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carta juliano 3

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Juliano Moreira, an Afro-Brazilian doctor and professor, disagrees with the idea that mixed race people are responsible for the degeneration of the Brazilian people. He believes that the real enemies to fight against are alcoholism, syphilis, poor sanitation, and education. He also argues against the belief that tropical climates cause mental illnesses. Moreira aligns himself with modern psychiatric theories and practices, advocating for the humane treatment of patients. He emphasizes the need to continue the fight against scientific racism and discrimination. He ends the letter with a quote about the difficulty of changing customs in modern societies. Presado, Doutor Franz Fanon. Meu nome é Juliano Moreira. Sou afro-brasileiro, nascido em Salvador. Sou médico e fui professor na Universidade Federal da Bahia, onde implantei a disciplina de psiquiatria no Brasil e introduzi a teoria psicanalítica no ensino da medicina. Intenciono compartilhar vivências e inquietações que despertam profundo respeito pelo que você traz em suas produções e elaborações. E quero compartilhar uma das apresentações nas minhas investigações sobre a qual tem minha explícita discordância quanto às atribuições da mestiçagem na degeneração do povo brasileiro, o que seria uma suposta contribuição negativa dos negros na miscigenação. Sempre fui minoria ao divergir dessa premissa. Na luta contra as degenerações nervosas e mentais, sustentei que os inimigos a combater seriam o alcoolismo, as sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais adversas. Defendo que o trabalho de higienização mental dos povos não deveriam ser afetados por ridículos preconceitos de cores ou castas. Outro debate contra o racismo científico comum é que existiriam doenças mentais próprias do clima tropical. E esse foi nesse contexto político e cultural. Me alinhei às correntes que representavam a modernização teórica da psiquiatria e da prática asilar. Quando me filiei à escola de psicopatologia alemã, quando divulguei as obras de Ryan Perlin, ao assumir a direção do Espírito Nacional dos Alienados do Rio de Janeiro, organizei e fiz acontecer a suspensão do uso das camisas de força, bem como a retirada das grádias das janelas e da separação dos adultos das crianças. Engendro nessa missiva uma pequena apresentação do meu trabalho, de minhas indagações e posições críticas no combate ao racismo científico e percebo a urgente continuidade desse debate. Para além das suposições levianas e de indução a discriminações. E coloco aqui uma citação que confronta e me instiga sentimentos. O que havia de mais difícil nas nações antigas era modificar a lei. Nas modernas é modificar os costumes. E para nós a dificuldade real começa onde a antiguidade via terminar. A lei pode destruir a servidão. Mas como fazer para que fazer desaparecer suas marcas? Termino essa breve carta na expectativa de que a mesma o encontre com boa saúde para a continuidade desse diálogo aqui inaugurado. E precisamos nos aquilumbar urgente e epistemicamente. Um abraço e um sorriso negro. Juliano Moreira

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