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entrevista flávia

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Bom, a primeira pergunta que eu queria é se você conseguisse especializar essa trajetória do Mandela como se você estivesse fazendo uma aula mesmo nessa turma. Tá. Primeiro assim, quando a gente trabalha a Mandela, a Cabeçula, a Cartagena, a gente sempre começa trabalhando imperialismo da África. Houve a partilha da África, os países europeus partilharam e fizeram uma exploração, a gente chama de neocolonialismo. Então, a África do Sul foi colônia, inicialmente Holanda, depois a Holanda perdeu o posse para a Inglaterra. Então, foi um território colonizado, explorado pelos ingleses e isso tem tudo a ver com a questão da própria cartagem. Desde que eles iniciaram a colonização, eles já iniciaram com leis racistas e o Mandela é uma pessoa, é um personagem dessa trajetória, de viver num país que era colônia da Inglaterra, que vivia sob essas leis racistas, enfim, de exclusão da população negra dentro da África do Sul e supremacia do inglês, do homem branco ali. Então, ele vive nesse período histórico, ele vive com todas essas lutas aí da sociedade. E ele vai seguir esse caminho aí, é um ativista, então, inicialmente ele não propõe uma luta armada, ele vai trabalhar aí com manifestações, com concentração da população e dentro desse contexto histórico de domínio do inglês, de uma colonização, de domínio de um outro país. O que que insinuou essa colonização dos ingleses, essa exploração deles lá? Uma colonização meio diferente do que a gente conhece aqui no Brasil. Sim, totalmente diferente, por isso que é chamada até neocolonização. O objetivo era outro, então, você tem aí a Ancosta, a Revolução Industrial, uma Inglaterra, não só a Inglaterra, os outros países buscando o que eles chamam de MMM, né, que era a matéria-prima, o mercado consumidor, e aí colocar a sua cultura em cima desse, então, desse africano. Então, foi assim, o contexto, os europeus decidiram essa partilha toda da África, então, em nenhum momento o africano, ele é inserido dentro desse contexto, eles vão explorar a sua mão de obra, então, é mão de obra, matéria-prima e mercado consumidor, vão explorar a matéria-prima africana, a mão de obra africana, para extrair essa matéria-prima e eles levarem para as indústrias europeias. Então, enfim, é esse contexto de exploração e de imposição dessa cultura, dessa cultura europeia, essa era a justificativa dos europeus para explorar a África, de levar a civilização para o selvagem, então, o africano considerado um selvagem, que não é civilizado, e aí o homem branco europeu levando a civilização para ele. Então, é diferente da colonização brasileira, aí tem outros aspectos, aí a gente estaria fazendo um outro Itamarã, não é? Em questão de escola, lá eles, como funcionava mais ou menos isso? Não sei. De uma pesquisa trévia, eu vi que o Nelson me deu esse nome entrando numa escola inglesa, que se chamava outro, e aí... Eu não sabia disso, eu descobri isso realmente pesquisando, que eles davam outros nomes e que realmente a cultura deles era... Você sabe como o modelo entrou, não vou te acertar, foi uma coisa bem natural, talvez isso está errado. Ele é um homem que está vivendo esse tempo, ele está vendo a população, ele era uma pessoa que estava dentro de uma universidade, então, aquela questão, ele faz parte de um grupo que pensa a sociedade, que olha essa sociedade e vai, lógico, fazer as críticas do que está errado nessa sociedade. Então, como ele vai fazer direito, ele é um advogado e vai buscar lutar contra isso. Não sei te falar como ele entrou. Ele está vivendo esse momento e ele precisa, de alguma forma, lutar contra o que está acontecendo. Ele é um homem negro, ele está dentro de um país que está colonizado e que, se a gente for fazer uma pesquisa, as primeiras leis de segregação, as leis racistas, já estão desde 1901. Se a gente levantar aqui, 1901 já começa com leis racistas. Então, ele nasce dentro dessa sociedade, ele está ali. O quanto ele vivenciou isso na pele, de uma forma diferente do africano, que estava no campo, sendo explorado pelo europeu, não sei te falar. Mas é um homem dentro de uma sociedade que vive esse apartado de um tempo todo. Durante a prisão dele, para mim, a vida é difícil encontrar essa pesquisa, como que eles fizeram essa opção? Eles foram 27 anos presos. Não sei te falar também. Acho que eles fizeram a pesquisa. Eu procurei bastante sobre isso. De que forma ele estava... Porque ele continua, mesmo preso, ele continua ativo dentro dessa luta. Agora, que ações ele fazia, não sei te falar. Por que ele se torna presidente? Por quê? Ele sai da prisão, agora ganhando o prêmio Nobel da França. Será que isso tem um significado político? Ele tem toda uma história de ativismo antes da prisão. Ele era uma pessoa já conhecida no meio político pelo seu ativismo mesmo. Não tem como... A gente fala... Às vezes as pessoas falam assim, essa greve é política. Toda greve é política. Toda manifestação é política. Ele era um homem político. Mesmo não tendo um cargo político, ele fazia política. Antes de ele ser preso, ele já vinha com esse trabalho. Ele é um dos grandes líderes do século XX. Acho que quando ele sai da prisão, ele sai dentro desse contexto. Ele sai quando termina o Apartheid. Ele foi uma pessoa que teve uma luta intensa. Tinha um protagonismo muito grande. E quando acaba o Apartheid, acaba o domínio da Inglaterra, sobre a África do Sul. Ele ganha o prêmio Nobel da paz. Então, ele começa a ter um destaque bem maior depois que ele é preso, depois que ele é solto, depois da prisão dele. Então, acho que tudo isso leva a ele simbolizar para a população uma mudança mesmo dessa trajetória. Como que foi esse processo? Fala agora. Terminou o Apartheid quando ele foi da prisão? Nunca termina. Nunca termina. Como aqui no Brasil, também nunca termina a escravidão. O racismo não termina. Ele está aí dentro da sociedade o tempo todo. Aqui no Brasil a gente chama de racismo estrutural. Mas mesmo os países africanos até hoje sofrem, todos eles ainda sofrem com esse processo de neocolonização europeia. Porque depois da Segunda Guerra Mundial, os países conseguem as suas independentes. Então, é um processo aí pós-Segunda Guerra Mundial que a gente considerar em história é um período muito pequeno. Porque em história a gente tem longas durações. Se a gente pegar, por exemplo, até eu peguei aqui... Deixa eu ver se eu peguei ou não. Apartheid. Beleza. Apartheid vai até 1994, mais ou menos, as leis aí. Quando ele sai da prisão é quando acaba um decreto que foi o fim das leis segregacionistas, das leis do Apartheid. É como aqui no Brasil. Ah, teve a abolição da escravidão. Em 1888, a Princesa Isabel assina a Lei Áurea. Acabou esse debidão? Não estava, de um dia para o outro. Como Apartheid também não acabou, nem de um dia para o outro, nem de um ano para o outro. Então, assim, até hoje é uma população que sofre porque ainda há uma minoria branca que se impõe, ainda a maioria negra ainda vive numa situação de pobreza, numa situação ainda de exploração, não tem acesso à questão pública aí de qualidade. Isso você tem. Quando você tem alguns países com guerras internas, por poder político, como é o caso de uma Nigéria, você tem outros países com problemas gravecinhos de fome, de doenças. Você tem no África do Sul com problema grave ainda de racismo, preconceito, como a gente está no Brasil até o dia de hoje. Deixando um pouquinho para o Brasil, a gente pode falar um pouquinho da Apartheid brasileira? Pois é. Eu nunca tinha escutado, não, nunca tinha ouvido o termo Apartheid brasileira e você que me apresentou. Primeiro que em história a gente fala que a gente não pode cometer muitos anacronismos. Anacronismo é a gente pegar um termo, colocar ele fora de um contexto histórico. Mas o que eu tenho entendido, o que eu cheguei a ler, alguns autores falando de Apartheid brasileiro, é o que a gente chama de racismo estrutural. No Brasil a gente usa muito mais o termo racismo estrutural do que Apartheid brasileiro, que é essa situação de que houve uma lei que colocou um fim à escravidão, mas que o processo dentro da sociedade é rindo de raiva. Se a gente for considerar, a gente tem cem anos, um pouquinho mais de cem anos só de fim da escravidão. Hum, legal, não é? Porque depois você tem uma mesma sociedade que agora, após a Lei Aura, passa a ter que viver dentro de um país que não pode ser escravo. Mas você tem a população africana, a população de descendentes dos africanos dentro do Brasil. E como inserir essa população nessa sociedade? Ela estava, até então, parte, ela vivia como escravo, não participando de nenhum processo, nem do processo social, quem dirá o político, e muito menos o econômico. E aí, o sistema ficou outro assim, feliz. E até hoje a gente vive isso, um processo que ainda tem, você precisa de uma política de cotas para poder conseguir inserir o negro dentro da universidade, dentro dos empregos, nas empresas privadas, porque muitas empresas privadas estão começando a colocar cotas para os departamentos, precisam ter funcionários negros. Então, é um país que precisa ainda de leis para inserir uma população, porque não está inserida, porque sofre o tempo todo. A gente nasce dentro de famílias com avós que são racistas, então as crianças são criadas por avós racistas. E aí a gente depois continua tendo governos que também não favorecem. Então, tudo isso continua na sociedade, a gente não consegue romper com esse laço lá de tratados, de como tratar as pessoas, de quais oportunidades as pessoas deveriam ter acesso. Falando de um panorama histórico, e vendo a sociedade nesse que você vê, você acha que a gente caminha para um... A gente tem que estar caminhando para diminuir o racismo. Você acha que a gente caminha para um mundo em que não exista mais isso? Eu não acredito que tenha... Eu gostaria de ser otimista, mas eu tenho visto... Principalmente depois da pandemia, que todo mundo acreditava que após a pandemia teríamos um mundo melhor, as pessoas pensando juntos, a empatia o tempo todo. Infelizmente, a gente vê que é um processo simpático. A gente tem visto cada vez mais essa questão de separação, seja o partido político, seja a agricultura, enfim, ideologias. E cada vez que a gente vai separando, a gente vai ficando mais distante dessa sociedade que tem racismo, tem ideologias radicais, tem divisão do que é certo e errado. Eu não vejo... Eu queria tentar uma sociedade, mas a gente não vê isso. A gente não vê... Talvez há 500 anos? Talvez, não sei. A gente nunca pensa muito logo na frente. Mas há 100 anos a gente tinha um prazão. Então, não vejo. Nem o Brasil e nem em nenhum outro país. Porque a gente tem visto o problema dos países contendo as imigrações. Então, talvez num cenário em que não houvesse fronteiras, em que as pessoas tivessem riscos para ir e voltar, se estabelecerem em qualquer lugar do mundo, talvez não haveria racismo. Mas o que a gente vê é o contrário, crescendo cada vez mais uma direita conservadora, a questão religiosa se infundindo demais, crenças que a gente achava que, em pleno século XXI, não teriam mais. O que a gente vê é o reforço de tudo isso, reforçando cada vez mais. E a sociedade se dividindo cada vez mais.

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