosos fizeram uns velhinhos e de repente o Carlos uma palmada na mesa e ele quando dá palmada na mesa dá mesmo palmada de sério e diz olha eu combati no Senegal, na Guiné-Bissau na Guiné-Coráquio, no Malauí e numerou todos os países onde combatiu é preciso explicar mais alguma coisa é preciso explicar mais alguma coisa e mais ninguém abriu a boca porque este homem e muitos oficiais e militares portugueses tiveram correram muita guerra correram momentos dramáticos e foram fantásticos o seu maior ato de heroísmo foi fazer o 25 de Abril foi dizer não há guerra e isso é um ato de heroísmo absolutamente extraordinário mas para caminhar é uma necessidade da ficção uma necessidade do simbólico é claro, isso eu acho que todos nós precisamos de simbólico todos nós precisamos de contar histórias que vivemos todos nós precisamos disso passar por um frio da memória perceber o que é que eu me lembro é verdade ou não é verdade ou não é totalmente verdade e trabalhar essa memória com palavras trabalhar, limpar essa memória com as palavras que são podem ser maravilhosas e podem ser terríveis e que nos faz tremer muito quando escrevemos e todos temos de estar muito agradecidos por os teus romances mas o Zé Penha tem pelo menos dois poemas não sei se saberás de cor sobre o 25 de Abril sobre o 25 de Abril acho que se tornou uma espécie de sino sim, eu acho que está no telemóvel se usásse lá a fotografia não é que tens aí de momento tenho uma antes tivesse que mandar um bocadinho em que estou vestido de palhaço então, mas enquanto o tempo procura eu ia fazer uma por uma questão e se calhar abrir atenção também aqui à assistência uma pessoa que sabe tanto sobre guerra e viveu em várias frentes em vários países e teve tanto embate com tantas perspectivas e que reflete tanto sobre isso além dos livros de ficção também escreveu em ensaios e como historiador não está a comentar na televisão não estou porque eu tenho pouco não tenho efeito eu escrevo ficção mas não vou fazer ficções na televisão há quem faça estes números eu entendo que não outra questão é que relativamente aos livros é muito difícil ser ao mesmo tempo ator e narrador isto acontece e aconteceu nos romances mas acontece também muito nas descrições que estão a ser feitas da guerra por vários antigos militares mas acontece também muito sobre a participação no 25 de Abril aquilo que eu entendo é que os atores devem fazer uma narração mas não devem entender a sua narração como a verdade mas apenas como uma interpretação que permite que outros cheguem o mais próximo possível de uma realidade e aquilo que... não há nada novo debaixo do sol relativamente às guerras que estão hoje a ocorrer elas obedecem exatamente aos mesmos princípios que todas as outras guerras só os comentadores é que mudam e os mortos não há mortos repetidos esta é a situação honestamente é difícil ou aceitável que eu fosse porque tudo aquilo que está a ocorrer são filmes já vistos a primeira grande questão é esta aliás até há um provérbio brasileiro não se pode cutucar a onça com uma vara curta isto é, quando um tipo não tem armas e se vai meter com uma potência que tem armas nucleares pode demorar um ano, dois, três mas que a solução é aquela, é aquela quando há uma situação em que há uma ocupação de incompatíveis há sempre a eliminação dos outros o que está a acontecer em Israel já aconteceu com as chegadas dos espanhóis à América do Sul eliminaram os índios aconteceu com o Brasil e aconteceu com os irlandeses e com a ralé europeia quando chegou aos novos continentes eliminou os povos fastáveis é evidente que isto não se pode dizer posso dizer mas ninguém quer nenhum diretor de nenhuma televisão quer um tipo que tem um passado dizer isto eu já ouvi dizer uma expressão eu não posso ir dar ração aos animais mas de outra maneira há uma necessidade não sei se sempre houve agora se calhar é mais fácil expandi-la ou disseminá-la há uma necessidade muito grande de heróis de emoção, de vilões é assim que as pessoas querem ver a história eu conheci os heróis todos borrados de medo conheci os grandes homens é a nossa geração, a geração dos dilemas outro dia o meu editor o Vasco disse que tem uma lista juntando os nomes das pessoas todas de grandes personalidades que é espantosa conheci muitos dos grandes homens os grandes homens não existem não existem, ponto final há grandes homens há grandes papéis, há artistas que estão num determinado sítio num determinado momento e acontece-lhes um papel do qual eles se desembaraçam muito bem, é um pouco como os gatos os gatos não foram treinados para fazer saltos mortais mas se eles tiverem necessidade eles fazem triplos e quadros de saltos mortais e os grandes homens são um pouco como os gatos em dificuldades a única forma dos gatos caírem em costas eu tretei-me aos gatos quando era miúdo é atirá-los pegando pelo rabo e uma perna porque eles não conseguem dar o golpe de raiz bom, eu sei que vocês são loucos o que é que isso quer dizer? nós, os telespetadores não podemos desacreditar os heróis porque aquilo vive de vibradas vive de heróis, vive de tipos que se vestem de verde claro para dizer as maiores alarvidades vive de famosos que nós não fazemos ideia normalmente é uma má fama mas é uma má fama que não pode ser há um certo gosto assim pelas figuras grotescas e ridículas é exatamente o grotesco mas comentado o grotesco o grotesco tem duas formas de ser explorado as igrejas exploraram muito o grotesco e os poderes exploram o grotesco para desviar as atenções do poder é por isso que os anões eram normalmente grotescos cabecudos e anões os bobos da corte e portanto os bobos da corte são hoje a trupe de comentadores aquilo funciona como uma trupe de salto em banco para animar nós vemos as coisas e depois no intervalo vem a trupe dos faz-tudo e é por isso que eu não estou disposto a fazer este livro não sei se o Zé encontrou encontrei então se calhar era uma boa forma de terminar eu pensava tu não tens aquele chato que faz a inteligência artificial este poema escrevi logo em seguida ao 25 de abril e nessa altura o meu sogro era um era um escritor neorrealista muito chato com quem eu não tinha uma boa relação porque eu tinha lhe roubado a filha ele nunca me perdoou e não podia uma hipótese de me encalhar um bocadinho mas é aquele poema estúpido estúpido que sou e ele olhou para mim e disse-lhe vou-te continuar a escrever estúpidos a minha mulher era professora da universidade é uma mulher fantástica com quem tenho um filho fantástico e duas netas em comum mas na altura ela leu aquilo e eu li-lhe e ela disse ai é giro pai é giro é o giro e o interessante é isso mesmo e depois conclui aquele concurso que muitos daqui terão visto e disse o poema em público a visita da cornelia teve no dia em que eu entrei para lá 5 milhões de espectadores voltei para casa e não voltei a sair durante 4 dias mas o que é facto é que o poema acabou por ser e tenho uma grande alegria porque acabou por se tornar além de muitas outras canções e poemas de cantores do Zeca do Manuel Alegre e demais entrou nesse cancioneiro da alegria para o 25 de abril Eu sou português aqui em terra e fome talhado feito de barro e carvão rasgado pelo vento norte amante certo da morte no silêncio da agressão eu sou português aqui mas nascido deste lado do lado de cada brisa do lado do sofrimento nasci deste lado da cidade nesta margem no meio da tempestade durante o reino do medo mas sempre a apostar na viagem quando os frutos amargavam e o ar sabia a dedo eu sou português aqui num teatro mentioso mas afinal é verdadeiro na finta fácil no gozo nasci deste lado da ternura de um coração esfarrapado eu sou filho da aventura da anadolta do acardo campeão do improviso trago as mãos sujas do sangue que empapa a terra que piso eu sou português aqui na valentina em que eu merulho no gesto desmesurado nos cordeios do desarrasca nasci aqui no mês de abril quando esqueci toda a saudade e comecei a inventar em cada gesto a liberdade nasci aqui ao cadomar de uma garganta magoada no cantar eu sou a festa inacabada quase ausente eu sou a liga a luta antiga eu sou o português aqui o português sem mestre mas com jeito eu sou português aqui e trago o mês de abril a voar dentro do braço muito obrigada a ambos muito obrigada a todos que estiveram aqui durante esta hora e meia e aí

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