The BrasaCast podcast introduces a new style of podcast that aims to provide transparent and interactive content. The hosts, Isabel, Lara, and Sofia, discuss their experiences of deciding to live abroad and the emotions they went through. They talk about leaving behind family, friends, and familiar routines, and the mixed feelings of excitement and sadness they experienced. They also share their thoughts on the realization of their dreams and the challenges of adapting to a new country. The hosts reflect on the moments when they realized the magnitude of their decision and the anxieties they felt, both before and during their journey. Overall, they believe that despite the difficulties, the experience of living abroad is worth it.
Oi, gente! Bom dia, boa tarde, boa noite pra você que tá em qualquer lugar desse mundão. Muito bem-vindos ao nosso primeiro oficial novo estilo de podcast aqui no BrasaCast. A gente tá feliz demais de ter vocês aqui escutando esse podcast com a gente. Meu nome é Isabel e eu sou host daqui do BrasaCast. Eu tenho 19 anos, eu sou analista de audiovisual e sou host daqui do podcast. E atualmente eu moro aqui no Canadá, em Vancouver, fazendo capilano em Universidade de Psicologia.
E hoje eu tô com duas convidadas muito especiais que trabalham aqui comigo na Brasa, que vão se apresentar um pouquinho pra gente. Oi, gente! Eu sou a Lara, eu tenho 20 anos. Eu sou analista de redes sociais da Brasa, cuido da parte do TikTok. Eu faço ciência da comunicação na Universidade do Algarve, aqui em Portugal. Eu trabalho com social media. Eu moro em Faro, no Algarve. E fazem dois... Em setembro vai fazer dois anos que eu tô morando fora, sozinha.
E é isso. Oi, gente! Tudo bem? Eu sou a Sofia. Eu sou analista de design aqui da Brasa. Eu tô na Brasa, acho que já faz uns quatro meses. Eu faço foundation de business e ciências sociais na King's College, em Londres. E eu me mudei em setembro do ano passado, então faz uns seis meses, mais ou menos. E eu tenho 19 anos. E é isso. Coisa boa. Então, a gente veio aqui apresentar pra todo mundo essa nova proposta de podcast aqui na Brasa.
Que a gente quer mostrar assuntos mais transparentes. Onde a gente sente que todo mundo vai ser meio abraçado com o conteúdo mais interativo e mais confortável. Assim como um cafezinho na casa de vó num domingo à tarde. A gente quer, acima de tudo, que esse podcast traga informações muito valiosas. E mostre pra todo mundo que é curioso um pouco mais sobre a vida aqui no exterior. Com assuntos abordados que são sempre muito levantados por interessados a morar fora.
Ou também pra todos aqueles que moram fora e querem se conectar um pouco com todos esses brasileiros que moram no exterior. Porque, que nem no nosso, a gente passa muita coisa parecida e dependente do lugar do mundo. O nosso tópico de hoje, então, finalmente vai ser decidir morar fora. E agora? O tema, ele vai ser pra gente refletir também um pouco mais entre a gente. E mostrar de perto a realidade daquele momento único. Que é quando a gente realmente decide morar fora.
O que acontece depois disso? O que acontece com o nosso coração? Pensem assim, nĂ©? O nosso sonho saiu do papel. Ele vai acontecer. TĂ´ muito feliz. Vou conseguir morar fora. NĂŁo acredito. Mas e agora? Minha famĂlia? E meus amigos que eu vou deixar pra trás? E meus costumes que eu faço desde que eu nasci? Minhas rotinas? E coisas que eu vivi igual a minha vida inteira? O que vai acontecer? Como Ă© que fica meu coração? Pra mim, foi muito...
No primeiro momento, eu fiquei muito feliz. Tipo, os primeiros cinco minutos, quando eu recebi o e-mail da faculdade. Eu fiquei muito feliz porque é uma coisa que eu passei o meu ensino médio me preparando. O ensino médio inteiro, quatro anos da minha vida que eu passei me preparando pra isso. Então, foi como se... Tipo, a realização de um sonho realmente tinha acontecido. Só que quando caiu a ficha... Porque como eu recebi o resultado em março, ali.
Pro ano letivo começar em setembro. Em março, eu já tinha saĂdo do ensino mĂ©dio, eu já tava trabalhando. Eu já tinha seis amigos no trabalho. Eu nĂŁo moro no Brasil, entĂŁo eu tava na melhor fase do meu relacionamento. Porque a gente trabalhava juntos, entĂŁo ele ficava em casa, me levava pro trabalho. A gente vivia muito juntos. E tambĂ©m eu tava muito prĂłxima da minha famĂlia. EntĂŁo, foi muito difĂcil, depois de passar a euforia, que eu descobri que eu tinha passado.
É... Perceber tudo aquilo que eu ia deixar pra trás em alguns meses. Então, eu fiquei muito... Foi um mix muito grande de sentimentos. Eu não falava tanto com as pessoas sobre aquilo. Porque, ao mesmo tempo que eu fiquei muito feliz. Foi uma tristeza muito grande, pra mim, perceber tudo que eu ia deixar pra trás. Então, por mais que eu estivesse muito animada pra vir morar fora. E viver todas as experiências que eu queria viver, que eu passei a vida inteira desejando.
O momento que eu tava na minha vida tava sendo muito legal. Então, eu sabia que aquilo ia acabar e eu fiquei muito desesperada. E você, amiga Sofia? Bom, eu acho que no meu caso, tipo... Demorou um pouco pra cair a minha ficha, assim. Eu também me preparei ensino médio inteiro pra isso. Era o meu sonho, assim. Desde que eu comecei a pensar em faculdade, eu já pensava em estudar fora. Nunca pensei em ficar no Brasil. Toda vez que eu contava pras pessoas.
Ah, eu quero estudar fora, sabe? Era sempre uma coisa, tipo... Nossa, que legal! Mas como que vai ser pra vocĂŞ deixar a sua famĂlia, seus amigos? E eu... NĂŁo tinha caĂdo a minha ficha. EntĂŁo, eu ficava pensando, tipo... Ah, gente. É isso, sabe? Vamos viver. NĂŁo tenho o que falar. Mas, obviamente, eu fiquei muito feliz tambĂ©m. Quando, tipo, isso se tornou uma realidade. Foi, tipo, um sonho, nĂ©? Que se realizou, assim. Mas eu acho que demorou mais pra cair a ficha quando eu cheguei mesmo aqui.
Até quando eu tava me mudando, arrumando as coisas. Me despedindo de algumas pessoas. Tipo, demorava pra cair a ficha. Quando, sei lá, eu fui dar tchau pra alguns amigos. Parecia que eu ia ver eles semana que vem, de novo. Não caiu a ficha, assim. No meu caso, foi mais quando eu cheguei aqui. Porque aà eu comecei a ficar sozinha. Passar a maior parte do meu tempo sozinha. Ligar pros meus pais e, tipo, falar assim... Ah, então tá.
Um beijo. Não poder falar, tipo... Ai, até amanhã, sabe? Tipo, vou te... Até a próxima, assim. E meus amigos também... Eu vou ver eles tocando a vida deles no Brasil também. Mas, por mais que tenha sido, tipo, um balde de água fria, assim. Ao mesmo tempo é muito bom. Porque você também vê muitas coisas novas. E você começa a entender que você consegue se virar sozinho também. Eu acho que é uma coisa que vem na vida adulta, tipo...
VocĂŞ querendo ou nĂŁo. SĂł que, no nosso caso, vem mais cedo, assim, que a gente se muda. Mas, no final, acho que, tipo, por mais que tenha demorado pra cair a ficha... Com certeza, valeu muito a pena. Sim. Pra mim, a minha ficha nĂŁo tinha caĂdo nada. Eu tava muito feliz. Foi um momento, tipo, assim, cara... Eu tinha acabado de me formar. E eu decidi que eu... Eu já tinha decidido que eu ia morar fora. Mas eu fiquei meio num perĂodo sem aulas, sem nada.
EntĂŁo, eu tava aproveitando com os meus amigos. Indo pra academia, cuidando de mim. E mesmo que eles estivessem muito ansiosos, nĂŁo tinha caĂdo a ficha, tipo... Eu estou deixando tudo pra trás. EntĂŁo, já vem com... Deixa eu engatar aqui um outro assunto. EntĂŁo, quando Ă© que caiu a ficha de vocĂŞs? Como Ă© que foi no aviĂŁo? Porque aquele momento, beleza. Eu tava ali, tipo, com os meus amigos e tal. Mas chegou a hora de ir. É o dia de ir.
E eu tĂ´ no aeroporto, tá? Por exemplo, meus amigos foram me levar no aeroporto. E... Como Ă© que foi isso? Como Ă© que foi a ansiedade no aviĂŁo? De, tipo, tá indo towards um outro paĂs que vocĂŞ nunca foi. Ou foi uma vez, mas... Tá indo pra morar, assim, num lugar desconhecido. Sem ninguĂ©m que vocĂŞ conhece. Eu acho que no meu caso, que foi caindo em alguns momentos, assim. Eu lembro quando eu me mudei pra cá.
Eu tenho alguns parentes que moram aqui. Tipo, nĂŁo em Londres, mas na Inglaterra. E os meus pais já tinham voltado pro Brasil. Eles vieram me deixar e já tinham voltado pro Brasil. EntĂŁo, eles nĂŁo conseguiam me ajudar na mudança. E os meus parentes daqui, tipo, me ajudaram no dia. Mas depois eles foram pra casa. E aĂ, quando eles foram embora... E eu tava em casa sozinha, assim. Tipo, minha roommate ainda nĂŁo tinha chegado. NĂŁo conhecia ela, ainda nĂŁo sabia quem ela era.
E ficar, tipo assim, poxa... Então é isso, né? Eu também, no meu aniversário, pude comemorar com os meus parentes daqui. Mas não ver meus pais, não ver meus melhores amigos. No caso, não ver, tipo, nenhum amigo. Que na época, os meus amigos, a gente ainda não era tão próximo. Porque o meu aniversário é bem em outubro, né? Tipo, eu tinha acabado de me mudar. Em alguns momentos, tipo, quando eu tava com alguma angústia, assim. Tipo, eu sempre tinha o costume de abraçar a minha mãe em casa, assim.
Tipo, falando assim... Ai, tal coisa tá acontecendo! AĂ, teve um dia que eu tava, assim, chateada. E aĂ, eu pensei assim, meu Deus, eu precisava muito abraçar alguĂ©m. E, tipo, nĂŁo tinha ninguĂ©m pra abraçar. AĂ, eu fiquei assim, putz... Talvez, nĂ©? Assim, acho que foram esses momentos que, tipo, caiu a ficha, assim, pra mim. Ai, que fofa! Pra mim, eu sou uma pessoa muito emotiva. E eu sofro muito por antecipação. EntĂŁo, pra mim, no primeiro dia que eu recebi a notĂcia, eu já estava em lágrimas.
Mas os meus pais estĂŁo separados. Pra mim, foi muito mais difĂcil. Os dois foram me levar no aeroporto, porque eles nĂŁo se veem. E aĂ, foi um dos momentos que eu fiquei, tipo... Nossa, eu acho que, realmente, Ă© tĂŁo importante eu ir embora que os dois estĂŁo aqui. Porque, realmente, qualquer coisa nĂŁo acontece. E a famĂlia do meu namorado foi tambĂ©m. Mas, pra mim, foi muito pesado a vinda. Eu vim com a minha mĂŁe e com a minha irmĂŁ.
Elas vieram me trazer pra cá, pra Portugal. Foi muito difĂcil dar tchau pro meu namorado e pro meu pai. Porque eu nĂŁo tinha... Nossa, eu choro sĂł de lembrar. Eu nĂŁo tinha ideia de quando eu ia ver eles de novo. E foi muito... Foi muito diferente, sabe? Porque eu sabia que nĂŁo ia ter uma viagem que eu estava indo e eu ia voltar. E nĂŁo tinha ideia de quando eu ia voltar, nĂŁo tinha ideia de como Ă© que ia ser.
Eu tinha muito medo de ver o Cacá, de nĂŁo me adaptar. Eu tambĂ©m tinha medo de fracassar e ter que voltar, entendeu? EntĂŁo, eu surtei muito. Eu lembro que quando eu entrei no voo de Guarulhos pra Lisboa... Eu, tipo, apaguei no voo. Porque eu estava chorando há tantos dias. Que eu acho que meu corpo, tipo, desligou. E aĂ, quando eu cheguei em Lisboa, tipo, pro primeiro mĂŞs, eu chorei muito. Eu me sentia muito sozinha. Mas, pra mim, o marco, assim...
O maior marco... Maior marco? É, tá certo. Que eu tive aqui, morando sozinha, foi... Como eu falei, a minha mãe e a minha irmã vieram me trazer. Então, a gente ainda passeou. Eu ainda consegui ocupar a minha cabeça. Só que, pra mim, foi bizarro o dia que minha mãe foi embora. Porque, como eu estava nesse clima ainda férias... Por mais que eu já estivesse na minha cidade, que eu ia fazer faculdade... Quando a minha mãe foi embora, eu lembro que a gente estava no hotel.
E aĂ, minha mĂŁe foi embora de madrugada. E eu fui dar tchau pra ela. Eu nunca tinha sentido aquele vazio na minha vida. Porque eu pensei, meu Deus, eu estou sozinha em outro paĂs. Eu nĂŁo sei o que eu vou fazer. Tipo, se eu quiser sair daqui pro mercado, eu vou. Se eu quiser ir pro shopping, eu vou. Se eu quiser ir em lugar na rua, eu vou. Tipo, eu tinha essa opção, sabe? SĂł que, ao mesmo tempo, eu me sentia muito perdida.
Porque eu nunca tinha saĂdo de casa. EntĂŁo, quando a minha mĂŁe foi embora e eu me vi sozinha pela primeira vez... Foi meio desesperador. Eu lembro que eu fui pra casa, nĂ©? E eu fiquei em casa, tipo, a noite inteira. Eu nĂŁo saĂ mais. AĂ, no outro dia, eu fui no mercado. E eu lembro que eu me sentia muito perdida no começo. Pra mim, foi igual. Eu me sentia muito assim, que... Muitas possibilidades do que fazer.
Eu podia estar fazendo qualquer coisa. Isso me deixava muito vazia. Tipo, sem concluir nenhum do que a minha vida seria. Porque a aula não tinha começado ainda. E cá, eu estava sozinha por um mês, sem saber quem era ninguém. Cara, pra mim, foi muito assim... Eu fiz intercâmbio de um ano aqui no Canadá, em Vancouver. E voltei pro meio do terceirão. Já sabendo que eu queria fazer faculdade no exterior. Eu queria muito. Então, isso já estava na minha cabeça.
Assim, era bem possĂvel. Eu sabia que eu ia conseguir entrar tambĂ©m. A minha faculdade nĂŁo tem prĂ©-requisitos tĂŁo strong, sabe? EntĂŁo, já era uma realidade pra mim. Eu já tinha meio que botado a minha cabeça ao redor disso. E pelo fato de eu ter passado um ano fora antes... Eu já estava mais desapegada, querendo ou nĂŁo, a tudo que eu tinha no Brasil. EntĂŁo, eu cheguei lá já com esse sentimento de tipo... Ah, eu acho que eu nĂŁo pertenço mais, sabe? Que Ă© bem comum de ter quando tu sai de um intercâmbio.
A gente pode falar sobre isso até em outro assunto, assim... Que eu acho bem interessante o fato de ter essa dualidade, assim, sabe? Então, que eu sentia que eu... Claro, todos os meus amigos estavam lá pra mim. E eu aproveitei muito com eles. E eu fiquei muito triste quando eu estava indo embora. Então, eu sinto que, na verdade, eu estava muito numb. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Então, eu não processei tudo. Eu sinto que o meu corpo, ele sentiu que eu estava sofrendo.
Eu estava muito ansiosa. Mas eu nĂŁo estava conseguindo processar que eu estava deixando todo mundo pra vir estudar aqui, sabe? EntĂŁo, eu nĂŁo chorei no aeroporto. NĂŁo chorei no aviĂŁo. Meus pais já estavam aqui no Canadá quando eu cheguei. Eles me ajudaram a me estabilizar aqui por dois meses. Quando a minha mĂŁe foi embora, que ela foi a Ăşltima aĂ... NĂŁo chorei tambĂ©m. E nĂŁo sei... Eu sinto que meu foi um sofrimento gradual, assim. Ao longo do primeiro ano, eu tinha vários pontos onde eu sofria, assim, sabe? De saudade.
Mas nĂŁo foi algo, tipo, que caiu a ficha em um momento especĂfico e eu, tipo, desadei, assim, sabe? Nossa, eu chorei demais. Nossa, eu chorei demais. A gente chega... E a gente, do nada, tem uma casa nossa. Nova, pra chamar de nossa, nĂ©? Eu nĂŁo sei se vocĂŞs moram em residĂŞncia? Eu morei em residĂŞncia. E tu, Sofia? Eu moro numa... Tipo, tambĂ©m. Essa aqui nĂŁo Ă© da minha faculdade. Tipo, sĂł pra estudantes, mas pode ter de várias faculdades.
Tipo assim, vocĂŞ sĂł precisa ser estudante pra morar aqui. É o Ăşnico requisito. Que legal! E aĂ, tanto que a minha roommate, ela faz pĂłs-graduação, tipo... E ela... Em outra faculdade. NĂŁo Ă© na minha faculdade. EntĂŁo, Ă© bem diferente. Eu tenho vários amigos aqui de outras faculdades. É bem legal. E vocĂŞ, Lara, mora onde agora? Eu divido apartamento com minhas trĂŞs pessoas. TrĂŞs pessoas? TrĂŞs pessoas. Ai, que legal! EntĂŁo, Sofia, vocĂŞ mora com uma roommate, tipo, numa residĂŞncia multi-universitária? É.
Exatamente, exatamente. Legal. Eu divido apartamento com uma brasileira que trabalha já, estudou, trabalha aqui. Eu moro perto da minha faculdade e ela mora pertinho do trabalho dela também, então a gente divide um apartamento. Ai, que legal! E mora juntas. Ela é do Rio. Super querida, adoro. Mas quando é que... Como é que foi chegar, assim, nessa casa? Esse sentimento de, tipo, a minha pergunta é, quando é que entrou em vocês esse sentimento de, essa é realmente minha casa, tipo, eu me sinto em casa? Porque é um estranhamento muito grande a gente chegar e simplesmente morar nesse lugar aleatório que tu vai ter que chamar de casa, sabe? A adaptação é muito diferente, né? Como é que vocês se sentiram? Cara, eu acho que, tipo, o começo era muito estranho.
Porque, assim, minha acomodação, ela nĂŁo tem muita cara de casa. Tipo, ela parece um quarto branco do Big Brother, assim. Ela Ă© tudo branco, sem mobĂlia. E aĂ, a Ăşnica coisa colorida que tem no meu quarto Ă©, tipo, uma das paredes Ă© rosa e ela Ă©, tipo, aquele material que vocĂŞ bota o pin pra botar foto. EntĂŁo, eu botei várias fotos, tem várias fotos, assim. Arta, um monte de coisa que eu pendurei, assim. Quando eu cheguei, nĂŁo tinha nada.
E nem me agrumei. NĂŁo tinha nem gente, nĂŁo tinha nada. E aĂ, eu olhei, tipo, e Ă s vezes eu ia dormir e aĂ eu olhava e eu ficava, tipo, assim, cara, parece que eu tĂ´, tipo, sei lá, num hotel, num ambiente. Mas nĂŁo parece que eu tĂ´ na minha casa. Tipo, pra mim, minha casa Ă© a minha casa no Brasil. E aĂ, eu acho que, tipo assim, especialmente no fim do ano, quando fica mais frio, nĂ©, que, tipo, pelo menos pra mim, nĂŁo me dá vontade de fazer nada.
Fico com vontade de ficar em casa o dia inteiro tambĂ©m, nĂ©. Se for pra sair pra pegar chuva, entĂŁo... E aĂ, eu comecei a ficar muito em casa. E aĂ, Ă s vezes, tipo, quando eu chegava em casa, depois de ter que sair no frio, eu ficava assim, nossa, graças a Deus. E aĂ, tipo... Mas eu acho que foi uma coisa que demorou um pouco pra eu me acostumar e ver a casa como casa, assim, nĂ©. Eu sei exatamente do que tu tá falando.
Tipo, essa primeira chegada em casa, em um dia frio, que tu entra e tu fala, cara, graças a Deus. Aà chega aquele sentimento de pertencimento, finalmente. Então, Laura, como é que foi pra ti esse processo? Pra mim, foi a mesma coisa. Porque também, eu cheguei aqui, eu fui morar numa residência universitária. Então, as aulas daqui começam dia 20 de setembro. E eu cheguei dia 30 de agosto. Então, eu era a única pessoa num prédio inteiro, de quatro andares.
E a cozinha é compartilhada. Tinha o corredor com os quartos, e o quarto era duplo. Então, eu dividia com a minha amiga, e ela não tinha chego ainda. E também, parecia um manicômio, porque aquele corredor cheio de quarto, tudo vazio. Eu não tinha coragem de ir na cozinha. Porque era tudo muito escuro, não tinha panela, não tinha copo, não tinha lençol. Tipo, o quarto, eles tinham acabado de pintar. Então, tava todo branco, sem nada. E, sei lá, eu...
Nossa, eu lembro que eu fiquei meio... Nossa, que trem horrĂvel. Eu achei muito horrĂvel, sabe? Porque meu quarto, no Brasil, tinha a minha cara. Era super decorado e tal. E eu trouxe algumas coisas de decoração, tipo, alguns livros. Eu lembro de colocar, e parecia que tava muito falso, sabe? Tipo, parecia um cenário que eu tava montando ali. SĂł que, realmente, dava esse sentimento. Nossa, eu tĂ´ num hotel. Porque nada tinha a minha cara. EntĂŁo, começou a virar a minha casa.
Eu acho que... Quando eu comecei a decorar um pouco mais. Porque era uma coisa... Eu tambĂ©m gosto de passar muito tempo em casa. E aĂ, tambĂ©m, no inverno, ali, por outubro, novembro, chovia muito aqui no Algarve. E aĂ, eu tambĂ©m ia... O campus era dentro da faculdade, nĂ©? EntĂŁo, eu nĂŁo me molhava muito, porque eu sĂł ficava em casa. Mas, mesmo assim, quando eu chegava em casa e eu podia, tipo, abrir a geladeira, as minhas coisas estavam lá, meu canal tava lá.
Sabe? Me dava um sentimento de... Nossa, eu tô chegando em casa. Minhas coisas estão do jeito que eu queria. E foi muito legal, também, quando eu me mudei pra esse apartamento. Pra mim, foi a virada de chave, também. De morar numa residência universitária e, depois, ter um quarto só pra mim. Que eu dividia. Eu lembro que, quando eu fui na IKEA comprar as coisas pro meu quarto, e eu cheguei em casa, parecia que era Natal. Então, eu tirava, tipo, o livrador e ficava...
Gente! Meu Deus! Ai, delĂcia! E aĂ, ficou... Meu quarto ficou minha casa. Nossa, eu lembro que uma coisa que aconteceu comigo, tambĂ©m, Ă© que, tipo, na minha casa no Brasil, eu sempre gostava, tipo, porque eu tava no meu quarto já fazia muito tempo. EntĂŁo, assim, ah, vou na sala. AĂ, eu na sala, tava no sofá. Vou na cozinha. AĂ, eu na cozinha. AĂ, eu no quarto da minha mĂŁe. AĂ, no escritĂłrio. Sabe? Assim, tipo, eu ficava zangando pela casa o tempo todo.
E aĂ, quando eu cheguei aqui, que, tipo, meu quarto Ă© pequeno, a cozinha Ă© menor ainda, o banheiro parece banheiro de aviĂŁo, entĂŁo, eu ficava assim, nossa, que enjoo de ficar no meu quarto. Eu vou pra onde? Pra nenhum. Vai ficar rico. E aĂ, tipo, eu lembro quando eu comendo um dia, assim, da cozinha e eu olhando ao redor, tipo, meio caustrofĂłbico, sabe? Assim, tipo, nĂŁo tinha muito isso de mudar de ambiente, porque eu moro em um ambiente sĂł, assim, nĂŁo tenho o que fazer.
Mas depois a gente se acostuma, sabe? O que eu percebo Ă© que a gente começa a sentir que a casa Ă© quando a gente começa a colecionar memĂłrias nos lugares. Porque aĂ, sim, tu vai tendo esse sentimento de pertencimento aĂ dentro, de tudo que tu tá criando e, tipo, memĂłrias que vocĂŞ tá construindo aĂ, sabe? EntĂŁo, vira um ambiente, assim, mais seu, energĂ©tico, porque vocĂŞ tá num lugar onde vocĂŞ tá criando e colecionando momentos, nĂ©? EntĂŁo, Ă© com o tempo, tipo, nĂŁo tem muito o que fazer, sabe? Mesmo que o apartamento seja aconchegante, vocĂŞ vai estranhar atĂ© vocĂŞ começar a viver aĂ, sabe? É normal.
Mas é realmente muito assustador, assim, né? Essa primeira interação, esses primeiros dias. Eu sentava no meu sofá, olhava pro teto e falava, o que eu tô fazendo aqui? E que esse lugar, tipo, não sei, eu tô numa realidade aleatória. Total. E falando sobre o quarto, assim, a gente se sentia desconectado com o nosso eu, assim, nossa vida, né? A gente tava ali meio desconecto. Mas também tem muito isso em relação a amizades, porque a gente chega sem ninguém e a gente se sente muito desconectado de tudo.
Como Ă© que foi pra vocĂŞs encontrar amizades genuĂnas? AĂ, onde quer que vocĂŞs estejam? Ou se vocĂŞs ainda estĂŁo Ă procura de amizades genuĂnas, porque Ă© um processo bem longo, nĂ©, no exterior. Eu acho que quando eu cheguei aqui, eu tinha duas amigas que eu fiz no Brasil, que iam vir pra mesma universidade e uma delas era da minha cidade. E aĂ eu me acomodei muito nisso, sabe? Eu falei, nossa, eu tenho duas amigas, o que mais que eu preciso? E eu fiquei, faz dois anos que eu tĂ´ aqui, o primeiro ano eu sĂł saĂ com elas, tipo, as outras pessoas me chamavam pra sair, tipo, grupo de Erasmus, grupo de brasileiro aqui, eu nĂŁo ia, falava, nĂŁo, eu tenho as minhas amigas, eu nĂŁo preciso de mais ninguĂ©m, entendeu? E foi aĂ que eu me ferrei, porque eu me fechei muito.
EntĂŁo, quando deu o verĂŁo e elas foram pro Brasil, as duas, eu me vi aqui sozinha, eu nĂŁo tinha amigo nenhum, e aĂ eu falei, nossa, que droga, nĂ©? E aĂ eu percebi que eu tinha que ser mais aberta, sabe? Porque eu sou uma pessoa muito extrovertida, mas quando eu vim morar aqui, eu percebi que eu sou extrovertida pra algumas situações. Eu nĂŁo gostava, Ă© muito difĂcil vocĂŞ fazer amigos quando vocĂŞ mora fora, porque vocĂŞ tem que se apresentar tudo de novo, vocĂŞ tem que se expor tudo de novo pra pessoa, e aĂ vocĂŞ tem que conhecer a pessoa, eu achei muito difĂcil.
E eu sinto que agora, depois que passou esse primeiro ano, que eu passei o verão sozinha aqui, finalmente eu tô num momento que eu não me sinto sozinha mais, porque eu criei laços de amizade muito bons aqui. Mas eu acho que, realmente, isso vai com o tempo, e você se permitir. Igual, quando eu cheguei, eu não me permitia. Não que eu não me permitia conhecer pessoas, mas eu achava que eu não precisava, sabe? Tipo, aà já tem duas amigas com a gente, tá bom.
Mas eu acho que quando você mora fora, não é quanto mais melhor, mas você tem que estar sempre aberta às possibilidades de você sair pro mar e conhecer alguém, conhecer essa super melhor amiga, você não sabe. E eu não tinha muito isso, então eu sinto que agora, nesse segundo ano, eu tenho isso mais claro, sabe? Eu sou mais aberta. Eu acho que no meu caso, tipo, eu tinha muito medo de não conseguir fazer nenhuma amizade, e eu sinto muito isso também que você falou, Lara, de ter essa dificuldade de me abrir.
Tipo, eu nĂŁo sou a pessoa que eu vou sair com minha amiga no primeiro dia, tipo, acabei de perceber que eu vou contar a minha vida, nĂŁo. Tipo, pra mim demanda muito, sabe? Assim, claro, que a gente interage, beleza, eu vou conversar ali, ok. Mas eu tenho muita dificuldade de já sair falando, assim, tudo da minha vida. Mas, ao mesmo tempo, eu tinha muito medo de eu nĂŁo conseguir explicar dessa primeira fase, nĂ©? Eu acho que Ă© mais difĂcil de vocĂŞ, tipo, dar a cara a tapa e interagir com as pessoas, assim.
EntĂŁo, uma semana antes das aulas começarem, tem, tipo, a semana dos Freshers' Week. Todo dia tinha festa, e aĂ, assim, no meu prĂ©dio tem uma área comum, e aĂ, na primeira semana, como ninguĂ©m se conhecia, tipo, ninguĂ©m, todo mundo descia pra lá pra se conhecer. EntĂŁo ficava lotado, e aĂ, tipo, a gente saĂa, e todo mundo falando, vocĂŞ cruzava com alguĂ©m no corredor, a pessoa já vinha, tipo, puxar um papo. No meu primeiro dia mesmo, eu tava jantando, quase nĂŁo dormi, e aĂ minha vizinha bateu na porta, assim, e começamos a conversar, e a gente saiu, tipo, no mesmo dia, assim.
Ao mesmo tempo, eu tinha muita sensação, tipo, beleza, eu tĂ´ fazendo meus amigos, mas eles ainda nĂŁo sĂŁo, tipo, amigos amigos, sabe? SĂŁo pessoas que eu conheço, mas eles nĂŁo sĂŁo amigos amigos. E aĂ, eu lembro que teve uma festa nessa semana que, tipo, sĂł tinha uma menina do meu prĂ©dio que ia, sĂł que ela ia entrar com as amigas dela, ela já morava aqui na Europa, entĂŁo ela tinha umas amigas prĂłximas dela que iam estar lá na festa, e eu nĂŁo tava confortável de falar, tipo, ah, eu vou ficar lá com vocĂŞ, sabe? Porque eu ia ficar muito de canto.
SĂł que eu falei assim, cara, eu nĂŁo vou ficar em casa tendo festa da faculdade, tipo, minha primeira semana, eu vou sozinha. E aĂ, eu combinei com ela, falei assim, eu vou de Uber com vocĂŞ na ida e na volta, tipo, na volta a gente se encontra na saĂda, mas atĂ© lá eu vou sozinha. Eu fui sozinha! Eu fiquei lá na fila, tipo, todo mundo, gente, juro. Eu lembro sensação horrĂvel. Todo mundo, um grupo de amigos.
E aĂ, eu lembro que eu fui tentando puxar assunto e as pessoas meio que cagavam pra mim. E aĂ, teve uma hora que eu tava na fila assim... Arrasou! Na moral! Arrasou demais! É isso mesmo! É o máximo que pode acontecer. O que vai acontecer tambĂ©m? Sabe? Eu volto pra casa e boto um pijama em turno, tá tudo bem. E aĂ, eu tava na fila, e aĂ eu ouço um menino atrás de mim falando assim, pro mal menino, ah, vocĂŞ tem que me ensinar a dançar assim, que nem brasileiro, sĂł que inglĂŞs.
Cara, na hora eu vi isso atrás, eu olhei pra menina e falei assim, da onde vocĂŞ Ă©? E ela falou, eu sou do Brasil, e vocĂŞ? AĂ eu falei, nossa, eu tambĂ©m! E aĂ, cara, a gente ficou super amiga, e ela Ă© uma das minhas melhores amigas aqui. Tipo, ela faz o mesmo tipo de curso que eu, nĂŁo Ă© o mesmo tema, mas Ă© foundationeer tambĂ©m. EntĂŁo a gente, no final, tipo, os brasileiros do foundation sĂŁo muito prĂłximos, a gente ia acabar se conhecendo, mas ia ser depois.
Mas foi muito legal, tipo, valeu muito a pena. EntĂŁo assim, acho que Ă s vezes Ă© bom a gente quebrar a cara mesmo, sabe? Eles vai lá e vai, faz amizade, e Ă© isso aĂ. Eu acho que Ă© isso, eu acho que eu me senti muito culpada por Ă s vezes estar muito sem energia, por estar lidando com tanta coisa ao mesmo tempo, sem ter essa energia e coragem de estar me expondo a novas amizades constantemente. Porque eu estava muito sozinha, mas ao mesmo tempo era tanta informação chegando a mim, tipo, estando nesse novo ambiente que Ă© morar fora, que eu ficava tipo, cara, eu preciso fazer novos amigos, sĂł que eu estou cansada, estou exausta, nĂŁo vou conseguir ser eu mesma, sabe? EntĂŁo Ă© se dar tempo, se escutar, e tambĂ©m, cara, ter coragem.
Tem que ter coragem nesse momento. Realmente os primeiros meses sĂŁo muito difĂceis, essa adaptação. Eu conheci minha melhor amiga aqui, uma das minhas melhores amigas, porque agora eu tenho muitas melhores amigas que realmente eu vou levar pra vida, sabe? Eu tenho trĂŞs melhores amigas aqui que eu penso de cara que eu nĂŁo me vejo mais sem, que mudaram a minha vida, me mudaram como pessoa. E eu conheci uma delas numa festa brasileira, a gente se olhou e falei, vocĂŞ tem cara de ser legal.
Ela falou, você tem cara de ser legal também. Aà a gente morava perto, se abraçou, tipo, do nada, a gente se abraçou e virou unidas pra sempre. Gente, por curiosidade, de amizade de vocês, vocês têm mais amigos brasileiros ou gringos? Fala em seguida. É uma questão muito grande também, porque quando eu cheguei, e eu lembro que eu abri uma caixinha de perguntas no meu Instagram pros meus amigos, tipo, gente, mandem perguntas. E aà uma amiga minha do Brasil perguntou, tipo, você já tem amigos portugueses? E fazia um ano que eu tava aqui.
Como faz um ano que eu tĂ´ aqui? Eu tenho um portuguĂŞs pra falar, que Ă© meu amigo, sabe? E eu posso falar que depois de dois anos, eu tenho um total de dois amigos portugueses. TrĂŞs, eu acho. É uma experiĂŞncia universal, nĂ©? Graças a Deus. Pois Ă©. Porque Ă© muito mais fácil de vocĂŞ se conectar com brasileiros, porque tá todo mundo passando pela mesma coisa. Todo mundo vira uma famĂlia, vai sair... Ah, eu vou sair de jantar.
Ah, por que que eu nĂŁo vou chamar fulano? Fulano chama ciclano, e aĂ chama do outro lado. E aĂ todo mundo sai junto, sabe? E eu acho muito mais fácil de fazer amigo com brasileiro do que com o pessoal daqui. Sim. Pra mim tambĂ©m. Veja, eu já me esforcei e agora eu tenho amigos portugueses, graças a Deus. TrĂŞs, bora lá. É isso aĂ, bora. Eu lembro, tipo, quando... Como eu falei, nĂ©, tipo, eu me mudei, os meus primeiros amigos que eu conheci foram a galera do meu prĂ©dio.
SĂł que, tipo assim, aqui sĂł tem um brasileiro, que Ă© meu amigo hoje em dia, que, tipo, na Ă©poca eu acho que ele nem tinha chegado. EntĂŁo, os meus primeiros amigos aqui foram todos gringos, assim. Tipo, todos. Do mundo inteiro. E aĂ, sĂł que de todos eles, a Ăşnica que eu continuei sendo prĂłxima Ă© uma menina francesa, tipo, que Ă© uma das minhas amigas mais prĂłximas aqui. Mas depois, com o tempo, conforme foi passando, eu fui conhecendo os brasileiros da minha faculdade, e sĂŁo, tipo, sem dĂşvida, sĂŁo os meus amigos mais prĂłximos.
Mas eu tambĂ©m tenho amigos, tipo, essa amiga aqui Ă© francesa, a minha amiga Ă© inglesa tambĂ©m. A relação Ă© muito diferente, sabe? Porque, tipo, com a minha amiga francesa, acho que a gente se conectava muito pelo fato de que a gente tá, as duas, num paĂs novo, tentando criar novas amizades. E a gente conseguiu se dar muito bem. Mas, no caso dessa minha amiga inglesa, ela tá no paĂs dela. A Ăşnica questĂŁo Ă© que ela mandou de cidade.
Mas ela tá no paĂs dela. EntĂŁo, ela Ă© uma outra situação. Tipo, nĂŁo Ă© tudo tĂŁo novo. Ela nĂŁo vai se relacionar contigo em algum extento. Tipo, eu acho que nĂŁo tem a mesma magia, sabe? Nossa, tudo muito novo. Tipo, ela nĂŁo Ă©. É outra cidade. Ponto. É como se eu tivesse, assim, eu sou de SĂŁo Paulo, vou morar no Rio. Tipo, sabe? Eu acho que isso Ă© um negĂłcio que pesa muito, assim, pra gente. Tu tem que, principalmente, porque, assim, eu acho que os meus amigos da escola, eu tenho essa conexĂŁo com eles de anos de amizade, mas, ao mesmo tempo, talvez a gente nĂŁo tenha os mesmos pensamentos e a gente nĂŁo se relacione de certas formas que nem a amizade atual, que tu precisa ter essa conexĂŁo.
Tipo, vocĂŞs precisam ter algo em comum que vocĂŞs vĂŁo clicar, sabe? VocĂŞ tem que gostar das mesmas coisas um pouco, pelo menos. Entendi. Por isso que existe essa facilidade entre brasileiros de se conectar. Porque a gente tá em outro paĂs, tá um com o outro por falar a mesma lĂngua e tá passando as mesmas coisas. E conseguir se expressar mais facilmente. Porque, querendo ou nĂŁo, fazer amizade com um gringo, por mais que seja muito interessante, eles tĂŞm tanto a compartilhar, e, tipo, eu queria ter mais amizade com um gringo, porque eu acho que eles tĂŞm muita soma na minha vida.
Mas Ă© muito difĂcil ter essa barreira linguĂstica e tambĂ©m de, tipo, explorar, sei lá, gringos que nunca se mudaram pro exterior e, Ă s vezes, take it for granted, ou, tipo, que nem eu no meu paĂs, tipo, se eu estivesse em Floripa, eu ia estar vivendo minha rotina de uma outra forma, sabe? Menos aventureira, talvez. EntĂŁo a gente tá aqui, mais ou menos, fora da nossa zona de conforto. E, Ă s vezes, nĂŁo bate, nĂ©, sair com um gringo.
Essa minha amiga inglesa, teve um dia que a gente saiu, tipo assim, a gente tá bem e tal, e aĂ a gente tava conversando e aĂ, assim, eu tinha acabado de me mudar. EntĂŁo eu tava louca pra voltar pro Brasil. Pra mim, tudo do Brasil era melhor. A comida. Ai, que saudade da comida. Saudade da mĂşsica. Saudade da cultura. Nossa, esse clima Ă© horrĂvel. Prefiro o Brasil. Nossa, essa comida Ă© um lixo. Prefiro o Brasil. Tava assim.
E eu tava conversando com ela e eu falei assim, cara, tô com saudade de ir numa feira e tomar um caldo de cana com um pastel. Só que ela não sabe o que é uma feira, o que é um caldo de cana, ou o que é um pastel. E aà eu lembro nesse dia, quando eu tive que explicar pra ela o que era uma feira, o que era um caldo de cana e um pastel, eu pensei assim, cara, eu só queria falar com algum amigo meu que já vai saber do que eu tô falando.
Quando eu falo uma feira, ele já sabe o que é uma feira. Eu não aguentava mais, assim, ter que explicar tudo da cultura. E tem coisas da cultura que às vezes a gente explica e aà a pessoa ficou te olhando com aquela cara tipo assim, cara, como assim? A pessoa não entende. E aà você fica assim, não tem como explicar. Tem coisas que você tem que dizer, sabe? Eu posso até explicar pra ela um lugar que, sei lá, vende verdura e fruta.
Mas não é só isso uma feira, sabe? E eu sinto muito isso também. Pra mim, é mágico quando eu encontro alguém do meu estado ou da minha cidade aqui. Juro, eu fico... Pra mim, abre um portal de fadas que eu posso falar, tipo, caraca, deixa eu ver qual bairro você morava. Você mora aqui em São Paulo? Gente, é mágico quando acontece tipo, aconteceu, sei lá, duas vezes aqui e eu sempre fico, meu Deus, essa pessoa sabe exatamente sobre o que eu estou falando.
Elas conhecem as minhas referências. Eu posso falar o que eu quiser pra essa pessoa. É muito importante a gente ter também essa troca de culturas e se expor a novas culturas, estando no exterior, né? E sair um pouco dessa nossa zona de conforto. Mas querendo ou não, a gente precisa desse conforto brasileiro. Então, o que eu gosto de falar, tipo, pra quem, se eu fosse dar um conselho pra quem tá se mudando, é a tentar achar comunidades brasileiras, porque, cara, brasileiro tem em todo lugar, você vai ver.
Acha que não? Meu Deus, aqui em Vancouver tem mais festa brasileira do que em Florianópolis. Já vou numa roda de pagode domingo, vai ter baile funk mês que vem já, e eu tô nessa, tipo, eu gosto de ver com meu povo, que eu me divisto, que eu posso ser eu mesma, porque eu sinto que eu me expresso de outra forma, em inglês, né? Mas é bom, é bom explorar culturas e também ter isso, assim. Só que existe essa dificuldade que eu sinto que todo mundo passa, né? Agora eu até me sinto melhor.
É, eu também me sinto muito isso. Não, todo mundo passa, é super normal. Eu lembro, tipo, quando eu vim me mudar minha mãe falava assim, não vai ficar só com brasileiro, porque senão você não vai praticar seu inglês, você não vai conhecer gente de fora, tem que conhecer gente do mundo todo. Só que, assim, tem horas que você não aguenta mais falar em inglês, falar em outros. Porque, cara, você só quer olhar a pessoa e, sabe...
Tomar um cafezinho da tarde, assim, com uma brasileirinha. E eu tive uma mini... NĂŁo, uma DR, assim, com uma menina na minha sala uma vez, porque a gente tava fazendo um trabalho e o tĂłpico era saudade, e a gente ia entrevistar os estudantes internacionais da universidade. E aĂ, ela era brasileira, ela era portuguesa. E aĂ ela se assumiu, mas nĂŁo Ă©... Eles sabem... Ah, Ă© portuguĂŞs, Ă© saudade. É que saudade nĂŁo existe em inglĂŞs. Sei lá, tipo...
Não, só existe em português. Só existe em português. Só que ela falou... Eu falei, ah, então eu vou começar a selecionar os estudantes internacionais que tem na nossa faculdade pra entrevistar. Ah, vou ver um mês, você pode entrevistar os portugueses também, porque tá todo mundo fora de casa. Aà eu olhei pra ela e falei, dá quanto tempo a sua casa é daqui? Aà ela, 40 minutos. Só que eu só vou pra casa sexta-feira. E aà eu fiquei olhando pra ela e eu lembro que eu fiquei, caraca, essa menina não tem noção de o que que é você estar a oito horas de avião a oito mil quilômetros da sua casa.
E eu lembro que ela falou... Eu também tô aqui do lado, só tem uma diferença de um oceano inteiro, mas... Ah, depois eu ia ali, ó. Aqui, ó, se eu quisesse a sexta-feira eu ia pro outro lado, pegar um voo. Ah. O pessoal gringo, eles não tem muita noção real do que que é você estar sem poder voltar quando você quer. Tipo, caraca. Não tem noção, não tem noção, é verdade. Eles não tem noção. Eles acham que entendem, mas só quem fala sabe.
É aquilo, tipo, tu só tem full understanding of something e então tem quando você passa por isso. E mesmo que eles falem, beleza, entendo, eles não entendem. Exato. Eu acho que mesmo, tipo, eu tenho alguns amigos aqui que, sei lá, tipo, essa minha amiga é francesa, beleza, ela não vai pra casa todo fim de semana ou, tipo, toda hora, mas quando ela vai é, tipo, sei lá, um voo de, sei lá, quatro horas, tipo, uma coisa assim, sabe? Agora no Spring Break ela voltou pra casa.
E eu nĂŁo. E aĂ toda vez que eu vou falar com os meus amigos aqui, tipo, eles perguntam o que vocĂŞ fez no Spring Break? AĂ eu falo, ah, eu fiquei por aqui. Tipo, eu volto pro Brasil em janeiro. AĂ eles ficam olhando com uma cara, tipo, assim, nossa, como assim? AĂ eu falo, Ă©, meu filho, tá achando o quĂŞ? A gente Ă© fácil pra dar uma passada pra ir pro meu paĂs? Dez horinhas ali, no mĂnimo.
Eles tem muitos desafios morando fora, mas I feel que, tipo, não existe certo ou errado, sabe? É uma jornada muito, muito pessoal e eu acho que a gente tem que, é, a gente aprende muito a se conectar consigo mesmo, se conhecer mais e é sobre se respeitar, não ser tão duro consigo mesmo, né? Porque é tudo muito novo e gera muito estresse na gente, gera muita frustração. É, eu acho que a gente já vai fechando o podcast e eu queria fechar o podcast de hoje com uma pergunta final pra vocês duas, tá? Então eu queria que vocês falassem e dessem um conselho pra quem sonha e quer estudar fora ou tá prestes a morar fora.
Eu acho que o meu conselho seria tipo assim, cara, não volte atrás. Não volte atrás. Tipo assim, é normal você pensar em voltar pra casa. Você não é a única pessoa que tá pensando nisso, tipo assim, não é e assim, dá muita sensação de que todo mundo tá aproveitando mais que você que todo mundo tá vivendo mais que você que todo mundo tá mais feliz mas eu garanto que não se tá todo mundo na mesma que você, porque tipo quando eu sento pra conversar com os meus amigos, todo mundo fala a mesma coisa.
Todo mundo já pensou em voltar mas assim, você tem que aguentar o tranco, sabe? Tipo, tem que passar por isso pra você se acostumar então não volte atrás tipo assim, realmente, só volte atrás de forma sabe, uma situação muito, você já tentou muito e tal, tenta realmente o máximo, porque depois que isso passa, é tipo a melhor sensação do mundo. Tipo, eu não me vejo mais voltando pro Brasil. Tipo, eu realmente sinto que aqui é o meu lugar, sabe? Então não volte atrás e vai dar o seu máximo.
Ai, que linda! E eu quero que tambĂ©m tu descreva em uma palavra se possĂvel, nĂ©? Porque Ă© impossĂvel descrever tudo em uma palavra. Essa tua experiĂŞncia que tá sendo morar fora do teu paĂs em uma palavra! Ai, pra mim Ă© sonho, com certeza. Sonho? Sonho. Linda. Obrigada, Sofia. Lara, dá um conselho pra quem sonha e quer estudar fora, ou tá prestes a estudar fora. Eu acho que Ă© ter paciĂŞncia com vocĂŞ mesmo. Porque, assim como a Sofia falou, o começo Ă© muito, muito difĂcil.
Eu pensei em voltar. Eu pensei em voltar sem brincadeira, cinco vezes por dia. Quando eu voltei pro Brasil a primeira vez, eu nĂŁo queria voltar pra cá. E eu lembro que eu sentei com meus pais e eu tive a conversa tipo, Lara, vocĂŞ realmente tá tĂŁo infeliz quanto vocĂŞ fala e vocĂŞ nĂŁo quer voltar mais? Porque se vocĂŞ nĂŁo quiser voltar mais, vocĂŞ vai ficar? E aĂ eu fiquei, nĂŁo, putz, acho que nĂŁo, acho que sĂł Ă© o perĂodo de adaptação mesmo, nĂ©? E eu sei hoje em dia o quanto eu teria me arrependido se naquele momento eu tivesse falado, tipo, ficado no confortável e falado, tá, eu nĂŁo vou voltar mais, vou ficar aqui.
Porque Ă© um perĂodo muito difĂcil, vocĂŞ sofre muito, mas vocĂŞ tambĂ©m cresce muito. VocĂŞ vive coisas que talvez em dez anos vocĂŞ ia viver aquilo no Brasil. E vocĂŞ tá tendo a chance de evoluir tudo aquilo em um perĂodo muito curto. EntĂŁo, por mais que seja doloroso, depois vale muito a pena. Quando finalmente passa o perĂodo de adaptação e vocĂŞ fica, caraca, aqui Ă© a minha casa, eu posso, eu conheço os lugares, eu conheço os restaurantes, eu tenho amigos, eu saio com as pessoas.
EntĂŁo Ă© muito bom, eu realmente falaria pra vocĂŞ ter paciĂŞncia, tipo, realmente isso que eu sei fazer, falando, todo mundo tá passando pela mesma coisa, que nĂłs trĂŞs, em trĂŞs paĂses diferentes, as trĂŞs tĂŞm as mesmas sensações. EntĂŁo Ă© ter um pouco de paciĂŞncia, tipo, entender, chorar o que vocĂŞ precisa chorar, nĂŁo se sentir culpada em querer voltar e se sentir mal e tal. Porque Ă© uma coisa que todo mundo passa. Mas realmente, nĂŁo desistir, sabe? Exato, nossa, eu concordo 100%.
CertĂssima, certĂssima. EntĂŁo, Lara, descreve em uma palavra como a sua experiĂŞncia de morar fora tem sido atĂ© agora. Eu acho que, em uma palavra, puta, Ă© muito difĂcil. Mas eu acho que Ă© libertador. Liberdade. Linda, muito obrigada. Eu falaria que a minha experiĂŞncia, em uma palavra, se eu fosse descrever, Ă© entrega. Porque eu sinto que eu venho entregando tudo de mim, desde que eu cheguei. E eu acho que Ă© muito importante a gente realmente parar pra pensar o quanto a gente fez pra chegar onde a gente tá hoje.
E o quão orgulhoso a gente tem que estar de si mesmo, de ter tido essa coragem de sair da zona de conforto. Porque são poucas as pessoas que não estão confortáveis no conforto. E é sobre achar esse conforto no desconforto. Quando a gente acha esse sweet spot, a gente tá numa posição onde a gente só vai se ver ingressando mais e mais na vida, sabe? Eu acho que é isso, né? Acho que a gente vai finalizando por aqui.
Queria agradecer vocês duas. Adoro trabalhar com vocês. E tô muito feliz e muito grateful de estar aqui fazendo podcast com vocês duas. Obrigada. Eu amei participar. Eu também amei. Adorei. Então, pra finalizar, fiquem de olho aà no Insta da Golbrasa e no site e nas redes sociais, porque tem sempre eventos novos vindo. Tá chegando aà o Brasa em Casa, que vai ser uma conferência em São Paulo. Não lembro os dias agora. Mas fiquem de olho nas redes sociais.
AlguĂ©m sabe esses dias da Brasa em Casa? Eu acho que Ă© dia 13 de julho. 13 de julho. Lá em SĂŁo Paulo. Pra te conectar com esse teu sonho de morar fora. Independente de que paĂs vocĂŞ esteja, vocĂŞ nĂŁo tá sozinho. Existe muita rede de apoio, muitas comunidades brasileiras. E sempre tem uma solução pra qualquer problema e dificuldade que vocĂŞ estiver passando no exterior. Tá bom? Espero que esse podcast tenha melhorado um pouquinho do seu dia, tenha tirado as suas dĂşvidas.
E a gente vai estar aà também. Segue a gente no Insta. Qual que é o Insta de vocês, guris? O meu é so.rl que aparece mais um código. Mas se você for lá no Instagram da Brasa, deve ter alguma coisa minha lá. E o meu é largolart. L-A-R-A golart com termo no final. Eu acho que vou botar isso na descrição do podcast. É mais fácil, né? O meu é arrobaisabelymch. Mas eu vou botar tudo na descrição do podcast.
Gente, muito obrigada por estarem aqui. Muito bom ter vocês aà nos escutando e ter vocês duas aqui comigo também, viu? Vamos encerrar aqui então. Beijocas, gente. Até o próximo podcast. Tchau! Obrigada!