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#18 | Farrapo Humano (1946)

#18 | Farrapo Humano (1946)

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No ar o podcast “Filmes e Drinks”, em que comentaremos todos os vencedores do Oscar de Melhor Filme desde o início da premiação. Neste episódio conversaremos sobre o filme Farrapo Humano (The Lost Weekend), vencedor do Oscar de Melhor Filme em março de 1946. Nossos links estão aqui: https://linktr.ee/filmes.e.drinks

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Welcome back to the Movies and Drinks podcast, where we discuss all the winners of the Best Picture Oscar. In this episode, we talk about the 1946 winner, "The Lost Weekend." The film explores the topic of alcoholism and portrays it as a disease rather than a moral issue. The performances, particularly by Ray Milland, are praised, and the film effectively showcases the protagonist's descent into addiction. The movie received critical acclaim and was successful at the box office. It won three Oscars, including Best Director for Billy Wilder. Overall, it is a relevant and important film that provokes discussion about alcoholism. Bem-vindos de volta ao podcast Filmes e Drinks, em que iremos conversar sobre todos os vencedores do Oscar de Melhor Filme. Estivemos ausentes nesse período entre turnos e depois obviamente uma semaninha para curar a ressaca da vitória e estamos de volta no mesmo ponto em que paramos. O Filmes e Drinks está presente em diversas plataformas, Twitter, Facebook e Instagram. Os episódios estão publicados no Anchor, iTunes, Google Podcast e Spotify. Assine nosso vídeo no seu app preferido. Em nosso 18º programa, vamos conversar sobre o vencedor da edição de março de 1946, Farrap, do original The Lost Weekend. Eu sou Marcio Cavalli, estou com o Joano Guimarães, nosso especialista em análise sócio-filme e casamestra em divulgação e cinefila Carolina Guimarães. Desta vez, dado o tema do filme, eu gostaria de começar a descrição para cachaceiros com um beba com moderação. E assim, moderadamente, estou tomando uma dose de cachaça com licuri, comprada lá na Chapada Diamantina, em Lençóis. E vocês? Essa foi especial, hein? Eu estou tomando uma taça de vinho, é um Caminé fileno. E eu estou tomando uma taça de vinho isabel, que é um português. Muito bem. Então, avisando que, como sempre, a discussão que vem adiante vai estar cheia de spoilers. E também, como sempre fazemos, para iniciar eu vou usar um trecho com impressões da revista Variety, de 10 de agosto de 1945, em crítica não acreditada, para sentimos a recepção do filme na época. As filmagens de farrape humano pela Paramount marcam uma conquista particularmente notável no cenário de Hollywood. O estudo psiquiátrico de um alcoólatra é um quadro incomum, denso, mórbido e opcional. Aqui está uma dissecação inteligente, um dos males mais desenfreados da sociedade. Ray Milland e Jane Wyman são um emprego. É um sucesso de bilheteria. Mas esse não é um filme para servir de puro entretenimento. Um filme que tem riscos, ou jogos, ou diálogos elétricos ou inteligentes, é surpreendente e, em sua vez, maníaca. Foi preciso coragem para a Paramount violar as regras cardinais de bilheteria para filmá-lo. Antes de passar a palavra, queria falar para vocês que o filme tem nota 7.9 no IMDB e no Rotten Tomatoes com 97% de crítica e 90% do público, que são algumas das notas mais altas até o momento nesses indicadores. E, finalmente, queria lembrar que o filme venceu três categorias, tendo levado, além de melhor filme, Billy Wilder ganha o primeiro de seus dois Oscars de melhor direção e ainda temos melhor ator para Ray Milland e melhor roteira da América. E aí eu passo a palavra. Oi, gente. Vocês não sabem o prazer que é estar de volta depois desse ato. Estava com saudade desse programa. Esse filme é um filme que até hoje, apesar do tempo que passou, é um filme bastante atual na discussão que ele traz e no retrato que ele faz a respeito do alcoolismo. Acho que é importante, eu acho até um pouco impressionante, numa época muito mais conservadora, o tipo de retrato que ele faz e a discussão que ele aborda, trazendo uma representação muito socializada do que é e tratando o alcoolismo de fato como uma doença que é e não como uma questão moral. Eu acho que faz desse um filme muito moderno. Eu gostei bastante disso, eu acho que é um filme enxuto, ele não é muito longo, ele não romantiza o alcoolismo, mas, ao mesmo tempo, ele provoca uma simpatia, ele humaniza do protagonista. Realmente o Ray Milan está muito bem no papel e ele traz também alguns elementos fímicos muito interessantes. Eu acho que ele tem um trabalho de direção também muito bom, eu me achei super merecido esse Oscar. Principalmente como ele vai retratando a decadência do protagonista, que é o Don, é Don, gente, o nome dele? E como ele vai entrando naquela paranoia, naquele pesadelo e o que ele faz cinematograficamente para representar isso em tela, eu acho muito bem feito, muito sofisticado. Então, é um filme que eu gostei bastante, eu acho que ele é super importante, acho que o debate que traz é super atual e a única coisa que eu não vou aceitando foi a namorada dele, a figura da mulher ali num papel muito de santificado, de redentora e salvadora, que aquele amor ali faz ela ficar do lado dele para o que daí vier. Eu não acho que é um exemplo saudável de relacionamento, então eu fiquei meio assim, mas de uma forma geral, é um filme que eu gostei bastante. Bom, eu comecei o filme ali no início, logo, eu tenho muito problema com, é um problema mais da minha, digamos assim, da minha forma de ver o mundo. É muito mais comigo, eu tenho uma dificuldade muito grande com pessoas que se entregam assim, né, porque, enfim, e se entregam, que eu digo no sentido de que caem nessa coisa da impossibilidade, porque a justificativa inicial, quando começa o filme, a justificativa é aquela coisa que eu queria escrever, mas eu não conseguia escrever, então eu comecei a beber, porque eu não conseguia escrever, e aí eu bebia, e aí a bebida foi sendo, digamos assim, funcionando como uma fuga, e tal, e tal, e tal. Então, nesse início do filme, eu tive uma certa dificuldade, porque eu tenho uma dificuldade de lidar com essa coisa, esse meu pragmatismo muito forte, e acaba me dando uma certa dificuldade de lidar com essas coisas. Mas, a partir do momento, essa construção que o filme vai tomando ao longo do tempo, e aquela degradação que vai tomando conta do personagem, e eu achei ele muito bom, o ator faz muito bem, as caras e bocas que ele faz, toda ação do filme vai construindo aquela degradação, e você vai começando a meio que sentir a angústia que é aquela dependência que ele tem, né, a angústia, quer dizer, a gente fica angustiado de ver aquilo, e acho que é exatamente o propósito do filme, né, a gente vive a angústia que ele vive ali, o desespero que ele vive quando ele tenta achar um dinheiro, tenta buscar alguma forma, quando ele pega aquela máquina de escrever, por exemplo, sai andando, tentando achar um lugar para comprar a máquina dele, vender e comprar bebida, quer dizer, você sente ali o angústia e o desespero dele, e aí o filme traduz isso muito bem, e você vai meio que sentindo o drama que é a questão do alcoolismo, né, e eu achei também um filme muito bom, no início do filme eu falei que o drama, ai, tá muito chato, mas depois de um tempo, quando a gente começa a entrar no personagem, a partir daquele momento que ele cai ali, e ele é levado para aquele local onde tem os alcoólatras e tal, então, a partir daquele momento o filme começa a ganhar aquela coisa meio, tipo, aquela angústia que é o que o autor, o diretor, tenta passar, ou passa muito bem, não tenta, mas passa muito bem para a gente, né, e aí você meio que cai na linha do filme e na compreensão do que é essa doença, né, que é o alcoolismo. É, vocês duas falaram da atuação dele, esse é o tipo de filme que só funciona se o ator principal funcionar, né, sem jeito, totalmente dependente, e realmente ele estava muito bem. Enquanto eu assistia ao filme, eu me lembrei de outro filme que trata de assunto semelhante, que é aquele Despedida em Las Vegas, não é isso, com o Nicolas Cage e a Elisabeth Schull, e é um filme que é pior do que esse, mas é um filme interessante, mas tem uma fala do Nicolas Cage ali naquele filme que eu acho mais interessante no sentido de não situar essa questão do porquê o personagem principal está bebendo, no caso lá do Despedida em Las Vegas, o Nicolas Cage vai para Las Vegas para morrer de beber, é o objetivo dele, e a uma certa altura ele fala Eu não lembro se eu comecei a beber porque eu perdi a mulher e o emprego ou se eu perdi a mulher e o emprego porque eu comecei a beber. Então, eu acho que coloca um pouco num véu, mas ao mesmo tempo os motivos, mas ao mesmo tempo não cai nesses perigos de roteiro, né, de colocar uma justificativa. Eu ainda acho que, apesar de ser uma coisa meio fútil, como a Joana diz, pelo menos o roteiro não coloca um Ah, ele perdeu a mãe, a filha e a esposa em um acidente. Daria uma justificativa mais forte, mas ao mesmo tempo fica uma coisa de Ah, então é isso, no desespero pode, na coisa fútil não. Me parece que o foco foi muito mais no vício em si. Não sei se a Joana concorda. Exatamente isso. Eu acho que o início do filme me pareceu uma justificativa do porquê que ele bebia e porquê que ele virou uma alcóolatra. Quando o filme sai dessa narrativa e passa a ser exatamente o vício em si, aí o filme fica interessante. Aí o filme me pegou nesse momento em que ele passa a tratar o vício em si, independente do motivo. O motivo é o que menos importa. O que importa é que o cara é uma alcóolatra e que não importa porquê que ele bebe, porque o que levou ele a beber, isso não interessa. O que interessa é o vício que toma conta dele. E aí o filme fica interessante, porque sai dessa questão de que existe um motivo para a pessoa beber. Porque, em princípio, ali ele não tem motivo nenhum. Um cara bem nascido, bem vivido. Ah, porque eu estou frustrada que eu não consigo escrever. E morreu neve. Mas o filme sai dessa narrativa do porquê, porque ali não interessa o porquê. Ali o que interessa é o quão o vício provoca estragos na pessoa. Eu acho que o filme sequer dá um peso tão grande nesse negócio do porquê. Ou porque vem na hora que a namorada Helen descobre que ele é alcóolatra e ela quer saber porquê. Porque esse é um impulso humano também, né? Mas porquê que você bebe? De onde vem isso? E ali ele traz essa justificativa de que é... Ah, eu queria escrever e não conseguia, e aí eu comecei. Que não é uma justificativa, porque não existe justificativa para isso. É simplesmente uma doença que a pessoa adquire e que pode começar por nada. Assim, simplesmente as pessoas podem beber socialmente e parar de beber e algumas pessoas simplesmente não conseguem parar. É uma doença complexa, tem várias questões ali e não precisa de nenhum motivo específico para acontecer. Nesse sentido, eu acho que o filme até não põe tanto peso nisso, né? Porque ali é muito mais... Podia ser qualquer coisa. Eu acho que o que traz ali muito mais naquela cena, muito mais do que ele explicando para ela o motivo dele ter começado a beber é muito mais um desenho da personalidade dele, assim. De uma certa frustração que ele tem, dele enxergar a si mesmo antes como uma pessoa que tinha um futuro brilhante e ele não conseguiu realizar esse futuro que ele tinha em mente. Então, eu acho que isso é até uma questão que contribui para a humanização e contribui para esse sentimento de empatia, porque é uma frustração muito humana que qualquer pessoa poderia se colocar no lugar dele ali. Dizer tantas coisas que eu quis fazer, tantos sonhos que eu tive e eu não consegui realizar. E é uma angústia muito genuína isso, assim. Então, não é exatamente o motivo concreto, mas uma angústia humana que está dentro de todos nós. Então, eu acho que ali é muito mais uma cena que desperta empatia, que desperta uma conexão até. Porque você pode colocar qualquer coisa naquele ali, não conseguir escrever. Você pode colocar suas próprias expectativas, você como espectador, para a sua vida, de sonhos que você tinha e não conseguiu realizar e bater diferente. Então, é um filme que é inteligente nesse sentido, de humanizar o personagem, fazer você se relacionar com aquele personagem, mesmo que ao mesmo tempo você tenha uma certa impaciência com ele. Porque, de fato, por que você fez isso? Você não está vendo que você está se matando? Para, para. E ele não consegue parar. E esse desespero dele é muito bem retratado. Até tem uma cena, acho que é logo no início também, que ele tem um copo vazio do lado dele e aí a câmera vai entrando, chegando perto, chegando perto, até entrar no copo, como se você mergulhasse mesmo naquele universo, naquela realidade em que você não consegue, naquele ciclo vicioso mesmo, e que ele não consegue sair. Então, por isso que eu acho que é um filme até moderno nesse retrato que faz, que não é caricato, que não é alívio cômico, que não tem desprezo com o humano, com a pessoa. Existe uma compaixão ali pela situação da pessoa. Então, enfim, foi um filme bem inteligente, muito respeitoso, eu acho, até, ao tratar dessa doença. Sim. Inclusive, eu achei, toda a produção é muito boa, por isso que eu disse que a partir de um certo momento, quando sai daquele momento, quando ele encontra ela, quando ele justifica por que ele bebe, até aquele momento ali, eu estava com vontade de bater nele, né? Mas depois você começa a entender e você começa a se angustiar, você começa a sentir a angústia dele, você começa a dizer, meu Deus, e aí você percebe o quanto que não é uma questão de escolha, não é uma questão de que ele quer fazer ou que ele não, é uma questão que é uma dependência mesmo, uma dependência irracional, uma coisa que ele não tem para onde fugir, ele precisa daquilo ali, ele precisa daquela bebida. Então, eu achei esse ponto do filme, quando ele começa a entrar naquela parte mais degradante, que ele rouba a bolsa da moça lá no restaurante, quando ele vai parar naquele lugar lá de tratar os alcoólatras, quando ele pega aquela máquina de escrever, enfim, todas essas cenas vão mostrando a gente aquele desespero e aquela angústia da necessidade que ele tem da bebida. Então, assim, agora eu queria falar um pouco também, essa questão da mulher também, eu achei um tanto, a colocação dela ali, a mulher que está ali disposta a todo o sacrifício para cuidar do amado, não sei o que, enfim, mas não sei, eu também tive um certo incômodo com isso, mas eu achei também, a gente falou que não tem essa justificativa, quando ele fala assim, eu não consigo escrever, aí começou a beber porque ele não conseguia e foi ficando frustrado e não sei o que, o final do filme eu achei muito simplório, assim, a forma como, o final, quer dizer, na verdade o filme, simplório, mas por outro lado, eu comecei, achei simplório, depois eu comecei a pensar sobre isso e achei que foi um final onde, assim, ele não resolveu o problema do alcoolismo dele, ele não resolve, mas ela começa a lidar com ele como uma forma de que, quer dizer, buscar alguma alternativa para tentar fazer com que ele busque outra, alguma, digamos assim, interesse, que ele consiga fazer algo, quando ela começa a colocar para ele, agora você já tem a história, você pode, você já sabe o final da história, então você pode começar a escrever, porque antes você não tinha um final, então você não conseguia pensar na história, porque você não sabia o final, agora você já sabe, então, assim, eu achei que não ficou aquela coisa, resolveu o problema do alcoolismo dele, não, o final coloca, ele continua sendo um alcoólatra, continua sendo ali, mas alguma perspectiva no sentido de que a namorada consegue acessar alguma coisa ali, naquele desespero dele, porque ele já está desistindo da vida, inclusive, ele quer se matar, porque ele sabe que não vai conseguir se livrar do vício. Lembrando que toda a ação acontece no fim de semana, o fim de semana perdido, e parece que esse diálogo final, ele começa falando para ela de quando eles estavam se preparando para fazer a viagem, que estava ela e o irmão dele ali, e ele só pensava na garrafa que estava pendurada nas janelas do lado de fora, então me parece que é uma indicação de que o que ele vai escrever é exatamente o livro que dá origem ao roteiro do filme. Então, uma coisa meio circular, o que aí puxa o outro assunto, Billy Wilder, é um diretor extremamente competente, extremamente sofisticado, se eu não estou muito enganado, o Crepúsculo dos Deuses começa com um assassinato, um corpo goiando, e é o morto que vai narrando, se eu não estou muito enganado, e aí cheio de flashbacks, nada linear. Então, o Wilder é um baita, baita diretor, e é roteiro, se eu não me engano, os roteiros também são dele, junto com outros. Então, acho que tudo isso também é uma camada para o filme, que é como a Carol falou, uma cena em que, eu notei isso também, parece que o copo vira um túnel. Então, a gente está entrando agora, olha, agora nós vamos entrar no mundo desse cara, é mais ou menos uma quebra que ele está colocando, o visual ali para nós. Quantas mulheres eu queria lembrar daquela outra menina do bar, que quando ele foi lá pedir dinheiro para ele, a gente brincou aqui na sala, não seja ONG de macho, minha amiga, por favor. Ele deu um beijinho nela e pegou um dinheiro, é muito ruim, paz, enfim. Acho que é mais um degrau, assim, que ele desce, porque eu acho que vai escalando, ou descendo, no caso, é um espiral de decadência, que ele vai descendo, descendo, descendo, e é mais um passo. Ele, tipo, trair a namorada com essa moça coitada, que estava ali, meio, um pouquinho interessada nele e tal, e aí ele foi lá pedir dinheiro para ela. Eu acho que tem até, considerando que é um filme de 45, uma sociedade super machista, você, um homem que precisar do dinheiro de mulher também seria interpretado como mais um passo para baixo aí, na decadência moral que ele acaba enfrentando por causa da bebida. Então, ele furta, ele pega dinheiro de mulher, então ele cai e fica toda acabada naquele hospital, que é um lugar terrível também, quase como se fosse um filme de horror. Então, eu acho que o filme, ele vai nessa espiral decadente dele, ele vai utilizando alguns elementos de uma linguagem de filme de horror mesmo. Tanto que, na cena que a gente já comentou aqui também, do delírio, que é uma linguagem do horror ali, aquelas sombras, aquela música, aquelas batidas, aquele bicho entrando na parede, tipo, sombra de pássaro no meio da sala e tudo para demonstrar ali, realmente era tipo, esse cara chegou no fundo do poço. E, é interessante o Timar se falar dessa circularidade que a gente está falando, tem vários círculos aqui, o círculo do copo, o círculo para baixo, a espiral para baixo e o filme que termina onde começa, de uma certa forma. Então, eu acho que também é uma opção estilística mesmo, eu acho que tem tudo a ver, o Billy Wilder realmente é um diretor muito sofisticado, eu acho que o Crepúsculo dos Deuses mesmo é uma obra-prima assim, que é o filme dele que eu mais gosto e que é o flashback de um morto. Então, acaba que fica muito bem amarrado e eu acho que aquele final deixa em aberto, assim, eu gostei muito do final, porque não é um final fácil, não é uma saída simples, não é uma história redentora, né? Você não sabe, ele deixa uma porta aberta ali, se você quiser interpretar como que ele de fato venceu a doença e ali a narrativa do livro que ele finalmente conseguiu escrever, ou não, assim, ele deixa em aberto para você. Eu acho que é uma escolha muito acertada, porque o alcoolismo é uma doença que não tem cura, que você luta contra ela todos os dias, então, não existe pessoa ex-alcoólatra, né? A pessoa consegue ali todo dia uma luta, todo dia uma escolha a não beber. Então, eu acho que o filme, quando ele deixa esse final aberto, que é um pouco esperançoso, mas não é uma resolução, eu acho que ele faz uma cena para a complexidade do que é viver com essa doença. Nesse sentido, também, é uma escolha que eu acho bem acertada. Porque eu tive a sensação, quando o filme termina ali, depois, quando eu comecei a refletir sobre isso, eu cheguei à mesma conclusão essa, de que, de fato, ele deixa ali uma questão que é assim, o problema não está resolvido, o problema do alcoolismo dele não está resolvido, mas tem ali possibilidades de uma convivência ali, sei lá, de busca de alternativas e coisas que podem ajudar ele nesse processo de todo dia ter algo em que se apegar para não sucumbir novamente. Então, eu mudei, depois de pensar sobre aquilo, eu mudei um pouco de ideia pensando exatamente nesse aspecto, porque, de fato, ficaria muito improvável você, esse cara está curado, não tem mais problema com o alcoolismo e isso não é verdade, a gente sabe disso. Então, eu achei também uma boa, um bom final, né, para deixar a coisa ali meio entre nas entrelinhas, né. E, ao mesmo tempo, dessa vez eu vou, às vezes a gente fala de maneira meio lacônica sobre o comentário da Varayet ou do New York Times, mas, dessa vez, eu acho que eles foram bem no ponto, no sentido de falar que é muito ousado. Vocês lembrem que, no último episódio, a gente estava falando, venceu o Bom Pastor, venceu um filme que a gente ficou enlouquecido aqui, tentando pensar por que aquele filme ganha e me parece que o único motivo é porque estamos no meio da guerra, precisamos de alcoolismo. E, aí, de repente, no ano seguinte, o filme que vence o Oscar é um filme pesado, que não te coloca nenhuma concessão, não te dá nenhuma concessão. Como o Carol falou, é um filme que não tem alívio cômico. Num certo momento, eu achei que ia ser alívio cômico o Bamé ou a vizinha, mas é muito breve, você não para de se sentir angustiado. E nós vamos falar das melhores bilheterias do ano, a melhor bilheteria também é um escapismo esse ano. Então, realmente, dessa vez, me parece que o texto da Varayet vai no ponto ao afirmar que foi muito ousado e que a Paramount, eu não lembro qual foi a expressão que usou, mas meio que joga fora a cartilha de vamos fazer sucesso para fazer bilheteria. Eu até acho que tem um pouquinho de alívio cômico na figura do personagem principal. Tem um pouquinho no início, uma ou outra pitada, mas que depois que chega a um certo ponto, para realmente. Quando ele está caindo mesmo naquela espiral de decadência, isso para e aí você fica só mergulhado na angústia mesmo. Mas, de repente, o pessoal, sei lá, quantas pessoas não voltaram da guerra também com problemas com bebidas? De repente, era um filme necessário de ser feito, que deve ter sido um problema. E não deixa de ser um problema social, as consequências de uma guerra, de um conflito desses, vai muito além das mortes que aconteceram ali. Enfim, as pessoas ficaram com sequelas, questões psicológicas e até alcoolismo também para suportar. Então, acaba que é um filme, sinceramente, que é um filme importante nos níveis de saúde pública, sabe? Por tratar o fato como é, sem muito enfeite, mas também sem desumanizar a pessoa que está passando por isso. Agora, aproveitando que Marti falou, fez a referência da nossa querida Déa Freitas, não seja um de macho, eu vou reforçar esse ponto, porque, gente, as duas mulheres do filme, sinceramente, coitadas, e eu sei que é até uma coisa emocionante ali, como é mostrada a dedicação dela, a ele, porque até o irmão não tinha mais condição, não estava mais conseguindo lidar, e ela ficou ali ao lado, salvou, ajudou, mas não acho que deve ser um exemplo para ninguém, sabe? Seu namorado, no primeiro encontro, deixa cair uma garrafa de uísque do casaco, eu diria para você procurar autorrumo sem perder a empatia, ou sem perder a compreensão do que é o alcoolismo, e do quanto essas pessoas estão perdidas nesse ciclo aí, mas é uma parada dura, né? Você, como diz nossa querida Déia, fongue de macho está difícil, né? E desempregado também, gente, amiga, assim, vamos ter respeito, sim, vamos ter compaixão, acho que é um problema de saúde pública, acho que tem que ter políticas públicas para acolher essas pessoas, tem que ter tratamento e tal, mas assim, você vai querer alguém para começar a namorar, uma coisa é estar ali, um irmão, um primo, que você está ali da família, precisa ajudar, mas você está procurando um homem para construir um relacionamento, eu diria, assim, que é tipo um red flag, né? Sai dessa, amiga, até porque é bom ficar claro que amor não cura doença mental, tá? Ei, Ellen! Só mudando um pedidinho na questão do alívio cômico, eu me lembrei agora de um alívio cômico que é muito sarcástico, que é aquele enfermeiro na ala psiquiátrica, porque ele é muito sarcástico, ele fala, você é calor aqui, é a primeira vez, mas você vai voltar várias vezes, não se preocupe não, ele fala, tem várias falas ali na sequência em que eu entendi, não sei se pode ser só minha compreensão, mas eu entendi não só como um sarcasmo do enfermeiro, mas mesmo como um aviso, você acha que isso aqui aconteceu por acaso uma vez e não vai mais acontecer? Não se preocupe, meu amigo, quando entrou aqui, se entrou aqui, isso vai voltar. Então se cuida porque o caminho agora é difícil. Me pareceu mais nesse sentido que, claro, uma preparação para a cena do alívio técnico. É o enfermeiro que avisa ele que isso vai acontecer. E outra coisa que eu queria chamar a atenção foi que me deu muita impressão quando ele rouba a bolsa, a moça que está do lado dele no bar e vai para o banheiro, tem um negro ali achando sapatos das pessoas e me deu muito a impressão de que ele ia jogar a culpa nas costas do negro, tanto que ele pega a carteira da moça e pega uma flor do banheiro e coloca dentro da bolsa dela. Imaginei eu para dar a impressão de quando ela pegar a bolsa e ver que roubaram, ela achar a flor e falar, ah, foi no banheiro. Me deu essa impressão. Não, eu não tive essa impressão não. Mas o útero não deixa isso acontecer, né? Ele é pego antes. A impressão minha é essa, a Joana não teve a mesma impressão. Eu não pensei, eu não pensei que ele faria esse tipo de propósito para, tipo... Mas eu tive, sim, um medo de que o rapaz do banheiro fosse falsamente acusado. Não de propósito, não que ele fosse armar uma cena para que isso acontecesse. Mas me deu, sim. A hora que eu vi, assim, deu, ai meu Deus, esse coitado vai acabar levando a culpa, assim, que ele estava ali. Também um retrato ruim, né? Essa pessoa negra do filme é, tipo, o cara que está ali nessa posição super subserviente ali. Com, sei lá, limpando o pessoal. Limpando o pessoal, né? É, muito desconfortável, muito desconfortável esse retrato, não gostei não. Mas eu tive um pouco assim, tipo, ai meu Deus, vai dar problema e o coitado vai ser acusado. Mas não, ele foi pego antes, ainda bem. É, mas é isso, eu também tive essa sensação, mas não que ele fosse fazer, ele fosse... Se ele tivesse feito isso de propósito para incriminar, pensando em incriminar o cara, eu pensei que era mais uma questão mesmo de que o Nefri ia ser, porque por razões óbvias, né? Ele ia acabar sendo incriminado, mas também fiquei com medo disso. Mas eu imaginei, pensei que ele faria isso. Porque ele está tão no fundo do poço, que eu acho que nem essa questão de planejar algo, nesse sentido, ele teria. Então, é por isso que eu não acho que era. Ele estava ali, ele pegou a bolsa, porque a bolsa estava ali do lado. Ele deu o molete, ele estava ali com a bolsa colada dele, ele foi lá e pegou. Ele não fez, assim, uma coisa elaborada, pensada, né? Enfim, mas é... Pode ser, né? Colocar a flor do banheiro dentro da bolsa seria algo tipo pedir desculpas? É a impressão que eu tive. É como se ele estivesse deixando uma flor, assim, como um pedido, sei lá, o resto tudo é para a pessoa. Ele até fala, eu estou deixando, eu peguei esse cravo para uma moça muito simpática, uma coisa assim, uma moça muito gente boa. Era um pedido de desculpa, porque ele não era uma má pessoa, né? Ele estava ali no desespero. É. Beleza, me convenceram. Mais um ponto que a gente deixou passar, que vocês se lembrem. Deixar passar a gente perdeu. É. Diz que não, sempre deixando passar vários, né? Mas eu acho que eu me lembre, não. É um filme que vale muito a pena ser visto. É verdade, muito. Então, vamos nos encaminhando para o encerramento. Eu vou passar para vocês os indicados da categoria de melhor filme deste ano. São os filmes Marujos do Amor, com Sinatra e Ginny Kelly. Alma em Suplício. Quando Fala o Coração, que é de Hitchcock, com Cary Grant e Ingrid Bergman. E a Ingrid Bergman também está em Os Sinos de Santa Maria. Filme que tem o mesmo personagem de O Bom Pastor, pensador do Oscar do ano anterior, com o Bean Cosby. E que foi a maior bilheteria deste ano. Os Sinos de Santa Maria. Ou seja, dois anos seguidos e o Bean Cosby faz a maior bilheteria. Mas pelo menos não levou o Oscar. Porque o Oscar do ano anterior não fazia o menor sentido mesmo. Nossa, não. Pelo amor de Deus. Reedição, né? Fez muito sucesso, fez sequência. Acho que ele é o padre e a Ingrid Bergman é uma freira nesses Sinos de Santa Maria. Enfim, vários bons filmes este ano. Tirando esse. Alma em Suplício é com a Crawford? Não. Mas enfim, a gente já passou por ela. E a gente falou do Cary Grant lá no começo e a gente está passando por ele. Mas nenhum filme com ele foi vencedor de melhor filme até o momento. Salvo Engana. Não foi, não. Nenhum que a gente tenha visto. Muito bem. Então acho que é isso. Vamos nos despedindo nessa retomada. Vamos ver se a gente se retoma agora toda semana. Pelo menos até o fim do ano. Pelo menos até uma féria merecida. E aqui eu acho que a gente vai se despedindo. Eu prefiro fazer isso. Se todo mundo está ouvindo a gente. Tchau, gente. Valeu. Até o próximo.

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