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PODCAST - 25 ABRIL - Testemunhos e Memória Intergeracional - AE Santa Comba Dão - CiDes 9º ano
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PODCAST - 25 ABRIL - Testemunhos e Memória Intergeracional - AE Santa Comba Dão - CiDes 9º ano
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PODCAST - 25 ABRIL - Testemunhos e Memória Intergeracional - AE Santa Comba Dão - CiDes 9º ano
Quis saber quem sou, o que faço aqui Quem me abandonou, de quem me esqueci Perguntei por mim, quis saber de nós Veio do mar, não me atras, tua voz Por reconhecimento político Para tu saberes, havia coisas que se... Dizem que quando foi o festival da canção, o primeiro festival da canção, em 1964 Quando o António Calvário foi ao festival da canção Quando ele acabou de atuar, houve duas pessoas que rebateram o palco com o cartaz A dizer que estávamos num regime ditatorial E aqui ninguém soube nada, porque as câmaras desviaram, os jornais não falaram de nada E era assim, nós não tínhamos consciência absolutamente do que se passava Também não sabíamos se Portugal era ditadura ou se não era Comecei a ter consciência a partir dos meus 15 anos Porque também comecei a conviver com jovens mais velhos Começámos a falar, fazíamos a comunicação entre nós E o conhecimento era boca a boca Eu falava que havia a PIDE, que não podíamos ver certas coisas Ao mesmo tempo já nos reuníamos em casa de uma prima minha Que era a minha prima Zélia, que era a casa do meu tio João Lúcio Onde ouvíamos cantigas de intervenção As cantigas do Zé Cafonso Um dia lembro-me de estarmos todos reunidos a ouvir essas canções E eu até pensei assim, porque é que eu estou aqui a ouvir, tão isolada E com medo de que toda a gente ouvisse essas canções Comecei aí a ter uma espécie de consciência política Onde foi que o 25 de Abril? Eu estava no 7º ano, no meu último ano de polícia, em Coimbra E portanto aí eu durante esse ano já convivi com pessoas Já tinha amigos que me diziam que iam fazer o 7º ano e depois iam fugir para Paris Para não terem que ir à tropa, à Guerra do Ultramar Já tínhamos também consciência de que a Guerra do Ultramar não era a nossa guerra Porque não há nenhum povo que pode colonizar outro Ou pode chegar ao pé de outro povo e dizer aquilo que há de se dizer E pô-los à nossa medida, cada povo tem a sua identidade E têm que crescer por eles próprios Portanto já íamos tendo essa consciência política De maneira que quando foi o 25 de Abril foi muito bom Nós ficámos todos muito contentes Porque era a liberdade que aí vinha Era a liberdade e íamos para a rua O teu avô que vivia perto da sede da PIDE em Coimbra Andava lá a ver se caçava algum PIDE para lhe chegar E nesse dia praticamente não o vi porque andava muito embrenhado Nas suas lutas políticas E pronto, praticamente foi isso Sei como aquilo funcionava de relatos Que li nos jornais e depoimentos de pessoas que foram presas Que todos temos conhecimento de pessoas que eram tiradas de casa A meio da noite e levadas para a PIDE Para serem interrogadas durante dias e dias E posteriormente até serem presas Conhecemos essas pessoas porque as pessoas são conhecidas a nível nacional Mas provavelmente não ia ser assim a trabalhar-se no funcionamento das PIDARIAS As pessoas que estivessem contra o regime ou a perdia E se houvesse conhecimento e poderiam ser os informadores Os informadores de cada terra tinham os seus informadores Os informadores aqui de Santa Conde eram conhecidos Eu não posso falar porque as famílias ainda andam por aí E o distanciamento foi feito há 50 anos E as pessoas que eu estou por exemplo a falar morreram para aí há 20, 30 anos Ainda existem os filhos e os netos e não quero falar disso Mas pronto, era a nossa realidade Havia pessoas que informavam a polícia de segurança E posteriormente eram detidas as pessoas e torturadas Tirando as pessoas públicas que toda a gente sabe que foram presas Primeiramente pessoas do Partido Comunista e do Partido Socialista Tais como Álvaro Cunhado e Mário Soares Há a história do tio do avô Que um dia estava aí numa taverna a confraternizar com amigos E que terá tido uma frase tipo isto tem que ser como em Cuba E o outro dia foi detido Porque esses informadores de hoje estão presentes e fizeram queixa dela E o outro dia foi detido por 48 horas e só foi solto Porque a mulher dele foi interferida com a Dona Marta A Dona Marta era uma das irmãs de Pessoal Azar Que vivia cá em Santa Comba, era pessoa primária E pronto, porque eu também no como não tinha acedentes Lá o soltaram Muitos de cá da terra foi muita gente assalto À procura de uma vida melhor que cá não tinham E muitos até levavam os filhos, assalto, olha Mas foram assalto e fizeram vida e ganharam dinheiro Para fazerem casas, têm boas casas e compravam terrenos, pronto Gostavam de emigrar porque tinham outra vida que cá não arranjavam Como arranjaram no estrangeiro Porque viviam numa ligadura com a Dona Marta E o outro dia foi detido por 48 horas e só foi solto Porque a Dona Marta era uma das irmãs de Pessoal Azar Que vivia cá em Santa Comba, era pessoa primária E pronto, porque eu também não tinha acedentes Lá o soltaram Muitos de cá da terra foi muita gente assalto À procura de uma vida melhor que cá não tinham E pronto, porque eu também não tinha acedentes Porque viviam numa ligadura Onde a mulher não podia expressar nada do seu sentimento Nem pintar-se, nem conduzir, nem votar, nem nada dessas coisas Porque é que não podiam usar, por exemplo, um biquíni cá à praia? Por isso mesmo, por causa da ligadura, do regime Porque não se podiam expor perante os outros homens Ok, qual era a razão das mulheres não poderem ter a profissão que queriam E tinham de ficar em casa? Nesse tempo a mulher não trabalhava Ela podia ser só dona de casa Era fazer a vida de casa e tratar de filhos A mulher não trabalhava Não podiam ser iguais aos homens, porque eles não permitiam isso A mulher estava precisamente há 24 dias Quando se desenvolveu em 25 de abril em Angola Fui para lá no dia 1 de abril de 1974 E nem sabia desconhecer por completo o que se passava Porque nós só soubemos nas notícias Através da onda curta do rádio Que ouvíamos emissora nacional em Portugal Não fazíamos a mínima ideia do que se passava Porque nós continuámos, durante muito tempo, sem saber nada Eu estava numa zona de guerra Que diziam que a guerra tinha acabado Inclusive tive histórias graves e evorcidas Porque eu estava num sítio em que éramos nós e nós e Deus Não havia lá nem um preto, nem um branco Nem nada, um quadrado de arame farpado 100 metros de lado Num lugar chamado Quimaria Tínhamos unicamente uma pista de terra batida ao lado do arame farpado Onde às segundas e às sextas passava uma pequeníssima avioneta Uma DO Que nos ia levar o correio e os ovos e os frescos Que eram muito pouco tonado Uma vez por mês Íamos por aqui fazer proteção aos caminhões civis Isto depois do 25 de Abril e até Novembro quando saímos de lá Por isso mesmo o 25 de Abril Onde eu estava não teve absolutamente nada Nada que eu pudesse notar Antes pelo contrário Quem estava em Holanda, na capital, em Angola Não tinha noção do que as pessoas estavam a passar no interior Eu estava numa companhia de maderenses Que normalmente essas companhias com os maderenses e os sorianos Eram discriminados e enviados para os sítios mais complicados Nós estivemos lá desde Abril até ao dia 1 de Novembro E para nós não houve 25 de Abril nenhum Antes pelo contrário Houve uma tentativa de entrada Dos guerrilheiros da Senala Da República Democrática do Congo Para Angola E como na altura o regime em Holanda era comandado Por um indivíduo que era conectado com a MPLA Nós tínhamos ordens para não deixar passar ninguém Por isso mesmo nós tivemos mais guerra e mais problemas Com a entrada de guerrilheiros que vinham da Senala Que inclusivamente apanhámos alguns Que com 16, 17 anos Que não sabiam falar uma palavra português Não sabiam o que andavam a fazer Tinham armas absolutamente novas Novinhas em folha E eles assim que nos viam Atiravam as armas para o chão Ajoelhavam-se e ficavam quietos Por isso 25 de Abril para mim Lá em Angola Só ter alguma noção Depois do fim de 74 Quando eu fui empurrado do sítio onde nós estávamos Que éramos só nós Para Mangota Para dois mil e não sei quantos quilómetros de distância Da fronteira do Zaire para a fronteira da África do Sul Para Quimaria Para Sada Bandeira Por nossa conta e risco Nós íamos com as nossas viaturas Com os nossos homens E fomos para Sada Bandeira Em Sada Bandeira tivemos uma vida bastante mais calma Depois daí ainda fui para Moçambique Mas quando nós viemos embora para regressar ao Portugal Em Holanda tive um traumatismo muito grave Traumatismo psicológico Quando lá cheguei vi guerra a sério na Holanda Entre facções, rivais que não tinham nada a ver com a nossa tropa Mas eu fui prestar uma ajuda uma vez a um hospital Em que cheguei e caminhei corredores Em que o sangue estava espalhado pelos corredores adiante De uma luta partecida entre irmãos que não tinham nada a ver conosco Vi milhares de famílias abandonadas no aeroporto A tentarem vir para Portugal E eu estive lá três dias à espera de um avião da Força Aérea para nos trazer E passei o maior trauma que já me vi O 25 de Abril para mim não vivi absolutamente nada Não estava cá, não vi nada Foi terrível o tempo que passei depois dela Enquanto estava na Angola sabia o que estava a passar em Portugal? Não fazia ideia Tínhamos notícias muito contraditórias Sabíamos que havia havido um golpe de Estado Que hoje me tinha mudado Mas inclusive quando cheguei cá em Julho de 75 Fiquei bastante incomodado por ver que o 25 de Abril tinha sido bastante ótimo Não foi por 25 de Abril, atenção Foi por ver que no quartel onde cheguei havia indivíduos com cabelos pelos ombros Mal vestidos, mal fardados e vi que havia uma anarquia total Principalmente depois até o 25 de Novembro foi uma festa Uma festa em que cada um fazia o que queria Quando cheguei para entregar as minhas fardas no quartel vi uma anarquia total E acho que isso, independentemente das situações anteriores Que não era ótimo para ninguém A anarquia não beneficia ninguém E ficou provado isso Que enquanto as coisas não foram ao normal O 25 de Abril, desde o 25 de Abril até Novembro Foi um deixar de andar E se nós continuássemos assim o país desapareceria completamente Na verdade ao tempo era difícil falassem política Porque falava-se no interior uns com os outros Falava-se num programa que existia que era a Voz da Liberdade Que portugueses ouviam na rádio Ou se falava política quanto à situação E onde havia pessoas portuguesas estariam naquela rádio Então nós ouvíamos, eu inclusive na tropa também ouvia a Voz da Liberdade Mas de baixo, com muito baixinho Para que os meus colegas não pudessem ouvir Que eles não podiam ouvir sequer nem falar em política nessa altura Os portugueses não podiam emigrar Segundo diziam só emigravam para as Áfricas Mas para as Áfricas ainda era preciso pedir com carta de chamada E não sei o quê Então isso quase que as mãos podiam emigrar só fugindo Como eu conheci e ajudei alguns ainda a tentar fugir para a França Inclusive seu concelhou francês com um cunhado meu Que levou daqui 10 ou 12 pessoas de Santa Comba Fizemos um adjunto lá em baixo no barro municipal antigo Onde o próprio patrão esteve em mim a casa até meia-noite Mora duas até que se concentrassem as pessoas Para poder fazer o arranque até a França De assalto, claro Era assim que se conseguia fugir, de outra maneira não Isso tudo para fugir à tropa naquela época A França Com medo porque não sabíamos ao certo o que ia acontecer Porque não sabíamos bem o que era a 25 de Abril Houve muita festa, muita alegria Porque foi uma mudança para o país Eu acho que sim, porque mudou o país para, na minha ideia, para melhor Porque antigamente não havia reformas Havia muito mais miséria Não havia trabalho, só os homens é que trabalhavam Os homens trabalhavam para fora no campo E as mulheres iam para o campo com os filhos no braço Jogando-lhes a cabeça E era assim uma miséria O que ocorreu mal Depois da 25 de Abril O que ocorreu mal depois da 25 de Abril Eu acho que o país está mais ou menos Eu acho que está para mim está bem Porque nunca tive melhor Nunca tive reforma Agora temos a reforma Após alguma mudança em trabalho Antigamente tínhamos só a reforma da defesa Porque não dava para nada A vida depois da 25 de Abril Era trabalhar no campo até podermos Até sermos velhinhos Sem poder ainda tínhamos que desgranciar Semiar alguma coisa nos campos Para podermos comer Tudo no campo praticamente Não havia fábricas O maior emprego que havia nesse tempo Eram as obras Os homens iam para as obras ou emigravam para fora Então não havia trabalho Agora falta antigamente Então ainda muito menos Ainda muito mais Éramos amigos uns com os outros Depois éramos convidos Ficou aquilo que se tinha em casa E éramos todos amigos As famílias eram todas muito nombrosas Com muitos filhos Sempre sérias E com muitas dificuldades Porque não havia creches Não havia escolas E as mães eram obrigadas a tratar dos filhos E a trabalhar no campo Enquanto a mulher andava a trabalhar Para trazer dinheiro para casa para os filhos e para a mulher Uma casa de gente madura E uma estátua E uma estátua de febre a arder Ainda não tem Desde a noite de fevereiro uma proposta E não há quem tenha que recorrer E não há quem tenha que recorrer Legendas pela comunidade Amara.org