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Prezado doutor e colega Juliano Moreira, recebi sua carta e agradeço pela oportunidade de compartilhar algumas ideias com você. Quero dizer que fiquei tocado e orgulhoso pelo seu pioneirismo e brilhantismo inspirador. É importante pensar que no Brasil o racismo é estruturante da sociedade e da subjetividade de um povo. Acredito ser considerável compreender a manutenção da experiência histórico-política dos nossos negros no Brasil. Dada a não-retratação da violência colonial que se mantém, de alguma maneira, sem o devido reconhecimento da barbárie. Aquele que sofre o preconceito é colocado de forma do pacto da comunidade humana e desigualdade do ponto de reinterar uma condição de desamparo, um sentimento de desumanização, marcando o corpo e a subjetividade, e não é qualquer tipo de sofrimento, é angústia, a ordem do desamparo absoluto. Tenho pensado ainda o quanto os sujeitos coloniais, em geral os negros, que em particular habitam a zona, de não ser, e por isso, não pelo olhar imperial. Antes disso, resto ao negro tornar visível sua existência por meio da afirmação de sua identidade e de seu corpo, o que leva a pensar que tal afirmação permite a elaboração do conhecimento para a reinvenção de um projeto político-humanista. Quero compartilhar uma experiência. Estive presente no norte da África durante a Segunda Guerra Mundial, quando lutei contra as forças nazistas, como soldado francês. Até aí, pensava me ver como uma pessoa francesa. Então, vivenciei o racismo antinegro, não somente no exercício, mas também nas ruas das cidades francesas, quando, após a vitória sobre a Alemanha nazista, os soldados franceses e negros foram preferidos frente aos prisioneiros de guerra italiano e as mulheres europeias. Essas observações pessoais foram fundamentais para minha reflexão sobre o colonialismo e seus efeitos, bem como para repensar minha própria identidade. Aos olhos do branco, o negro não tem resistência ontológica. Seus costumes, as instâncias, as referências foram abolidas e estavam em contradição de uma civilização que não conheciam e lhe eram impostas. Compartilho com você o que tenho chamado de minha última prece. Ó meu corpo, faça de mim sempre um homem pensante. Precisamos da continuidade a essa conversa, meu caro Juliano. Esta aceito o vosso convite para a criação de mais um quilombo. Retribuo seu abraço, negro, e um belo sorriso também, negro.

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