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WhatsApp-Audio-2025-06-23-at-22.46.55

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Luiza Miranda

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The speaker recalls a time at the university when various faculties were closely connected, organizing festive gatherings. They remember a colleague who turned out to be a spy, leading to increased caution and eventually a movement to close their block as a protest. The conversation shifts to a political context, discussing the turmoil surrounding the presidency of Jango and the military intervention, leading to a sense of fear and uncertainty. The speaker reflects on the complexities of the era, including the involvement of the United States in Brazilian politics. Na esquina, atrás, tinha a Faculdade de Arquitetura, que era um grande centro de movimento estudantil. Aí, seguindo aquela rua ali, tinha a empresa da medicina, que agora acho que já mudou, já era a medicina, o direito lá do outro lado, a biblioteconomia e a engenharia bem na esquina. Continua assim, eu acho, a engenharia. Eu acho que a engenharia continua ali. A arquitetura também continua ali. É, continua ali, né? O que a Mariana faz ali é a piscina. Então, a gente vê que o nosso bloco era um bloco mesmo. Era fácil a comunicação entre nós. A gente tinha, a gente fazia, como é que se diz, encontros que a gente chamava de encontros festivos. A gente fazia festas no campo. Só que assim, a festa era uma festa, mas a gente aproveitava para conversar e trocar ideias e tudo mais. No início, a gente não se deu conta, mas chegou um momento em que vários colegas, vários cursos se deram conta que tinha gente infiltrada. Inclusive, na nossa turma, tinha um que a gente nem imaginava. Ele, por azar, ele era epilético. Ele teve um ataque epilético e nós fomos acudir a ele. E quando nós fomos acudir, a gente descobriu na roupa dele uma carteira do Box. Então, a gente estava esperando uma turma e a festa. Isso. Aí, a gente passou a, como é que eu vou te dizer assim, a dar um filtro nele. Porque tinha que se proteger. Aí, em 65, também teve um movimento grande que foi, nós fechamos aquele bloco. Fechamos. E o exército e a brigada ficaram ali naquela ilha. E o que motivou vocês a fecharam a festa? Para aumentar o movimento. Dentro da universidade? Dentro da universidade. Porque eles estavam nos ameaçando. Se nós saíssemos para a rua, eles iriam para cima. Eu sei disso. Ah, a Marta deve ter ligado lá no chuveiro. O chuveiro não. A gente ia para a rua, só que assim, era muito estranho. Era muito estranho, porque tinha muitas atividades comerciais que davam apoio para nós. A minha saudade do filho, que ainda não tinha aquele viaduto, a minha saudade do filho, e aquele que hoje tem ali, que vai para a Santa Casa, não tinha aquele. Era direto. Subia, saia dali do bolo ali, subia ali a uma pessoa que estava na saudade do filho. Então, a saudade do filho era o ponto. Todo mundo se reunia ali. Todo mundo se reunia. Aí, todo mundo se reunia com o cartaz. E ali que se davam as repressões. Tinha os caras a cavalo em cima da gente. Enfim, a gente começou a se organizar melhor daí. E aí tinha dois ou três bares que a gente frequentava na saudade do filho, que os caras nos davam apoio. Quando a polícia vinha aí por cima, eles abriam. Que fechava a terceira, a segunda, a última. Voava tudo. Não era só nós. Tinha gente, como em todo movimento, tinha gente que era mais agressiva. Nós, não. O negócio nosso era... Era ir protestar, com faixa, coisa. Agora, você tem que saber, porque não sei se acontece nessa ocasião, tem aqueles que são os mais agressivos, que jogam tijolo, que fazem... Enfim. Aí os caras tudo fechavam os estabelecimentos todos ali. Só que tinha dois ou três bares ali que não davam cobertura. Quando a polícia vinha, eles abriam, a gente ia trazer e eles fechavam. E a gente ficava lá até... Até passar o ano. Passar o ano. E voltando, voltando, saindo pra casa. Antes de seguir, deixa eu voltar um pouquinho. Olha aí, a engenheira falando de... Tô numa diva analista. Quando você teve o primeiro contato lá em 64 com o grupo, o que que você sentiu na época? Você lembra? Tudo isso. O grupo... O grupo musical, acho, fecharam... Assim, não. Assim, a gente ficou... Porque ninguém esperava aquilo, não foi uma coisa... Até porque na época, assim, eu tava saindo do ensino médio. No colégio particular. Então, não tinha, assim, de freiras. Diria, assim, altamente direitistas. Então, a gente não tinha muito acesso a informações do que tava acontecendo, assim, aqui no Brasil. E nem em casa se falava? Não, meu pai falava bastante. Meu pai era um cara... Ele era advogado e ele era um cara que ele se... Ele tava sempre por dentro... Dos notícias. Dos notícias. Minha mãe era professora, mas professora primária. Então, ali, com as crianças, não tinha muito... Mas, assim, a gente se surpreendeu com aquilo. Até por... De uma maneira geral, a gente até ficou com medo. Porque eu nunca tinha visto tanque na rua. E coisa assim. Ali, eles vieram... Justamente, eles cresceram de São Paulo pra cá. Várias divisões de tanque, de coisas assim. Eu me lembro de acordar, assim, eu dormia na sala, na casa onde a gente tinha ficado lá. E acordar com aquele... Sabe aquele... Onde o tanque... Que é o filme mesmo. É? Será que tá acontecendo aqui? Aí, abrindo a janela da sala, um monte de tanque passando. Dizemos, que coisa mais estranha isso. Essa hora, alta, madrugada. Aquele tanque passando. E, logo em seguida, alguém lá da cidade. Eu não me lembro. Agora que são 60 anos. Alguém disse, olha, tá acontecendo uma coisa séria. Fecharam a fronteira. Foi alguma dor de desespero? Não, desespero não. Mas a gente ficou naquela. Mas, o que será que tá acontecendo? Procuramos em rádio. Porque naquela época era o que tinha. As notícias eram bem desencontradas. Que tava tudo enviado. Mas, aí, ficaram lá, né? A gente não sabia o que estava acontecendo. Na verdade, depois que passou aquele tanque. A gente sabia que não podia sair de lá. Porque a gente tinha ido de carro. E tinha que ficar lá. Pra ter abrido. A gente se ajeitou lá. Como não podia ir lá. Passar os dias lá. Tinha que lavar a roupa. Todo dia. Porque a gente ia levar meia dúzia de coisa. Pra ficar dois dias, uma semana. Mas, assim, a gente ficava esperando. Cuidando no rádio. Aí, quando a gente soube que estavam deixando passar. Vamos voltar pra casa, né? Até porque, naquela época, não tinha internet. Não tinha nada. E a família de todo mundo ali. Estavam preocupadas. Porque nós estávamos em um outro lugar, fechado. E sem notícia nenhuma. E por que que fecharam a fronteira? Porque aqui tinha o Grisola, né? E aí, o Grisola tinha... O Grisola tinha... Como é que se diz? Ele tinha prometido que ele não ia deixar. Tirar o Jando da presidência. Então, ele fechou. Ele não. Os militares fecharam. E ele se... Como é que se diz? Se embarricou ali no palácio. Daqui ninguém sai. Daqui ninguém sai e ninguém tira. Então, foi uma situação bem... Eu me lembro que quando eu cheguei. Quando a gente conseguiu voltar. Tava bem complicado. Meu pai disse, olha, eu não tô saindo. Porque tem havido muitos manifestos na rua. Ele trabalhava ali no centro. Ele disse, eu não vou me expor. As aulas tinham sido suspensas. Minha mãe tava em casa. E aí, a gente ficava em casa. E eu achei estranho. Que a gente morava ali no... No edifício aqui. E aí, tinha milico na porta. E tinha metralhadora em cima do telhado. Lá em cima. No décimo... 22, né? Metralhadora. Na L, em cima. Botaram lá em cima do telhado. Loucura. Total. Aí, tá. A gente ficou ali, naquilo ali. Ficamos naquela situação ali. Depois foi... Meio que se acalmando um pouco. O ambiente ali. Só que... Ele ficou um tempo depois. Ele teve que fugir, né? Ele teve que fugir. Ele teve que pegar ele. Com certeza que... Isso era certo, né? O Jango mesmo veio pra cá. E daqui ele foi pro Uruguai, né? Ele veio fugido. Ele foi pro Uruguai. Ele ficou. Ele vai pra vida dele. Porque ele não podia... Ele não podia voltar. Ele teve que voltar, porque os caras... Tinha pessoas de 60. Eu sou de 63. Dois anos de idade. Um ano, dois. Foi o primeiro movimento que era na tua casa. A minha mãe contava. A minha mãe... Nunca ninguém falou nada na minha família. Nem na escola. Não soubesse. Mas elas não entendiam direito. O que estava acontecendo. E tinha muita aquela coisa. Se tu falasse, era que tu era comunista. Então tinha muita gente que era percebida como comunista só por ter uma opinião diferente. Até hoje, assim. Na verdade, o contexto disso aí, o início disso aí, pra gente entender... Hoje eu entendo isso aí. Na época eu não entendi isso aí. Essa resolução aqui, entre aspas, que não foi uma resolução propriamente militar, foi uma resolução cívico-militar. Ela foi, na verdade, tramada pelos civis. Pelos governadores de Minas, São Paulo e... Não me lembro qual é o terceiro agora. Enfim. Foi tramada por eles. Claro que eles sozinhos não poderiam fazer esse tipo de coisa de derrubar o Congresso. Uma série de coisas. Então eles trataram de se ajeitar com relíquio. Porque isso aí foi tudo tramado pelos Estados Unidos. Não foi um movimento... Não foi uma ideia brasileira. Não foi nem ideia brasileira. Na verdade, existia a situação assim. Nós estávamos em plena Guerra Fria. Então, quando o Jango foi... Porque naquele tempo se podia eleger um presidente de cada partido. Então eles eram separados. Voltava-se o presidente e voltava-se o vice. Aí votaram no... Voltaram no Jânio e votaram no Jango. O Jânio Quadros e o Jango, o João Goulart. Um era do PTB e o outro... O Andamassor. O Andamassor. Ele diz... A frase dele é que ele ia limpar o país. Então, o nome dele era que ia varrer todo o sujeiro e aí os caras mandaram ele pra cima. Era uma vassoura. Esse e o Jânio Quadros. Jânio Quadros. Jânio Quadros foi eleito, tomou posse, junto com o Jango. Só que chegou um determinado momento que ele disse que tinha forças ocultas que estavam procurando e que ele ia abdicar. Abdicar não, porque ele não era rei. Ele ia renunciar. Ele voltava-se o presidente e ele era separado. Não formava uma... Não era chata. Era separado. Por isso que a maioria do povo votou no Jânio, na história da vassourinha, que todo mundo achava que ia resolver. E no Jango, porque queriam votar em um cara de esquerdo. Aí os dois tomaram posse. Só que aí, como o Jânio renunciou, o Jango tinha que assumir. Aí o que eles fizeram? Primeiro movimento aqui no Rio Grande do Sul, o Grisola também, fazendo isso aí. Foi o tal de... A legalidade. Não queriam deixar o Jango assumir. Então... Porque daí assumiam de esquerda. Aí fizeram... Fizeram uns conchados lá... E aí o Jânio... Ela é amagada em dois minutos. O Jânio. O Jânio da vassoura e o Jango era o vice dele na escala de outro partido, ligado à esquerda, e diziam que iam disparar o comunismo. Aí o Jânio renunciou. Por quê? Ele disse que tinha forças ocultas, que nunca ninguém foi procurado por forças ocultas. Prometeu alguma coisa pra ele? Ele simplesmente... Um dia pra noite. Foi uma notícia. Aí eu estava ainda assistindo o Médio e lembro que... Ah, o Jânio renunciou, não sei o quê, não sei o quê... Tá, ele ficou naquele clima meio... Aquele ambiente, assim... Tá, bom. Aí o Jânio tinha que assumir. Só que aí eles começaram... O Congresso começou a criar picuinhos. Ele não podia assumir, pra que Deus... Aí o Brizola, que... Era governador? É, o Brizola, que era cunhado dele, e era do CTB também, e era governador aqui, ele resolveu fazer o trabalho da legalidade. Tomou a Rádio Guaíba e instituiu a Rádio da Legalidade. Fazendo um movimento contrário a não deixar o Jânio assumir. Ou seja, apoiando ele assumir o cargo... Legítimo dele, que ele foi eleito pelo povo e tinha que assumir. Sim, e naturalmente, se o presidente não assumiu ou renunciou, assumiu. Então aí, tá, aí eles começaram assim... Bom, pra ele assumir, então nós vamos criar um sistema presidencialista. Tá? Fala a minha vontade. Aí quem foi o eleito primeiro-ministro? Foi o... Quem que morreu primeiro-presidente depois da... O Tancredo Nunes. Ele era o primeiro-parlamentar. Ele era o primeiro-parlamentar. Aí o Jânio assumiu. Mas ele não era... O regime não era mais presidencialista. Tinha um primeiro-ministro. Ele era presidente, mas tinha um primeiro-ministro. Essa história tá sendo boa pra mim. Se o desafio tiver, se não sei o que acontece na história. Mas como é que é começar a... Você estuda isso em história mesmo? Na prática, a gente curte falar isso. Eu não sei. Agora, tu pode dizer como é que era o ensino disso aí na história? Quando eu era criança? Não, eu digo quando tu já tava dando aula. Ah, é uma coisa que eu não me lembro. Eu tive um ensino médio um pouquinho depois de ti e era bem superficial, assim, sabe? Eu lembro muito bem da questão do Batorinha. Mas toda essa movimentação do regime parlamentar eu não lembro de tudo. Eu não lembro de tudo, na verdade. Por exemplo, agora que eu tava velha. Eu sou bem superficial, assim. É, eu acredito que ainda continua. Não sei como é que tá agora, mas eu acredito que continua ainda. Na verdade, ninguém vai a fundo na coisa. Por que que aconteceu isso? Porque realmente existia a Guerra Fria e os Estados Unidos não queriam de maneira nenhuma ter nenhum país na América do Sul eles não se consideram quintal deles até hoje que tivesse algum governo de esquerda. Bom, durante um certo período o Jango governou com o Tancredo sendo o primeiro-ministro até que ele foi convidado pra ir à China. Nossa, os anos se passam e as coisas continuam acontecendo da mesma maneira. Ele assumiu em 62 64, dois anos. Então ele foi pra China. Mas ele foi pra China como um urna pra China pra fazer negócio porque a China nunca foi até hoje a China estava vendo aqui um negócio lá de irã e azul pra lá, agora a China o negócio dela é vender. Quer valer dinheiro? Claro. Cada vez mais? Cada vez mais, o negócio dela não é guerra. A China, há muito tempo que ela abandonou o sistema e voltou pra África. Bom, enfim, vamos voltar lá. Foi pra China. Aí... Valeu. Te amo. Acho que tem um... Quando ele estava na China aí começou o movimento aquele dos governadores e lá no parlamento no congresso não sei o que. Ah, pois é, mas ele vai ele vai voltar da China com os gays, os comunistas. Ele tinha antes de ir, eu esqueci um detalhe aqui que já gravou isso aí antes de ir, ele tinha feito vários pronunciamentos públicos lá no Rio de Janeiro conclamando pra fazer as reformas de base. Que na verdade o que eram as reformas de base? É o que até hoje o Lula tá tentando fazer e a Dilma tentou fazer e sempre dá um... um revoluíço. Que é mexer com a classe dominante. Isso aí, cada vez tenta a mesma história. Se repete assim de forma diferente mas tenta a mesma história. Ele antes de ir tinha feito essas reuniões, e aí eles acharam que ele tinha, machando pra se como dizemos assim, se instruir como é que ele tinha que se instituir no governo comunista do Brasil. Os Estados Unidos os Estados Unidos ameaçou que ia mandar a sexta frota pra cá e mandou pro nosso litoral lá mandou a sexta frota. Que se os militares desses aí não dessem um jeito os Estados Unidos iam invadir aqui. Sempre a mesma história. Nesse angularismo onde não é chamado. Tá. Aí o Jango voltou e não deixaram o avião dele descer lá em Brasília. Ele desceu lá pro Porto Alegre. Só que se ele ficasse aqui em Porto Alegre iam prender ele aqui. Aí o que que ele fez? Ele pegou o mesmo avião que ele tinha vindo e foi pra Antibidão. O Bisola ficou um pouco aqui. Aí quando o inverso começou toda descida lá ia tomar coisa e tal. Isso. A gente ficou lá. Aí ele pegou e também foi pra Uruguai. E o Tancredo? O Tancredo tiraram. Acabaram com tudo. Porque eles fecharam o Congresso. Fechando o Congresso fecha o Parlamento. Aí eles tomaram conta. O Castelo Branco foi eleito presidente. Que era o de direito. Primeiro presidente militar da ditadura. O Castelo Branco em 64 ainda estava tranquilo. Por isso que eu digo em 64 não tinha grandes perturbações porque ele era um cara relativamente tranquilo. Agora em 65 começou o povo começou a ver que estavam acontecendo umas coisas estranhas tipo prisões e coisas assim. E começaram os movimentos. E aí foi quando vocês fecharam lá a Universidade pra ganhar força. Pra fazer um movimento ali. Na verdade a gente ficou dois dias lá. Cercados. Se eu quiser. Aí no fim se fez algumas negociações. Nós abrimos o cesto e eles também. Só que aí começou assim. Sistematicamente tinha manifestações. Que foram progredindo aumentando cada vez mais. Era o Brasil inteiro. A única União Nacional dos Estudantes é que dava as dicas. Só que começou a ver muita prisão. Cada vez que lá em São Paulo estão em buraco. Era terrível. Na USP lá era um centro foco grande ali de movimento contra o governo. Ali perderam o rolo de gente. Aí começaram a surgir os movimentos aqueles clandestinos. A gente nunca participou de nenhum. A gente fazia protesto na rua. Nunca participamos de nenhum. Mas tinha aqui. Basicamente São Paulo e Rio eram bem fortes. O que são os movimentos clandestinos? Os movimentos clandestinos são vários... Como é que eu vou dizer? Os movimentos clandestinos são assim. Quando um determinado grupo estava sendo visado pela polícia eles se entravam na clandestinidade que nem se dizia. Eles se juntavam em determinados lugares. Casos. E ali eles planejavam o que eles iam fazer. A Dilma participou do GR8. Que era um mais agressivo. Eles fizeram mais... Fizeram assaltos. Muitas coisas para conseguir dinheiro. Fizeram sequestros. Sequestraram vários embaixadores. Depois trocaram. Como tinha muita gente presa trocaram os embaixadores. O objetivo era trocar os embaixadores pelos caras que estavam presos. Aí foi muita gente. Tardzélia. Toda essa gente que a gente conhece hoje ainda é velha. Que está ali. Caetano Veloso. Bessanha. Toda essa turma aí. Fora os que eram militantes. Que hoje são. O Zé Disseu. Quem mais? Tem o Palmeiras. Que são os fundadores do PT. Depois... A própria Dilma Rousseff. A própria Dilma. Lembra aquele documentário que a gente viu? Democracia em Vertigem? Lembra que a Petra entrevista a mãe dela e a mãe dela conta que ela e o marido ficaram clandestinos por quase toda a Revolução. E ele imprimia os panfletos e ela distribuía. Então ela participava desse movimento. E eles foram morar numa cidadezinha dentro de um lobo ali perto de um grande centro pra poder viver na clandestinidade. Já fizeram alguns filmes razoáveis sobre isso. Mas eles foram crescendo. Até que... Quando estava... Era o Médici. Mas o Médici é logo depois do castelo? Não, é primeiro o castelo, depois o parente dos grandinos, das tias dos grandinos. Tem sinônimos, cara. Faz uma consulta no oráculo aí porque a ordem eu realmente não sei... Eu sei que... Eu sei que é assim, ó. Em 68 chegou o clímax, a coisa que aí... Eu não lembro se era o Médici ou se era o... O garrafa do Médici ou se era o... Porque teve dois que foram terríveis. O Médici é um deles. O outro não, o castelo branco? É o primeiro. O primeiro é o castelo branco. Eleito para finalizar o mandato do João Goulart, em que o Ferrari já tentou em janeiro de 66. Teve a duração estendida para 15 de março de 67, tendo, portanto, governado por dois anos e 11 meses. Depois do Médici, eleito para suceder o adoecido Costa e Silva. Ah, tá. Costa e Silva. Esse que é o parente do... Começou a catitulação em 65. Não, peraí. Aí o Médici, é o Médici, o AI-5 é o Médici, vê aí se não me engano. É, né? O Médici. Em dezembro de 68, 68. Ele baixou o AI-5. O AI-5 é o seguinte, ninguém mais tinha direito a defesa. Se tu fosse pego... 13 de dezembro de 68, durante o governo de Costa e Silva. É, Costa e Silva. Baixou o AI-5. E aí assim, ó, todos os direitos, os direitos civis foram suspensos. Tu não podia, a gente tinha que sair pra rua sempre com documento, porque se eu fosse pegar sem documento, tá? Mas eles podiam te prender e fazer o que tivessem, não precisava ter motivo. Não precisava ter motivo. Podia ter alguma coisa, podia ter, podia não ter, mas... Tem, não tinha direito de defesa mais. Não, não tinha direito de defesa. Era preso e... É, aí foi a pior época, a época do... do... querido do Bozo, o... coronel Ustra? O coronel Ustra. Que tinha, ele era lá em São Paulo, tinha o boycott, que era... que pegou a Dilma, né? Fizeram horrores ali com eles todos, não só a Dilma, mas com eles todos ali, inclusive esse do filme agora, que o... né? Porque é assim, ó, jornalista era avisado. Porque tinha que escrever só o que eles queriam. Não podia escrever outra coisa. Foi nessa época, assim, ó, que nós, a Maria, eu, a Jane, a gente resolveu recuar um pouco do negócio, porque estava tão perigoso, meu pai mesmo me disse, olha, vocês parem de sair pra rua, porque eu não vou conseguir fazer nada com vocês. Nada. Aí a gente deu uma recuada. E como é que ficou a faculdade de vocês nesse período? Ficou normal. Normalmente. Tinha aula? Tinha aula, a gente ia na aula. O mundo acabou e ainda tinha aula? Sim. Mas... Hoje em dia, qualquer coisinha não tem aula. É, não, mas tinha aula normal. Tanto que eu me formei um ano depois da Jane, né? Porque eu fiquei com uma cadeira pendurada aqui, eu odiava aquela cadeira, e eu não passei. Com o nosso exames final, eu não passei. Daí eu tive que fazer, eu me formei em 70, não em 68 mesmo. A nossa turma era 68. Eu me formaria em 68. Mas, dependendo assim, nunca parou isso. Foi piorando. Foi direto. Depois que começou todo o movimento, só piorou. Foi piorando, piorando, piorando a ponto que chegou em 68, chegou nesse ponto lá do AI-5 e não tinha mais... A gente não sabia, a gente até nem saía muito pra rua, porque tinha problema. E aí, quando teve a formatura, as formaturas a partir de 68, todas elas, se tu tivesse ficha no DOPS, o diploma vinha carimbado. Fichado no DOPS. Tu não tinha direito a conseguir emprego. Só emprego, sim. Informal. Eu tinha uma colega nossa de trabalho, conheci depois no trabalho, que era veterinária, que ela teve que ficar anos trabalhando assim, trabalhando clandestino, vamos dizer assim. Porque ela tinha o carimbo do DOPS. E tu lembra porque que ela tinha passado pelo DOPS? Não. Não sei exatamente. Eu sei que ela participava do movimento estudantil. Acredito que ela até tenha sido presa e solta depois. A Mara, que era parente dos gêmeos lá, ela conseguiu, depois da redemocratização, ela conseguiu, entrou no MEC com pedido de que o diploma dela fosse atualizado sem nada. E depois o dictador terminou assim? Ela terminou em 75. Não? Não. O decreto, o AI-5, foi extinto dia 1º de janeiro de 79. Isso, com o Figueiredo. Nos últimos meses do governo Geiser. É, mas aí entrou o Figueiredo. Aí foi que a listia foi prolongada a listia. Todo mundo queria a listia geral e restrito. O que que é isso? Era a listia que pegava os militares. Não foi assim. Eles queriam a listia e aí eles não queriam. O povo começou a falar a listia, listia, não sei o que. Só que esse esse direito tinha a indicação de todos os segmentos que tinham participado, queriam que fossem os militares responsabilizados por tudo que pior aconteceu. Era geral e restrito. E aí como eles não queriam isso, como não ia passar, aí então eles criaram uma lei que tipo perdoava os dois lados. Tanto o lado dos outros. Ninguém tem culpa de nada. Aí o pessoal voltou pro Brasil. Só passando datas, né, durou até 15 de março de 85. É, até o governo do Tancredo. E depois veio a direta já, veio os movimentos, veio a direta já. E durante todo esse tempo não tinha eleição. Nem pra governadora. E foram em 70. Na primeira faculdade. Na primeira faculdade. E você já torce no teu carimbo do... Não, mas eu me lembro quando eu recebi meu diploma eu levantei ele bem de orelhinho assim pra ver. A gente também, né. Mas é que vocês pararam, não pararam, mas não estavam à frente, né. Não, a gente realmente, porque não tinha segurança nenhuma. Também aí, tu tem certeza que tu quer te expor a isso aí? Porque a gente sabia o que estava acontecendo. Né? Aí eu disse, é, realmente eu acho que isso aí não é futuro. Porque a gente era muito idealista. A gente entrou nesse negócio por idealismo. A nossa geração é a geração do existencialismo. Do João Paulo Sartre e companhia. A gente começou a nossa vida, digamos assim, adulta lendo, né, discutindo existência, esse, aquele, coisa que não fazia antes. Então nós éramos muito idealistas. A gente entrou por ideal na história. Só que assim, chegou um ponto que a gente viu que o nosso ideal Era muito ideal, né. Era muito utópico, vamos dizer assim. E aí, tu sabe, meu pai é um cara de bom senso, né. E eu ouvia bastante ele. Até porque desde criança, sinto-me muito ligado a ele. O ato de estudar, de ler, de saber. Tudo que eu sei na vida, eu comecei com ele. Nossa. Principalmente o negócio de leitura, né. E tu entra na segunda faculdade? 71. Nossa, e se formou, já entrou em outra faculdade? Eu só me formei em janeiro 70, e aí eu fiz um cursinho, porque eu queria fazer medicina e veterinário. É, medicina e veterinário. Medicina e veterinário. É. Os dois. Os dois. Eu fiz ainda em 70, eu fiz vestibular, medicina e veterinário. É que assim, Viti, até quando eu crescer em vestibular, tu podia escolher, eu curso um e eu curso dois. É. De inscrever, eu quero fazer medicina, porque se eu não passar em medicina, minha segunda vai ficar na veterinária. Eu passei nas duas. Mas aí assim, eu fiz vestibular e me formei em 70. Não. Eu fiz as duas. Deixa eu explicar pra ela. Eu me formei em 70. Fiz vestibular pras duas em 70 ainda. Não passei. Aí, fiz cursinho em 70 e fiz vestibular só pra veterinária em 71. Passei direto. Tá. Só que quando eu entrei na veterinária, ainda tinha muita perseguição de gente, muito colega meu, Vito, perseguido lá na UJ, lá no campo. Por quê? Ela é 71? Ela é 71? Sim. E quem perseguia? A polícia. A polícia ali na faculdade? Sim. Entrava a porta dentro? Entrava a porta dentro. Não. Entrava a porta dentro. Fazia inquérito de professor. Naquela época, muito professor foi chamado pra depor e alguns ficaram presos. Mas, assim, lá na veterinária, por exemplo, eu sei que quase depuseram na polícia. Ninguém foi sumido lá. Mas, assim, colegas nossos de outras turmas não da minha turma. De outras turmas mais à frente, também foram presos. Nunca mais apareceram? Nunca mais vi. Não sei se sobreviveram ou não. Até que o Laerte, que é esse rapaz que é conhecido nosso, eu não soube dele por muitos anos. Por saber, agora, há tempos atrás, a Jane me contou que ele tinha vindo pra cá, mas que ele não... Ele tava dentro. Ele foi todos os lados, assim. Por estar pichando? Por estar pichando alguma coisa? Por estar pichando uma parede. Eu sempre, quando eu fiz biologia, eu já tinha ideia. Eu sempre falei que eu queria ser médica. Desde criança. Não sei porque, agora, quando eu me formei no time médio, eu resolvi fazer biologia. Foi só biologia e passei. Só que, depois que eu terminei, eu tinha sempre essa coisa na cabeça. Eu vou fazer outra faculdade. E fiz. Fiz aquele bar. Aí começou em... 71 e me formei em 74. E aí saiu da faculdade. Não, aí eu fiz mestrado. Aí fez aí e aí passou em outra. Não, aí eu fiz mestrado. Aí eu fiz mestrado. Então, é isso aí, gente. Assim, ó. A gente tem que pensar isso aí tudo num contexto que hoje não propriamente pra nós aqui, mas de uma certa forma até está se repetindo com essa história desses Bolsonaro lá nos Estados Unidos e não sei o que. A própria Lava Jato. Era uma coisa que eu na época, vocês se lembram. Vocês já eram mais grandinhos. Eu era. A história talvez não. Tanto de fraude ainda. Talvez. Pois então. Eu não entendia muito bem. Eu até entrei um pouco naquele papo furado da Lava Jato que tinha... Que as indústrias brasileiras estavam fazendo alcatrua. Estavam fazendo corrupção. Não sei o que. Hoje eu sei aqui. Corrupção tem em tudo que é lugar e sempre. Não tem... Agora. Lendo bastante. Tem uma literatura imensa sobre isso aí. Descobri os detalhes da coisa que foi orquestrada pelos Estados Unidos, mais uma vez. Dessa vez pelo lado econômico. Que era assim. Diferente de que provavelmente estamos fazendo agora e isso a história vai contar na sequência. A Odebrecht que era a nossa maior consultora. Ela tinha projetos fantásticos. Porque a engenheira sabe que os projetos eram fantásticos. Obras absurdas. De tamanho e dimensão. E era obra que não caía no dia seguinte. Começou a se expandir, expandir, expandir na África, nos próprios Estados Unidos e não sei o que. E começou a perturbar os queridos lá dos Estados Unidos com a sua consultora de lá. O que eles fizeram? Bolaram um plano. Olha como essa gente é. É... Olha. Bolaram um plano assim. Buscaram aqui no Brasil, claro, eles buscam sempre os Bolsonaro da vida. Ou seja, os caras que o cérebro é desse tamanho mas que o olho é maior que a... Eu não sei o que. Como diria a Brizola, os interesses? Os interesses, né? Então, acharam que era de novo. E a turma dele. Isso até hoje não consigo entender. Não, mas isso aí depois a gente pode um dia... Pode ser pelos anos 2000. Não, aí já foi agora. Estou só te dizendo assim, ó. Eu lembro que eu olhava a realidade assim. Eu via o Debrecha no posto. É... Enfim. Eu já era, eu já sabia que era ele. Buscaram lá um plano espetacular de... Acho que vou ter que pôr mais noinho ali. Um plano espetacular assim, ó. Se nós conseguirmos provar que é o Debrecha... Ah, o Debrecha fez isso também. Também. Mas o Debrecha foi a pior vítima da história, né? Foi a mais... Eu acho que não fiz mais o Debrecha ainda. Acho que fiz isso ainda. Acho que fiz isso ainda. Sim, mas eu acho que fiz isso e fiz isso. Não, não. Não no tamanho. Não no tamanho nem nada. Não como era. Então eles voaram um plano assim, ó. É que acabaram criando um nome dentro do Debrecha ainda. Não, eles prenderam os caras. E aí eles aproveitaram o peso da corrupção. Como o Lula tinha sido presidente naqueles dois mandatos e a Dilma era presidente também, eles acharam que era uma maneira de matar dois coelhos com uma cajada só. Tiram o Debrecha do... do processo econômico mundial. Tiram o Debrecha da Sena. Tiram da Sena. E ainda de Lambuja nós acabamos com o PT no governo. Que já estava pelo terceiro mandato seguido. Ou seja, 12 anos. 12 não, né? O segundo mandato da Dilma, 12 mais o terceiro. Ela não chegou a concluir o mandato. Mas o segundo, né? Ela foi eleita, não foi dois do Lula e um dela? Não, dois e dois. Mas o último dela, ela não terminou. Não terminou. Aí, assim, vê como o troço é uma rede de... Sempre tem a mãozinha do tio Santos no meio da coisa, e sempre pegam uns idiotas, porque pegar um idiota, sem vergonha, é idiota, mas ele é idiota. Bolsonaro, é um cara idiota. E como ele não está tendo vontade de fugir dos Estados Unidos e policializar tanto no Brasil? No Brasil, todo mundo. Todo mundo, sim, mas, tipo, guerra fria... Eu vou falar? O negócio é assim, né? Guerra fria continua, mas não é nada declarado. Mas continua. Olha aqui, está vendo o livrinho que tem aqui? Não é só mais política agora. Esse livro aqui. A terceira guerra fria. A segunda guerra fria. Esse livro ali, gente, mostra exatamente tudo que nós estamos conversando agora aqui. Bom, mas enfim. Daí eles enrabaram a Aldebrecht, mas as outras também. Eu nem vou dormir hoje. Deixa ele dormir. Deixa ele dormir. Vê que ele está quieto. Então, eu vou dizer assim, e aí pegaram o Lula, que ele estava compastuando e não saindo. Aí foi que começou o processo contra ele. E depois que o Temer assumiu, quando deram a rasteira na Dilma... Foi igual o quê? Foi igual o quê? A história já comprovou. Sim, foi igual, claro que foi. Na Dilma, o Temer assumiu e aí o Temer é outro que também trabalhou por baixo junto com toda essa tropa ali. Buscando um idiota para ser candidato em 2018. Eu me lembro até hoje de vocês lá pedindo para Marcos. Dias que, pelo amor de Deus, o pai não votaram e se liberaram. Não adiantou nada, né? Não adiantou nada, mas enfim. Então, assim, aí as coisas ficaram nesse pé, gente. Até que uma alma generosa descobriu ou resolveu botar o pescoço e dar uma bagunça para o Lula. O Lula foi inocentado, pôde concorrer, só que essa peça já tinha sido eleita porque todo mundo era contra a corrupção e ele... Botaram o PT, que era o Haddad que substituiu, porque na hora H era o Lula que ia concorrer. Prenderam ele para ele não concorrer. Aí ele indicou o Haddad. Mas era o PT. Aí o que acontece? Ah, não, não vou votar no PT. PT é roubo, é isso, é aquilo, é aquele outro. Até hoje tem esse negócio, né? Que o PT rouba. O Bolsonaro não rouba. Não roubou. Pouco. Então esse é o país que a gente vive, gente. Ah, é o mundo todo, né? É, mas aqui eu tô falando... É, eu tô falando isso aqui, nós vivemos aqui, né? Agora eu vou contar pra você do outro lado. Eu vou fazer a janta. Tá vendo? Eu vou esquentar. Não, fica aí que eu posso te ser um apoio pra lembrar. Eu entrei de zero com as pessoas da minha universidade. Ah, é? Eu nasci em 63. Eu entrei... Eu esqueci esse detalhe porque eu sou de ouro. Na escola lá, maternal, eu entrei com 5 anos. No 6 eu não tinha idade pra entrar na primeira série que naquele tempo... E eu entrei com 6 anos. 7 anos, eu não tinha 6 anos. Aí eu fiquei mais de um ano. Aí eu entrei na escola. Eu me lembro, assim, de ouvir a mãe. A minha mãe era funcionária pública do Estado. E aí, lembra que ela falava? Ela odiava. Foi bem assim. Ela casou em 1961. E aí tava aquele briguinho. Foi bem na época da legalidade que ela casou. Aí tinha o avô. Ela morava com a madrasta, o padrasto. E esse avô-drasto, ele era bem politizado. Ele veio de uma família bem politizada. Ele foi expulso da faculdade de medicina. Antes disso aí. Não eram vários. Ele foi expulso por manifestar opinião, organizar coisas dentro da universidade. Era direito, né? Ou era medicina? Eu acho que era direito. Porque a mãe dizia que, graças a Deus, ele não tinha se formado. Eu acho que era direito. Era direito? Era direito. E o meu avô ia pros comícios do Brizola e ainda levava o meu pai junto. Não entendia nada, mas achava a coisa mais linda. E a mãe, furiosa, lembra ele que... Não, ela tava se preparando pra casar. E a minha avó morada, ele me levou num lugar que tinha um quartel. E aí, o que que acontecia? As pessoas tinham que mostrar. A Ana me falou. Eles botaram lá em cima, não sei da onde, acho que da igreja. Do lado ali da casa do meu avô. E aí, assim, pra tu entrar na tua casa, tu tinha que mostrar... Documento. Documento. E aí, o que que acontecia com essa história do Brizola? Parou de pagar os funcionários do Estado. Ah, é mesmo. E aí, o Estado começou a desengolar a economia. Quando tem uma guerra, uma coisa vem tudo... Isso no ano 60? Isso. No ano 59, 60. E aí, o que que eles faziam? Eles pagavam com uma prisoleta, que era tipo um vale. E aí, quando tu chegava lá no começo pra tocar aquele vale, aquilo ali era super chique. Uma prisoleta de dez, eles te pagavam cinco. Então, já criou todo um sacozão. Eles vão sempre um jeito. Então, a única coisa que eu ouvia falar é a minha mãe brava, mas ela não estava brava por causa da ditadura. Ela estava brava porque ela estava recebendo embriolete. Então, era a visão deles. E o meu pai, porque ele era do conto. Então, quem era do conto, era quem era. Aí, brigavam, sabe? Eles sem saber se casavam. No meio dessa função, e a mãe dizendo que o vô tinha feito a cabeça dele, que não sei quem, que ela estava sem receber, e que ele tinha que ver esse lado. Resumindo, brigaram, casaram, mas antes brigaram muito por causa da prisoleta. Ela não estava acostumada. Ela tinha ditadura. Ela tinha ditadura. Ela queria usar a arma por causa dela. Aí, eu cresci ouvindo isso. Aí, fui para a escola. Setenta, setenta e um, setenta e dois, setenta e três, setenta e quatro, eu passei por cinco anos. Aí, eu fiz escola. Aí, fiquei na escola setenta e quatro, setenta e cinco, setenta e sete, setenta e oito, saí loja, setenta e nove, saí para o colégio do Jardim. Para o colégio do Jardim. Então, isso pegou um pouco, então. Você não era bebê, guria? Mas, setenta e nove eu não era. Mas, setenta e nove, eu tinha quinze anos. Mas, você não era de alguma coisa? Não, eu não era de alguma coisa, mas nada associado a esse tipo de coisa. Estava acontecendo, já falava de ninguém, sim. Mas, tu ia para a escola tranquilo, mas ninguém falava nada em escola dessas coisas de digitador. Ninguém falava nada. Eu nunca tive a oportunidade de falar alguma coisa. Nessa época, eu insisto, que todo mundo calou a boca. Ninguém falava nada. Dentro da tua casa? Dentro da minha casa, era como se algo estivesse acontecendo. Eu não sei quando a minha mãe se lembrava do vídeo da minha mãe. Mas, era como se nada estivesse acontecendo. E aí, tu vivia em uma realidade paralela, porque voltava para a maioria das pessoas. O que não falava, não existia, né? Sim, não fala, não existe. A maioria das pessoas, ao mesmo tempo que eu cheguei aqui, dizia que tudo tinha sido uma maravilha. Aí, eu disse, maravilha? Aonde? Ah, não, foi uma maravilha. Aqui, não aconteceu nada. Não sei. Provavelmente, não aconteceu. Até hoje, quem andava direitinho não percebe nada. Quem andava direitinho. Eu vou falar também. Aí, fui para a faculdade, só passei na prova de faculdade hoje, mas é assim, né? Ela faz uma prova, ela faz um vestibular voltado para um público que deveria, teoricamente, estar bem vinculado a todos os acontecimentos da sociedade brasileira, do mundo, enfim. Como uma pessoa que vai fazer um vestibular um nível de conhecimento que a pessoa tem que ter para fazer um vestibular. Porque não se fecha o que faz na escola. Sim, uma coisa não conhece outra. E aí, claro, aí surgiram os cursinhos. Uns cursinhos para pessoas juntarmos. Por que você fez o vestibular? Porque tu não... não tinha, sabe? E a prova, assim, que eu me lembro, a prova de história, as coisas que eu acertei, eu não aprendi na escola. Eu aprendi com a mãe. Que ela, ouvindo as histórias, ela contasse, né? E toda essa parte, tudo, essa parte... Mas, quando você prestou o vestibular, era um ano e vinte e dois? Não, era oitenta... Oitenta e dois. Oitenta e dois, eu acho que foi o vestibular. Claro que acabou. Ainda não acabou isso, né? Não. Na faculdade? Um pouco, mas ninguém falava nada. Nem no meu curso? Não, papai. Não. E na prova não foi tão grave nada também, né? Não, na prova do vestibular foi. Já tinha? Já tinha. Sim, porque os cursinhos, que era o professor que tinha os cursinhos, era a minha geração que dava aula. A gente sabia que tinha isso. Professores de história da minha geração, todos eles se formaram dentro daquele debaixo do mal tempo. E aí, naquela época em que a Márcia fez o cursinho, eles já falavam, porque já estavam, né? Mas e a direta já chegou a pegar na faculdade. Não foi a direta, né? Não, a direta já foi um pouco, foi antes de... Eu acho que foi em 85? É, a ditadura terminou formalmente em 85, quando o Farnley assumiu a presidência. É. Sim, porque o Tancredo morreu, né? Sim. E não tinha sido. Morreu, quer dizer, até hoje eu acho que ele foi morrido. A ditadura já é de março de 83 até 1984. É, mas aí quando a Márcia já estava mais grandinha, foi a época que o PT começou a atirando, que a gente ia para os comícios do Olívio Dutra. Em 1967, só semana. Em 1967, só semana. E a gente ia, aí eu ia e carregava. Vamos para o comício do Olívio. Lá na esquina democrática. Não sei. Naquela época, o comício era pacífico, não tinha ninguém jogando bomba, ninguém. Só. Mas ele falava no comício dele sobre a direta real ou não? Sim, sim, sim. Mas na faculdade não tinha nada de movimento? Não me lembro. Não, acho que não tinha. Acho que na universidade não tinha mais nada. Não me lembro. Foi criado assim, a partir de, acho que 69, 70, foi criado um processo de emborrecimento. Carregado. Das pessoas que estavam entrando na escola, naquela faixa etária, a partir de 5 anos, então toda década de 70, praticamente toda, de 80, as pessoas foram emborrecidas. Não tinha estimulado mais leitura. Nada. E foi até hoje. Sabe, até hoje. É, se o governo não é para a gente ter conhecimento é muito mais fácil do que se o governo não é para a gente se instituir, não é? Sim, sim. Aí fica aquela situação assim, tu vai conversar, vai dar uma aula, as pessoas, os criaturas, eles que já fazem 8 anos que não dão mais aula. E eu quero que eles conheçam o que eu acho. O que eu acho. Eles não conseguem entender o que elas falam. Parece assim que é outra região. É, até porque se criou um negócio assim, história não é uma coisa importante, não é uma matéria importante. História, ecografia, isso aí não é uma matéria importante. E nós, na faculdade, eu peguei isso aí no interinário. A gente era obrigado a ir à aula que era organização civil, que era o nome daquela... Organização Social e Política do Brasil. Do Brasil. Eu tinha aula disso. Um horror. A gente ia, eu tinha que ir, mas é um horror. É, claro. Ai, ai. Olha, era de arrepiar. A gente estava arrepiado na aula. Eu e a Jânia, a gente quase cutucava. Mas é engraçado, né? Porque no início da Revolução teve movimento nas universidades. E no final da Revolução, mentimos. Não, mas o problema, sabe qual foi? Como é que se diz a reação? Não sei a palavra certa. Contra qualquer movimento. Foi tão brutal. E não ficaram com medo, né? É. Eu sei por mim. Claro, meu pai influenciou isso aí, porque eu conversei com ele. Até porque, assim, a gente tinha um exemplo. Se vocês querem ver um exemplo idiota. Eu tenho um exemplo. Eu estava com medo de nada porque não tinha... Eu não sabia nem o que estava. Sabe o exemplo do tio, né? Ah, sim. Meu tio era diretor do Instituto de Pesquisa Biológica. Foi fundador e morreu talvez se aposentou, sei lá, como diretor do Instituto. Meu tio nunca se envolveu com política. Ele era médico, pesquisador. E quem influenciava? Hã? Não, porque... Ele era funcionário do Estado? Ele era funcionário do Estado. Mas ele, assim, ele é um cara que tem em ele o trabalho subletado dele. Ele era um cara que é médico, mas ele era sanitarista. Bom, então é assim, é um cara afim de qualquer suspeito. Nunca se meteu em nada. Diretor do Instituto. Um dia, prenderam um cara na rua. Não sei porquê. Isso foi em 66, eu acho. Acho que foi em 66. Um cara, e dentro do bolso do cara tinha o nome do meu tio. Porque ele tinha ido lá no Instituto fazer alguma coisa e tinha o nome dele ali. Quando o cara foi preso, os caras invadiram a casa do meu tio de madrugada, tiraram ele da cama de pijama. Prenderam ele. Quatro. Botaram ele numa cela, sentado no frio lá. Só que naquela época ainda não tinha mais cinco. O meu pai e a minha tia, a minha tia, a mulher dele, chamou o meu pai e só lhe aprenderam muito, eu não sei porquê. Aí o meu pai, junto com a colega dele lá, fizeram um movimento lá. E aí foram falar com o governador, que era o Meneghete, que era amigo do meu tio. Porque ele era uma autoridade, né? Ele era diretor do meu norte, lá no Saúde. Os caras tinham sido no Brasil inteiro. Foram lá e disseram pro governador eu não sei o que está acontecendo, mas prenderam o meu cunhado, assim, assim, assim. O governador chamou o delegado de polícia, o chefe da polícia e perguntou escuta o que aconteceu. Vou saber. Claro, o governador estava chamando. Aí descobriram que tinham prendido o seu fulano lá, com o nome do meu tio, um papelzinho com o nome do meu tio no bolso. Ah, o governador subiu nas paredes. Será que o menino colocou esse papelzinho lá no bolso? Não, acho que ele deve ter, ele deve, devia ter um bom, porque muita gente ia lá e aí perguntavam o nome, quem é o nome. Botou no bolso. Muitas vezes tu bota no bolso uma coisa E ele era a referência? E ele era a referência. Bom, a polícia foi lá, o chefe de polícia foi lá, o meneguete foi lá. Sou o cara, meu tio. O meneguete fez um documento público se desculpando pelo estado, pelo que tinha feito. Só que assim, só que assim, as minhas primas, a Rosane e a Eliane eram pequenas, 66 anos, eram pequenininhas. Elas viram arrastar o pai assim de... De pijama? De pijama. Os outros não viram, mas elas viram. Quer dizer que isso aí ficou na família um negócio assim, claro, a gente sabia que não tinha nada, a gente tinha certeza que não tinha nada. Mas é... É um troço deprimente, né? Pegar uma pessoa já com uma certa idade, pegar, prender desse jeito, botar numa cela gelada, sentada no chão de pijama, e ficar lá sentado. E eles perguntam, mas por que que eu tô aqui? Não responderam. Então você vê por que que as pessoas ó... E outras ficaram e depois se criou bastante essa coisa, né? Essa mentalidade que as pessoas já ficaram cada vez mais duras. É, e aí eles aproveitaram também, assim, na época, na década de 60 até 70, tinha o movimento hippie, né? Eles aproveitaram, os americanos aproveitaram pra fazer propaganda, era música, era filme, era tudo assim. Então a juventude foi, sabe, foi canalizada pra uma, não pra uma coisa mais produtiva, mas uma coisa mais de alegria. Que nem hoje dessa, todo mundo só quer festa. No meio de... De olhar com foco àqueles que precisam. É, e tirando a liberdade você podia sair na rua, em restaurante, essas coisas, e estar tudo bem. Não havia essa bomba todo jornada, como tudo hoje é. É. Mas você podia sair de casa, tipo, não é? Não, podia, mas até até depois, até eu saí e assumi lá, ali, sim, ali, podiam ir nos lugares pra lá. Mas nunca teve um movimento quanto a gente sabia que aquilo ali era uma gebração, né? Porque o governo foi eleito pelo Congresso, não pelo povo. Então, mas você ouviu falar que as pessoas não podiam sair na rua, porque tinha... Pois é, eu ouvi falar, tipo, tinha umas coisas, é... Saísse pra um barzinho, tava ali, tipo, comemorando contra tal coisa, e tu ia ser preso. Se a gente tivesse, fizesse uma batida lá no bar, tu ia preso. Não, não, foi assim a história. E também toca de aneocolisa, também. Não, isso aí só no tempo da... No tempo da ditadura. A gente tinha que ter cuidado. A gente saía, que nem eu disse, a gente se reunia nos bares, umas coisas, mas a gente tinha que ter cuidado. A gente sabia onde a gente ia, inclusive, porque os donos do bar, dos bares, né? Tinha um restaurante lá na Benjamin Constant, ali, na travessa do Benjamin Constant, que era comum a gente ir pra lá. Todo mundo ia pra lá. Mas o cara era... Faixa nossa, né? Qualquer coisa que ele descobrisse, ele... Fechava. Fechava. Se você é preso, assim, numa reunião, no bar, né? Pra tu ser preso, tu tinha já que fazer parte de um determinado grupo. Ele tinha que se juntar pro Rio Valentim. Aí, o que eles faziam? Eles pegavam um, da linha, levavam lá pros coroes da ditadura, que eram os outros, e torturavam aquilo que dava pra ele entregar o dono. Quem é mais que fazia parte do aparelho, né? Os aparelhos eram o lugar dos clandestinos, que eram as pessoas que... Tem bastante livros sobre isso. E eu tive um... se organizado, que acharam que eu conseguia... Tem um livro, em 1978, se vocês... Eu já li. Hã? Eu já li. Você já me deu? Ah, pois é. Aquele livro é... Tu tá com ele? Eu tô com o que tu me deu, moderno, e o teu antigo. Tá comigo os dois. Pode ver? Aquele livro é... bem significativo. Se bem que, assim, tu entende também o mecanismo, agora tem esses livros todos dos filhos do... Do... Jornalista? Rubens Paiva. Rubens Paiva. É uma coisa muito, assim... Eu não cresci a minha família, assim, meu pai e minha mãe traíram. Né? Não tinha acontecido nada, né? Na minha casa falavam que tinha ditadura, que tinha gente morrendo, que tinha gente sumindo, que... Sabe? Não... Até a Copa do Mundo de 70, eu esqueci esse detalhe, foi usada para digamos assim fazer uma cortina de fumaça em cima do que tava acontecendo em 70. A Copa de 70 foi onde? Não foi na Itália? Eu sei que nós ganhamos no Uruguai. Eu fui campeão. Mas é que foi a Copa do Mundo de 70. Pode procurar. Procura, mas eu não lembro agora. Eu me lembro, assim, de ter sido... Tem várias coisas que eles usaram, né? Tinha a outra Brasil, ano e o aldeixo. Era uma coisa que eles vendiam pra botar nos carros, assim, pra dizer, tipo, ano e o aldeixo. Depois teve a questão do ouro. O ouro que era o bem do Brasil. Com essa frase do ano e o aldeixo, a gente vai fazer uma comparação, né? Com o do Bolsonaro. É... Brasil acima de todos. E Deus acima de todos. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. A gente vai fazer uma comparação dessa frase com essa do Bolsonaro. O Bolsonaro é daquela época. Ele participou daquilo lá. Participou daquilo lá. Inclusive naquele famoso atentado lá do Rio Centro, que explodiu a bomba no colo dos caras, né? Tudo bem que eles são tão burros, que geralmente acontecem esses desastres. Eles planejam as coisas, mas não planejam. Foi? Ele foi expulso do exército porque ele foi expulso do exército pra cá, não sei quem lá. Não, é falando da Marina. Mas ele disse que ele participou muito pouco. A única participação que ele teve, que ele contou, que ele fez a escolta de um embaixador preso. Mas ele disse que não saia pra rua, que ele fez uma... Ele falou que nunca fez essa parte, que ele não participou. A única coisa que ele participou foi a escolta de um embaixador, mas que ele vivia mais dentro do quartel. Ele não ia pra rua, ele nem queria isso. Se envolver, né? Ele disse que aproveitou muito tempo, né? Mas nem todo município era favorável. É, ele disse que ele não conheceu muito o pessoal, né? Que ele não gostava de ver todo mundo sendo preso, assim. Porque ele fazia no quartel. Ele saia muito pouco. A única vez é que ele viu um tal de embaixador lá no Cidade Onde, que ele veio, que foi preso, e ele foi lá obrigado a fazer a escolta. Mas, tipo, ter que sair na rua pra aprender, essas coisas que não... Que ele vivia normal, assim. Ele saia do... Quando ele tava aí de plantão, eu não sei, né? Depois ele saia pro bairro, com a minha avó. Mas, tipo assim, ele nunca se envolveu mais. É. Eu saia... Existe uma divisória, né? Entre quem se envolveu e quem não se envolveu. Uhum. E quando eu lhe falo, é que ele saia da ponte, porque o Bolsonaro é um morredão. Porque ele... O meu avô tava na época que ele fez ponte, né? Ele era da Marinha, mas ele saia mais na época que o Bolsonaro fazia as coisas dele. Ele nunca se deu. O Bolsonaro já resolveu. Ele nunca... Esse cara, ele não vale um ovo. Não vale nada. Nem como inimigo, nem como... político, nem como... Muito menos que um presidente. Mas meu avô fala, tipo assim, o foco mesmo, na época, era o jornalismo. O foco mesmo. Ah, sim, jornalismo. Quem era jornalista, quem era, podia sair. Mas quem era que tinha perseguição mesmo com o jornalismo? Ah, tem vários... Tem vários jornalistas aqui que eu vi. Muita gente morreu. Eu vou adivinhar... Eu vou agora... Posso voltar pra esquentar no final. As pessoas vão cair duras aqui comigo.

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