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Entrevista Etnoentomología
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Entrevista Etnoentomología
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Entrevista Etnoentomología
Two researchers, Gabriela and Mariana, discuss their work in the field of ethnomycology, which combines biology and culture. They explain the importance of ants and their roles in ecosystems. They also discuss the common perception of ants, which is often negative, and how this affects their research. They mention the cultural significance of ants throughout history and the use of art to represent and understand them. Overall, the conversation highlights the curiosity and interest in studying ants and their relationship with humans. Aqui ficou muito bem, aqui ficou perfeito, acho que foi uma das melhores palmas que eu já passei nesse parquê, e geralmente eu faço, ai vou fazer de novo, só pra garantir, mas não, dessa vez eu acho que ficou bom, então tá, eu vou, só pra ver se tá gravando bem, só pra garantir, eu vou falar da proposta, desse episódio, falar meu nome, então prevo introduçãozinha, e ai eu já apresento vocês o nome, Mariana e Gabriela, e ai vocês podem se apresentar livremente, é, ah eu sou Gabriela, é bom que vocês mesmos se apresentem pra o pessoal reconhecer a voz da pessoa, né, já que não tem a, o artifício do, da imagem nesse caso, então tá, e ai a ordem também é vocês que decidem, a ordem é a Gabriela primeiro, sem problema, tá, vamos lá, saudações ouvintes, esse é mais um episódio do podcast da tradição do formigueiro, eu sou a Duda, e hoje estou muito feliz em poder falar de um assunto que pra mim é muito curioso, e muito importante, que é a etnominecologia, e pra falar desse assunto, eu trouxe algumas das pesquisadoras, que atuam nessa área, que fazem pesquisas voltadas a etnominecologia, pra explicar um pouco do assunto, como é que faz pesquisa com a etnominecologia, ou com pesquisas que misturam etno com biologia no geral, e são elas, a Gabriela e a Mariana. Obrigada, eu sou Gabriela Castanho, eu sou do México, sou bióloga, por la Universidad Nacional Autônoma de México, e eu estou em um campus da cidade de Querétaro, e aqui nós fazemos pesquisa multidisciplinar, então é um grupo onde temos físicos, matemáticos, químicos, e biólogos, muitos biólogos, e bom, eu gosto muito das formigas, eu trabalho mais com comunidades de formigas, e de fauna do solo em geral, e gosto muito também da relação entre insetos em geral, e formigas em particular, com o arte e a cultura, então eu tenho alguns trabalhos com formigas em contos para crianças, e também alguns estudos sobre as formigas no arte, então gosto muito de ler, e gosto muito do cinema também, e muito obrigada por o convite. Eu que agradeço, eu também adoro cinema, adoro, filmes bons, filmes duvidosos, eu gosto de ver todos, e compartilho esse assunto, trazer um pouco da ciência para outras áreas, é muito legal. Eu sou a Mariana, eu também sou bióloga, doutora em Ecologia Cicada, pela Universidade Federal de Labras, em Minas Gerais, eu me considero uma amante da natureza, uma observadora das formigas, esses seres tão especiais, elas ficam ativas, eu acho que desde a infância, elas têm que ter muito interesse em entender, e conseguir conversar com as pessoas sobre o que eu observo das formigas, e baseado nesse interesse, eu utilizei as formigas como objeto de estudo das minhas pesquisas, para investigar funções ecológicas, relacionadas a elas, e também desenvolvendo trabalhos paralelos, relacionados à educação ambiental, à étnico-cinecologia, que vai estudar essas relações, como eles compreendem os ecossistemas ao seu redor, e como é a relação das pessoas com esses organismos, então é uma aula que me interessa bastante, também atuo na divulgação científica, e tenho um projeto chamado Formigas em Ação, que tem como objetivo popularizar a ciência, e a gente conversar e trocar experiências com as pessoas sobre as formigas. Muito legal, e adoro sempre contar com você Maria, nós temos projetos muito incríveis, e muito captivantes também. Então vamos lá, vamos começar, e eu sempre gosto de começar com, que é meio que uma quebra de paradigmas, de expectativa, quando a gente fala para as pessoas que trabalhamos com as formigas. Você também tem essa impressão que as pessoas nem sempre têm uma visão positiva das formigas, o que vocês acham que tem como senso comum relacionado a esses incêndios? Você parece uma formiguinha, porque é muito trabalhadora, mas também quando eu falo que trabalho com formigas, a primeira questão que faço é, e eu como posso deixar as formigas fora da minha casa? Como elas não devem estar comigo? Então eu falo, eu não sei, eu sei como você pode estar com elas, mas não como pode deixá-las. Mas acho que isso também tem relação, porque as formigas estão sempre muito perto de mim. Então, para bem ou para mal, as formigas são conhecidas por muita gente. Acho que é um dos insetos mais reconhecidos por a gente em general. Se você fala a qualquer pessoa que diga um inseto, ela provavelmente vai falar de suro, formiga, abelha. Acho que são as mais reconhecidas. Então, acho que tem essa parte de bem e de mal, como tudo na vida. Verdade. Primeiro, quando eu falo que eu trabalho com formigas, já gera um susto nas pessoas. Elas fazem auditórias, formigas, mas como é que você trabalha com formigas? Então já gera essa curiosidade, essa estranheza, porque por mais que as formigas sejam tão presentes no nosso dia a dia, como a Gabriela falou, ainda há um distanciamento das pessoas, um reconhecimento da importância desses organismos, quais são as funções psicológicas, quais os papéis que elas possuem na natureza, e até elas entenderem realmente como elas percebem esses organismos, qual é essa relação. A gente também tem essa relação positiva e negativa. Eu acho que mais negativa do que positiva. As pessoas geralmente tocam o marido, fazem cara de nojo, falam, formiga, saco a minha horta, minha doação, roupa na minha cozinha, as sociedade fala que elas são doceiras, mas elas estão presentes na história da propriedade. Desde o início, nas primeiras civilizações, as formigas aparecem em representações, elas estão no nosso cotidiano. Aqui no Brasil, a gente é um dos países com maior biodiversidade de formigas, então eu faço até alguns convites para quem estiver nos ouvindo, parar para pensar assim, quando tem formiga na sua cabeça, é uma coisa impossível. O que tem na sua cabeça? Qualquer imagem, qualquer história, ou algum momento, que aí as pessoas pensaram na minha frente, tem uma formiga aqui, e lembrei dela atacando a minha horta, ou me ficando em alguma situação, ficando com uma situação, ou ferrando, porque as formigas tem aí, algumas, um ferrão. Então, existe uma relação dual, gente, é entre uma relação positiva e uma relação negativa. E é interessante vocês terem falado que todo mundo conhece formigas, porque gostando ou não, elas estão lá, e a gente tem que lidar com elas. E também que há muito tempo, uma coisa que eu paro para pensar, eu não lembro a partir do momento no qual eu conheci as formigas. Tem vários grupos animais, vegetais e tudo mais, que eu vim conhecer na minha formação, quando eu me especializei mais nessa área. Formiga não, formiga eu lembro de ver filme da Pixar sobre formigas, de eu ter brinquedos que remetiam a formigas e outros insetos populares. As pessoas, elas têm roupas com estampas de formigas, então elas estão inseridas no nosso dia a dia, e isso é muito curioso. E aí eu queria questionar vocês, por que será, se existe alguma documentação de por que a nossa espécie se interessa tanto por estudar as formigas? Qual a relação do homem com as formigas? Eu acho que vem muito da questão da diversidade, falando aqui do Recorde Brasil, da diversidade da presença, de ser um animal de fácil visualização. Por mais pequenas que elas sejam, elas são fáceis de serem visualizadas e elas estão no nosso dia a dia. Além disso, as formigas são consideradas insetos sociais, então a gente tem uma tendência em relacionar esse comportamento social com o comportamento humano, que também é social. Características que fazem as formigas serem caracterizadas como insetos sociais. Viver em colônias, sobreposição de gerações, previsão de tarefas reprodutivas, o cuidado com a prole, então a nossa total similaridade com o comportamento humano cria essa curiosidade das pessoas com esses organismos. Então, eu acho que tem essa relação estreita de ver, como a Gabriela comentou, associar as formigas ao trabalho, elas são trabalhadoras, elas são modernizadas, elas se incluem em tarefas, vivem em grupos e nós, irmãs, também vivemos em grupos e fazemos boa parte dessas tarefas. Então, eu acho que essa relação, ela está a pensar assim. Sim, eu acho que você pode ver que elas estão trabalhando, estão fazendo algumas tarefas e também, por serem insetos sociais, elas são muito certas para a gente, para as pessoas. E os mesmos nomes das castas, das formigas, das rainas operárias, têm muita relação com, desde o ponto de vista antropocêntrico. Porque, na verdade, nós chamamos de rainas, mas elas são formigas reprodutoras. Não tem nada a ver com que sejam da realeza, como temos para as pessoas, para os seres humanos. E acho que isso tem, desde muito tempo, aqui no México, na América do Sul, tem representação das primeiras escrituras de mais de mil anos, que já tem formigas. E você, se procura em distintas culturas, como chinesa, qualquer parte, você acha que já tem formigas também. Então, acho que é tudo reconhecido e que é parte da curiosidade do ser humano. Você vê uma formiga que vai caminhando e você quer saber, o que está fazendo ela? O que leva? Então, acho que isso foi representado também muito por as pessoas, desde os inícios da humanidade. Existem vários artigos de civilizações egípcias, gregas, chinesas, que tem em alguns documentos ou desenhos, a arte está aí, acho que a Gabriela vai poder falar melhor, sobre essa associação, a gente usando a arte para poder manifestar como que a gente percebe, representa aquilo que a gente vê, aquilo que a gente compreende. E nessas representações, que a gente usa até em etnoecologia, a gente fala como investigar a percepção ou a representação das pessoas, através de cores, som, aspectos, tanto físicos como psicológicos. Porque nem sempre a gente consegue expressar verbalmente aquilo que a gente vê ou sente. A gente tem que fazer uma aproximação. Então, esses registros de músicas, até do Darwin, no século XIX, durante a sua viagem, ele fazia poupamento das formigas, até fala das formigas caúvas nas florestas tropicais. Então, ali tem um dos primeiros registros desses organismos, desse tipo de documento. Então, a gente consegue, ao longo da história, ver alguns documentos, mas eu costumo dizer que eles ainda são ilusórios, eles são poucos os registros, frente à importância ecológica e cultural desses organismos. A gente tem dificuldades de achar esses trabalhos. Acho que também são tão importantes aqui no México, mas acho que em muitos mitos da América do Sul, as formigas têm muita relação com o descobrimento do milo. É muito interessante. E acho que tem a ver com formigas como o Pogonomirme, que levam sementes. E aqui é um mito da inicio da Pobre do México, nos mexicas, temos o mito de Quetzalcóatl, que seguiu uma formiga para encontrar o milo e dar aos seres humanos. Então, acho que é muito interessante. E tem muitas representações em sítios arqueológicos, onde você pode ver a representação do mito do descobrimento do milo por Quetzalcóatl. Então, acho que é muito importante. Nossa, incrível. Não sabia desse mito, não conhecia. Muito legal. As formigas aqui no Brasil, elas têm uma certa relação religiosa. Tem povos tradicionais, indígenas, que conduzem rituais com ferrão de paraponera. Acho que a Mari poderia explicar um pouco como funciona. E também tem um pouco da cultura pop, da formiga ocupar esse lugar de disciplina, que aí também leva um pouco para o lado religioso também. Sim, a gente tem realmente, associado à cultura dos povos indígenas, dos povos originários, várias tradições e rituais relacionados às formigas. Esse, com certeza, da fornadeira, que é a paraponera, é um dos mais reconhecidos. Eles coletam essa formiga, colocam ela numa luva e fazem parte do ritual de iniciação dos meninos para fazer a luva. E ele vai representar uma aventura, porque as picadas são extremamente doloridas. É uma das picadas mais potentes do mundo. E aí ele tem que ficar com a mão nessa luva e sendo ferroado por essas formigas. Então, é um ritual bem doloroso, mas ele vai representar uma bravura, coragem, fé, apreciar a crença desses povos. E aí, os cavalos que conseguem ficar sempre com essa luva, eles conseguem serem, não sei se é a palavra certa, aceitos para fazer a luva na sua comunidade. Então, é bem legal a gente conseguir identificar essas relações e dar espaço para que esses povos também possam fazer o registro dessas informações na sua língua, que a gente consiga trazer para outras pessoas, outros grupos sociais, como é que diferentes grupos conseguem se relacionar com as formigas. Então, elas estão bem presentes em processos religiosos, na alimentação. Ela é base para que a alimentação comente algumas comunidades. Algumas pessoas talvez já tenham ouvido falar de comer farofa, que altamente protege. Então, a gente tem alguns exemplos associados aos povos indígenas e o respeito que eles têm por eles também. Aqui no México também, tem muitos povos indígenas, mas também isto foi misturado e agora muita gente também consome. Então, aqui a soaba, você come, nós chamamos de chicatana em muitos lados, mas é a ata mexicana aqui no México, da que você mais consome, e tem que ver também com a época de chuvas. Se você tem formigas, você vai ter uma boa temporada de chuvas. Mas também muita gente tem a observação das formigas, porque se você vê que as formigas estão mudando, tem muita atividade, você pode dizer que vai cair uma tormenta. Muita chuva. Trovão? Muita chuva. Então, e também temos muitos nomes toponômicos, nomes de lugares, toponímios de formigas. Tem o nome formiga, mas tem náhuatl, que é asca. Então, aqui no México, temos, nas cidades do México, temos uma alcaldia, uma região que se chama Asca Pozalco, que é o lugar onde tem formigas. E tem uma história muito interessante, porque a torre da igreja tem uma formiga. E eles falam que quando a formiga chega ao sino, onde está o sino, o mundo vai acabar. Mas ela nunca alcança a chegar. E você vê, neste lugar, tem formigas por todos os lados. Porque é o nome. E formigas, principalmente, Pogonomirmes, barbatos. Porque tem muitas, muitas formigas. Elas são muito associadas aos fenômenos naturais, como a previsão de chuva, mudança climática. A coleta mesmo das formigas da Sanajur, ela é feita durante períodos reprodutivos das formigas. A reboada. Eles saem, as crianças participam desses processos. Então, todo mundo na comunidade tem um papel. As crianças brincam, ao mesmo tempo que coletam essas formigas. Depois vai ter o preparo, desce o farofa. E aí eles também falam do comportamento da chuva. Se tiver chuva, vai ter formiga, porque a chuva destruiu os ninhos da Sanajur e elas vão ter que voar. Então, eles fazem uma observação muito interessante dos fenômenos da natureza. E o que faz o nosso tempo agora, de levanta climática. Isso a gente pode tirar de conhecimento das percepções das pessoas sobre as funções que as formigas desempenham. Tanto na previsão de chuva, das suas formigas migrarem de um lugar para outro, por causa de recursos. Então, para a gente olhar a frente, a gente tem que ver para a natureza, que está nos dando respostas. Para a gente estar disposto a observar esses organismos. Infelizmente, eu sinto que a gente está cada vez mais distante desse hábito de se conectar com a natureza. E de parar o que a gente está fazendo para observar. Nem só a formiga, mas observar o que está acontecendo ao nosso redor em termos da natureza. Mesmo de ter esses espaços preservados o suficiente para a gente ver o que os animais passam, o que acontece. Tem muitas formigas que são consideradas tragas porque elas estão em um ambiente urbano. Mas no ambiente natural ela tem uma importância incrível, tremenda, que a gente acaba não sabendo. E achando que ela é limitada a ser uma praga e um incômodo. Porque, na verdade, a gente está cercado desses ambientes, sem mata nenhuma, sem vegetação, sem nada. E aí a gente faz uma monocultura enorme. E aí se questiona e fica chateado que tem uma formiga predando tudo. Mas, bom, a gente fez uma enorme mudança no ambiente natural delas. É natural que elas também causem um desequilíbrio. Então, o que a gente pode considerar como negativo é negativo. Bom, mas a gente tem um grande papel nesse impacto negativo também. Sim, eu acho que há uma desconexão com a natureza. A gente vive cada vez mais esse processo de desconexão, descansamento da natureza. E que eu tenho de causa, de observação. A infância, ela permite muito isso pra gente. Através do brincar. Quando você começou a nossa conversa, eu não lembro da primeira vez que eu fiz um contato com formiga. Possivelmente, pode ter sido lá na infância. De ver um formigueiro, uma filha de formiga. Essa semana, curiosamente, aqui na minha rua, onde eu moro, nós fizemos um canteiro. Com algumas pombinhas, plantas. E, óbvio, surgiram três ninhos, né? Três maneiros ali de aça. E aí, tinha uma criança sentando. E aí eu cheguei lá e ela estava batendo pedra no formigueiro. E aí a gente começa uma intervenção. Óbvio, você está passando pedra, né? Mas também vem esse ato de observação. Como é que você vai passar uma pedra? Se eu for não fazer alguma coisa, lógico que o ato de passar a pedra não é o correto. Mas também faz parte do processo de descobrimento da criança, né? Que cabe a nós ajudar a conduzir e estimular esse processo de curiosidade. O exercício de observação. Eu aceito o desafio da ecologia. Nós somos pesquisadores. Como acertar esse conhecimento e acertar esse conhecimento de forma perfeitosa e com a participação dos envolvidos. E traduzir, né? E condensar, divulgar esse conhecimento para a população. Porque senão a gente só fica conversando dentro da academia e ajudando a perpetuar essa ideia de que as comidas são ruins, são feitas por estraga. Tem estudos que apontam que 1% das comidas pode realmente ser considerada feita por estraga. E aí a gente tem que apontar para as pessoas qual é o papel do exercício. Ela tem tantos tipos de comida que está sendo feita. Ela faz um monte de processos. E as pessoas observam. É só usar o corpo de um animal para fazer essa conversa. Sim, acho que é muito importante isso. Que você possa manter a curiosidade das crianças, mas também dos adultos. E acho que sim. Quando você fala, quando eu escuto você, Mariana ou Maria Eduarda, falar de formigas com tanta paixão, todo mundo fica muito feliz. E você transmite. Então acho que a gente pode entender que as pragas, as formigas como pragas, são por nossa atividade também. Elas são pragas porque nós damos como monocultivos para que elas fiquem só alimentando-se de uma coisa. Então esse é o problema. Se você às vezes aqui as pessoas falam, como posso tirar as formigas do meu jardim? Eu falo, você fale com seus vizinhos e coloque mais plantas, para que as distribuem de muitos lados. Não vá só aos seus árvores. Ou seja, tenha muitos árvores e elas possam comer muitas coisas. E eu agradeço e fico feliz também, Gabriela, que você consegue reconhecer a minha paixão pelas formigas. Eu realmente estou bem emocionada para falar de biologia, para falar de flores de formigas. Eu me envolvo mesmo. Porque é da vontade mesmo de compartilhar com as pessoas a importância delas. Elas são, por exemplo, não negligenciadas. Retomando na questão das pragas aqui no Brasil, a gente tem a agricultura muito forte. E a faúca é vista como um problema para a agricultura, para a monocultura também. Desde o tempo da colonização do nosso país, a gente tem visto em alguns documentos que é falado que o Brasil precisa acabar com a faúca. Se não, a faúca acaba com o Brasil. Já fora de propaganda política no nosso país, de falar assim, esmogra de tamanha. A gente precisa acabar com as formigas. Então, tem toda essa associação, mais uma vez. O comportamento das formigas com as questões políticas, com as questões ambientais. E a gente vai fazendo esse tipo de conexão. Aqui no México também temos problemas. Mas acho que aqui gostamos de comer de tudo. Então, você aproveita. As pragas para consumir, não? Quando tem milo e tem portóteros, grilos, você come os grilos. Então, acho que isso é também importante. Então, as cortadeiras também nós consumimos muito. E é muito caro no comércio. Um prato, se você quer ir a um restaurante, é caro. Porque agora, acho que também está de moda. Então, é um prato exótico e a gente consome. Mas isso também tem problemas para a extração das pobrações de formigas. Ainda, cortadeiras, tem muito. Aqui no campus, onde temos a universidade, em Querétaro, nós começamos a trabalhar e a coletar, durante a temporada de bó, de bó-núrseas, as formigas para fazer tacos. Então, eu preparei muito mais. Depois de que nessa área começaram muita urbanização, agora os ninos são muito pequenos. E nos últimos dois anos, não podemos conseguir nem para um taco as formigas. As pobrações têm baixado muito. Mas, aqui também acontece isso, de ter uma gourmetização, por assim dizer, de ser considerado chique. Aquela saúva-limão, que tem o gosto de limão. Tem um chefe aqui brasileiro, que tem um destes restaurantes com estrela Michelin, mas eu não sei dizer o nome, gente. Claramente, eu não sou o tipo de pessoa que frequenta este lugar. Mas, ele apresenta este prato, super exótico, e coloca uma formiga de saúva-limão, que o nome já é indicativo de que é uma formiga que tem um super gosto de limão. E é chocante, porque realmente tem um gosto muito acentuado de limão. E aí é super caro, é super... Acidente da gastronomia é um ingrediente de alto valor. Tem também este aspecto por aqui. É bem curioso de ver. Desculpa, Mariana. Aqui temos uma outra formiga que também é muito gourmet. Os escamoles. Eu me topo um apiculatum. E você fala que é o caviar mexicano. Eu não sei. Eu gosto mais. Acho que é melhor que o caviar. Tem um outro sabor. Mas tem problemas, porque com a urbanização e também com a extracção, agora você tem meninos muito pobres. E a gente normalmente... É muito caro, mas a gente que faz a produção, eles recebem quase 2% do preço que você consegue no mercado. Então, os intermediários... Você fala intermediários? Eles são quem estão ganhando, mas estão propiciando a extracção sem muito cuidado deste tipo de formiga. Você falou desses escamoles, né? Escamoles, sim. Eu li há pouco tempo um trabalho sobre a extração e justamente investigando a percepção dessa comunidade que faz a extração para poder otimizar o processo e poder distrair. Porque tem uma grande procura, mas tem uma queda dos meninos. E a forma como eles fazem a retirada, para não planificar os meninos, vai poder dizer se vai ter mais meninos na próxima temporada. Não é sustentável. Não vai ser sustentável. Estão fazendo a extração sustentável e aí contribui o conhecimento das pessoas que já fazem esse processo há muitos anos. E aí é um exemplo de um trabalho de etnoecologia que alia o conhecimento tradicional das pessoas à comercialização, tanto de recursos para essas comunidades como para exploração mais sustentável, sem planificar os meninos. Muito legal. Agora a gente poderia partir, senão vou ficar com fome, para as formigas na arte. Porque eu não sou uma grande professora da arte. O que eu conheço é filme de desenhos animados que tem formigas. Mas, tirando isso, acho que eu poderia aprender muito com exemplos de vocês. Bom, sim. Acho que esses filmes de animação têm sido de muita ajuda para que também a gente conheça e tenha mais ideia de alguns aspectos da biologia. Por exemplo, que têm uma associação com emíteros, com ácidos, e se alimentam de secreções doces desses organismos. Mas acho que também as formigas têm muita coisa. Têm filmes clássicos, como Marabunta, dos anos 70, que põem as formigas muito vorazes e muito difíceis. Mas também Buñuel, ele tinha uma relação muito especial com as formigas. Então, ele tinha também, num filme de perro andaluz, também aparece uma mão com formiguinhas. Então, e Dalí tinha também uma relação muito contraditória com as formigas. Ele tinha muito medo, mas estava fascinado por as formigas. Então, ele representava muito em suas pinturas a presença das formigas. E tem um filme muito interessante, que se chama Delirio, que fizeram a Disney, mas com desenhos de Dalí. Acho que não foi muito comercial, mas está muito, muito interessante. Ai, que legal! Eu fui recentemente a uma exposição de Dalí e eu fiquei surpresa que tem muitas esculturas, quadros com várias formigas e tudo mais, e que envolve toda uma simbologia para outras coisas muito profundas, subjetivas que ele está tentando passar e que ele põe a formiga lá como símbolo disso. Muito legal! A gente consegue ver as formigas muito nesses filmes infantis. A gente tem muita coisa na literatura voltada para as crianças, com poesias, com antigas. A própria fábula da cigarra e as formigas é uma das mais conhecidas. E aí tem também a doce Ana Formiga, trabalhadora, a cigarra cantora, então está passando frio enquanto a formiga está trabalhando. E são muito legais essas representações, porque ajuda nessa aproximação mesmo do público com as formigas. O que a gente percebe em muitas dessas representações é que as formigas, às vezes, são representadas com formas humanoides, com características humanas. Então, tem um poema que é do Manuel de Barros, ele tem vários poemas na verdade, ele cita as formigas, é um poeta brasileiro que a gente consegue observar, ele vai falando dessa expressão, esse amor que se tem pelos bichos, e aí ele fala das formigas estarem numa face de boca aberta para estar que o espaço saia na boca delas. E aí a ideia é que elas abraçassem o solo, alguma coisa assim, com os quatro braços. Então, aí a gente vê, falando da boca, nós temos quatro braços, com os quatro braços, na verdade, a gente vai ter três falhas de perna, e aí vai ter essa diferença da personalidade das pessoas, da característica humana, da vida. A gente vê aquelas formigas também, ou vestidas, com uma roupinha, ou o número de membros não corresponde ao real. Mas, mesmo assim, é uma bondade bem interessante de aproximação. Curiosamente, acho que com o Dalí ele tinha, tinha uma relação vivalente com as formigas, porque fala em alguma entrevista que, quando era criança, ele viu um cadáver, um corpo, um cadáver, uma pessoa que havia sido morta na rua, e as formigas estavam chegando, como as formigas fazem, com muitos corpos. Então, para ele, a presença das formigas e em seus quadros, esculturas, ele usava as formigas como uma representação da morte. Assim como em outros lados, utilizam as moscas. E é algo interessante porque, se você fala em formiga, você sempre tem mais associado com trabalho, com organização. Mas aqui também tinha associado com a morte. E é verdade, também as formigas, para entomologia forense, são muito importantes também. Bem lembradas. E isso me fez lembrar também um ponto da Lígia Fagundes, que a Lígia me chamava de formigas, e também vai escrever duas amigas, uma mestra e outra advogada, e que elas acabam adquirindo óculos do quarto que elas estão, e depois vão ver formigas vindo até esses óculos e aí juntando as partes. Então, vai trazendo essa parte de decomposição e, ao mesmo tempo, tem essa coisa religiosa, mística, envolvendo as formigas. E o legal é a gente observar algo nisso. É muito finatista, se isso passava. Qual foi o momento que ele conseguiu capturar? Eu tenho uma amiga, que também se chama Gabriela, Gabriela Bandeira, e no mercado dela, ela investigou as formigas na arte, em quadros, em obras. Então, é um trabalho bem legal de resgate de obras, de pinturas com formigas. E aí ela foi tentando descrever, com formas ecológicas, portanto, as formigas atuando como engenheiras, gato-de-seno e tudo mais. E aí é muito interessante, porque a gente vai vendo ao longo das décadas como que também foi mudando o tipo de representação, como a gente associa com os movimentos artísticos e as expressões do que a gente percebe em outras línguas. Muito legal. Sim, imagino. Eu quero ler. Vou indicar depois, ela ainda não publicou o artigo, mas a situação dela está disponível para a leitura. Ah, legal. Eu pensei agora em a gente passar para a parte das pesquisas. Se vocês estão tudo bem? Eu esqueci alguma coisa? Não, acho que tudo bem. Então, vamos. Nessa segunda parte, eu queria perguntar a vocês, mas como fazer se eu quiser iniciar uma pesquisa na etnomecologia ou nem uma pesquisa, mas atuar um pouco nessa abordagem, se eu quiser desenvolver um projeto com a etnomecologia, investigar um pouco da percepção dos sessores, certas pessoas ou de todas as pessoas, pessoas de um lugar específico, sobre as formigas, o que é que eu preciso fazer, quais são os métodos, os mecanismos para atingir esse objetivo. São, sei lá, entrevistas, eu converso com as pessoas, eu faço uma provocação. O que vocês têm de experiência quanto a isso? Quer começar, Gabriela? Ah, se ela quer começar, Mariana. Posso falar? Eu acho que como qualquer outra pesquisa, vem desse lugar da curiosidade. O padrão que você quer investigar, que comportamento que você tem curiosidade de saber, e eu acho que a gente tem que basear as nossas perguntas na ética. Quando a gente trabalha com pesquisas que vão avaliar o conhecimento profissional e popular das pessoas, a gente não pode abrir mão de princípios éticos. A gente está lidando com a informação pré-histórica, tradições das pessoas. Então, a gente tem que ser muito respeitoso da forma de abordar e investigar esse conhecimento. Então, se for no caso das pesquisas, tem que associar as suas pesquisas, independente da metodologia dela ou não, a um comitê de ética, que vai avaliar se a sua abordagem está sendo adequada ou não. E se você for trabalhar com a população tradicional, é uma coisa que você tem que conversar com o representante e saber o interesse de certas pessoas em querem compartilhar o conhecimento. Então, às vezes, como pesquisador, na nossa ânsia de querer investigar, a gente pode, às vezes, pular em passos importantes. E é muito importante a gente começar a apresentar princípios éticos. O que eu gostaria de saber é que as pessoas estão disponíveis e precisam compartilhar essa informação. Você vai ter que se formar, vai ter um meio de comunicação, através de ativos científicos. Hoje em dia, as redes sociais, elas permitem muito que a gente se comunique melhor com as pessoas. Fica mais fácil do que antigamente. E aí, nessa malandrinha, a gente tem algumas coisas dentro da étnico-ecologia. Isso pode ser através de questionários, entrevistas, através de um representante do grupo que vai conseguir falar, a gente está com outros grupos, a gente chama mestres, a gente chama escola de médicos. Através de uma pessoa, a gente está autorizando o outro. Sim, concordo com Mariana. O principal é que você faça a sua pesquisa com muita ética. Mas também tem diferentes tipos de pesquisa. Se você tem interesse em algum tema, você pode procurar a informação que já tem sobre isso. Então pode arrumar e recopilar toda a informação. Mas se você quer trabalhar com uma população, você é o primeiro que tem que falar com eles. Porque você pode ter muito interesse, mas se eles não têm interesse em falar com eles, a pesquisa terminou. Então isso é muito importante. Você tem que chegar com as pessoas, falar qual é o seu interesse, mas para que pode ser realizado. E sempre retribuir a informação. Tem que voltar sempre para eles. Você pode fazer um artigo científico, mas tem que dar algo para eles. Informações que sejam importantes, que sejam acessíveis para as pessoas da população. Então é muito importante. Então é muito importante. Informações que sejam importantes, que sejam acessíveis para as pessoas da comunidade. E sim, tem muita... pode fazer questionários ou entrevistas, ou agora também pode enviar por questionários virtuais também. Agora tem muitas facilidades. Muito bom que você falou disso, Gabriela, porque é o processo participativo em que as pessoas façam parte daquilo. Elas sentem, afinal de contas, são informações que elas têm e elas estão ali compartilhando com você. Então elas têm que se sentir respeitadas, ouvidas, mas você está muito atenta ao que elas têm a dizer. E com a ideia de que não há o certo e o errado. A gente tem que valorizar os diferentes tipos de conhecimento. Lógico que existem alguns mitos, por exemplo. Ah, o começo viga faz bem para a vista. A gente até então não tem um estudo que corrobore com isso. Então aí a gente ajuda com as informações que eles têm, com as informações científicas, a gente desidentifica algumas coisas. Ainda mais agora, na nossa era dos fake news, notícias falsas, a gente também tem que ter esse cuidado na gestão das informações e dos dados. Então essa devolutiva é muito interessante. E também, Gabriela contou, existe a forma de poder chegar diretamente nas pessoas ou fazer um levantamento do que tem na literatura, do que já foi realizado. Inclusive, atualmente eu estou fazendo uma pesquisa junto com a professora Carol Avilha, que também está dirigida, cheguei à chance, de que a gente está fazendo um levantamento do conhecimento étnico-ecológico. E isso tem outros tipos de sentido. A gente está reunindo as informações que são bem ouvidas, despertas, então é outro tipo de abordagem. É muito bacana. E é muito interessante o Marícia ter comentado isso. É justamente o que eu ia falar. Tem um cautelo, um pouco, de tentar não hierarquizar o conhecimento popular, o conhecimento cultural, o conhecimento ancestral, e colocar o conhecimento científico como a verdade absoluta. Até porque a ciência muda muito. Não existe uma verdade absoluta quando a gente fala de ciência. Não é uma coisa que está errada, e o que as pessoas falam é verdade. Não é passar via, fazer uma abordagem com essas pessoas como um grande conhecido, trazendo o conhecimento para essas pessoas, partindo de uma premissa que o pesquisador sabe e as pessoas que não fazem pesquisa não sabem. É descer um pouco dessa posição que acaba que quando a gente entra na academia e está muito imersa nesse mundo acadêmico, a gente passa a ter esse hábito que é muito interessante, muito bom quebrar, porque até nos liberta de muitas amarras de reconhecer o conhecimento do outro como um conhecimento igualmente válido. E que é muito interessante. Eu acho que a academia poderia ter mais pessoas que sejam despostas a seguir esse caminho também. E ainda a nossa discussão sobre o que é fazer ciência. O que é fazer, e para quem fazer, e com quem fazer ciência. E a gente tem que desidentificar que tem tantos problemas de audiências sociais, com uma falta de informação, informações equivocadas, e a gente vê o importante é o papel da ciência em ajudar a solucionar problemas. Mas, como o professor falou, a gente tem que sair desse pedestal de que a ciência é uma verdade absoluta e lembrar que toda a resposta que a ciência tem é a partir de uma informação. E ela faz, muitas vezes, esse conhecimento tradicional. Essa investigação desses povos, a gente tem na etnoecologia uma área que é bem forte, que é a etnobotânica. Então, conhecimento sobre as plantas. E, como que se identifica? Porque a gente sabe que tem pessoas, a indústria, por exemplo, farmacêutica, vai nas oportunidades, traz informação, não passa todo mês, e a gente aprofunda. E a gente começa a falar de uma coisa que é a aprofundação do conhecimento. E que é muito importante. Ele tem que ter essa parcela ao fazer qualquer tipo de pesquisa. E na étnoecologia é diferente. E a gente tem algumas instituições em que algumas pesquisas, de alguma forma como elas foram feitas, causaram um distanciamento das comunidades. Porque elas falam, ah, a gente tem um pesquisador aqui, quer fazer alguma coisa, eles vão embora e ninguém conta, não vai falar com a gente. Faz essa devolutiva, como a Gabriela falou. O que a gente pode ajudar esse conhecimento a melhorar a vida dessa pessoa? Ou ajuda-lo a se registrar, e não se faz o misto de chegar lá. A gente dá para ajudar a se registrar o conhecimento. Concordo. Estou muito feliz de ter vocês para fora aqui. Acho que melhorou meu dia 100%. Fiquei muito, muito contente. E eu acho que a gente tem. A gente descobriu bastante da importância das famílias. Gente, é impossível num episódio rapidinho a gente falar de tudo que envolve a étnoecologia, assistindo com as pessoas e com essa abordagem. Mas fica aí o gostinho para quem se interessou. Tem toda uma área maravilhosa que pode ser muito bacana de entrar. Eu queria agradecer mais uma vez vocês por terem aceitado, por terem conversado comigo. Adorei o papo. Sempre muito iluminador, me faz refletir, me dá essa vontade de continuar seguindo, vendo que tem tantas pessoas fazendo coisas tão legais, tão apaixonantes como comigo. Muito obrigada por a oportunidade, por escutar, por entender meu mal português, português. Eu gosto de falar espanhol. Dessa forma, porque eu não falo nada. Exatamente. Você foi ótima, foi ótima. Muito obrigada. Foi um prazer compartilhar com Mariana e com você, Maria Eduarda, essa fala tão interessante. Espero que para seus ouvintes também seja muito interessante. Ouvintes e viventes. Eu também agradeço demais como eu disse, é um prazer sempre estar aqui conversando com você e ter essa troca. Olha quando a informação, quando a gente encontra os períodos de tempo a gente conseguiu ver. A Gabriela trouxe informações muito legais que a gente conhecia, da cultura, do México. Eu acho que essa integração é tão rica, a gente poder trocar e abastece os nossos corações. Ajuda a gente a querer seguir e trazer mais gente que não é por mim. Muito obrigada. Muito obrigada. Imagina. Vou parar meu autógrafo. Tenho muito alegria. Para no quadrado preto.